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Universidade de São Paulo
Ocupação na favela São Remo: todo apoio à luta por direito à moradia
Redação

Na última segunda-feira um grupo de moradores da favela São Remo, na Zona Oeste de São Paulo, ocuparam um terreno baldio que já havia sido destinado à moradia mas seguia há anos servindo de depósito de lixo e entulho, entidades e associações da comunidade têm prestado apoio à ocupação desde então.

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Imagem: Ivan Conterno/O Partisano

Como noticiado aqui, o terreno baldio está localizado próximo ao Hospital Universitário da USP e pertence à Universidade. Mesmo estando localizado numa região periférica, na qual muitos moradores estão desempregados e passando dificuldades desde antes da pandemia, o terreno nunca foi alvo de estudo e desenvolvimento de quaisquer projetos sociais por parte da instituição e está abandonado há 30 anos.

Entre 2010 e 2011 o terreno foi cedido para a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), porém desde então nenhuma obra foi realizada no local. Houveram outras tentativas de ocupação pelos moradores, como em 2014, mas foi realizada reintegração de posse. A CDHU alega ter feito estudos na área mas dentro dos 10 anos em que tem a posse do local nunca chegou a nenhuma conclusão, isso porque não há interesse de garantir mais moradias à população da região.

Agora, cerca de 500 pessoas estão ocupando o espaço desde a última sexta-feira, dia 29, e já há ameaça de reintegração de posse pela PM que visita o local e se dirige aos moradores com intimidações desde sábado. A Universidade enviou, através de uma carta assinada por José Antonio Visitin, superintendente de prevenção e proteção, um aviso para que houvesse desocupação, e a reintegração ainda não foi feita apenas porque não foi emitida ordem judicial para tal.

A retirada do auxílio emergencial é um dos motivos colocados pelos ocupantes como agravante da situação de miséria na qual se encontram, responsabilidade direta do governo Bolsonaro que escolhe seguir pagando a dívida pública, garantir suas compras milionárias e negociações com empresas fantasmas ao invés de manter o auxílio emergencial que foi a única fonte de renda de muitas famílias durante a pandemia.

A pandemia, ligada ao aprofundamento da crise econômica, serviu para escancarar o cenário dramático que vive a população brasileira frente ao desemprego, à pobreza extrema, à alta dos alimentos e a uma série de problemas estruturais graves.

Um deles é a questão da moradia, um problema que em regiões rurais se traduz em um conflito entre poderosos latifundiários contra comunidades indígenas e quilombolas, e em regiões urbanas como São Paulo se traduz em um mar de moradias de alto padrão completamente vazias, enchendo os bolsos dos empresários da especulação imobiliária, em conflito com milhares de famílias que não tem direito nem mesmo de morar embaixo da ponte.

Esse conflito também escancara a serviço do que está a USP, cujo reitor foi escolhido a dedo por Doria para precarizar as condições de ensino e pesquisa, além de aprofundar a exploração aos trabalhadores efetivos e terceirizados da Universidade, muitos dos quais são moradores da favela São Remo.

Enquanto Doria surfa em demagogias a respeito da vacina e de um suposto combate à pandemia que nunca foi feito de forma efetiva, trabalhadores terceirizados sofrem ameaças de demissão e funcionários do HU lutam pelo direito à vacina em uma das Universidades Estaduais do estado em que ele governa, ao lado dali, centenas de família em situação de extrema pobreza lutam pelo direito a uma moradia digna. A verdadeira cara do governo de “oposição a Bolsonaro” criado por Doria é a ameaça com represálias aos lutadores do HU que fizeram paralisações e atos para garantir seu direito à vacinação tão amplamente propagandeada pelo governador.

O que está colocado na São Remo é a realidade de famílias que sofreram com o corte do auxílio emergencial, que jogou milhares de famílias de volta à linha da pobreza. São mulheres, negras, mães de família em sua maioria que ergueram a Universidade de São Paulo com o seu suor, mas que precisam encarar esse momento sem poder sequer ter um espaço digno para moradia, sendo que muitas sequer tem o direito garantido para que seus filhos entrem na universidade para estudar, devido ao filtro social que é o vestibular, sentindo o gosto amargo de perceber que os interesses da reitoria não incluem dar qualquer retorno aos trabalhadores terceirizados que não tiveram direito nenhum à quarentena, o que ceifou dezenas de vidas.

O uso feito pela USP do terreno até então é nulo, e vários moradores se queixam do descarte de entulhos, tornando o local foco de baratas e ratos, propagando doenças para a comunidade. Por conta disso e da atual situação econômica, a ocupação é mais do que legítima e também servirá para melhorar as condições sanitárias do local.

Já foram 30 anos nos quais a Universidade não proporcionou qualquer retorno aos trabalhadores que literalmente ergueram os prédios da USP. Na pandemia, além de forçar os terceirizados a trabalharem e negligenciar as medidas de segurança no HU, a reitoria simplesmente abandonou o CRUSP, que se encontra em uma situação extremamente precária, ao mesmo tempo que ofereceu - a preço de banana - a raia olímpica da Universidade para um evento milionário chamado Boat Show que aglomerou mais de 20 mil pessoas, reprimindo os estudantes do CRUSP que se manifestaram contra esse absurdo.

Por todos esses motivos, fica claro que a universidade só vai estar a serviço dos trabalhadores e da população através de conquistas arrancadas na luta pelos próprios trabalhadores em unidade com os estudantes e as comunidades da região. Nesse sentido, essa lógica de unidade precisa se expressar já nesse conflito de moradia.

Várias entidades e organizações políticas já têm auxiliado as famílias da ocupação, como é o caso da Associação de Moradores da São Remo e vários Centros Acadêmicos da USP como o CAELL e o CAPPF. Estão sendo levantados fundos e recolhidas doações para a ocupação. Esta rede de solidariedade e luta é crucial para evitar a reintegração e pressionar por um reconhecimento da legitimidade da ocupação.

É necessário que mais entidades como o DCE e o SINTUSP se somem à essa luta. No caso do DCE essa necessidade se liga a uma ruptura à paralisia que vem desde os primeiros conflitos em relação ao ensino remoto e à questão de permanência colocados no começo da pandemia, postura que se assemelha ao que as centrais sindicais como a CUT tem apresentado nos locais onde dirigem, muitas vezes deixando os trabalhadores isolados em seus processos de luta como é o caso da Ford.

Por isso todas as entidades e organizações que já estão ao lado da ocupação da São Remo precisam exigir dessas entidades representativas que se somem ao conflito, colocando todo o movimento em outra localização para exigir da reitoria um direito mínimo aos trabalhadores que historicamente tiveram que se contentar em entrar pela porta dos fundos da Universidade, sofrendo repressão e batidas.

 
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