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ELEIÇÕES EUA
O que muda para o Brasil a posse de Joe Biden?
Rosa Linh
Estudante de Relações Internacionais na UnB

Internacionalmente, quem mais saiu debilitado da derrota de Trump foi Bolsonaro, que sempre se comportou como um verdadeiro lambe-botas do imperialismo e sua ala mais reacionária. Bolsonaro perde, portanto, seu principal ponto de apoio internacionalmente. A carta de Bolsonaro ao agora presidente dos EUA é simbólica, diante de um cenário de derrotas internacionais para o bolsonarismo.

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O que muda para o Brasil a posse de Joe Biden?

Ontem, 20, tomou posse o mais novo presidente do centro do capitalismo internacional, Joe Biden. Diante de um cenário de crise econômica, e que se alastra desde 2008 com o capitalismo demonstrando uma incapacidade estrutural de voltar aos níveis de crescimento anteriores a esse período, o governo Biden começa com um número de mortos pela COVID-19 maior que a Segunda Guerra Mundial nos EUA. Além disso, após a invasão do Capitólio por bandos trumpistas de extrema-direita, se demonstrou que o trumpismo não foi derrotado enquanto corrente política, mas também que a fúria negra e operária estadunidense do Black Lives Matter é a única que tem capacidade de destruí-lo. Tal verdade é mais clara quando observamos que o Partido Democrata, que abriu caminho para a extrema direita, não tem qualquer função em combater essa corrente. São chefes imperialistas que oprimem os povos do mundo, e em particular para a nossa Ilha de Vera Cruz, apoia o regime do golpe institucional.

É isso que marca a posse de Biden - a queda da hegemonia estadunidense em meio a uma conjuntura internacional que escancarou nos últimos anos a vitalidade da luta de classes, uma época de, como dizia Lênin sobre a época imperialista, de crises, guerras e revoluções. A questão é: como isso tudo se relaciona e impacta as relações internacionais dos EUA com o Brasil?

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A subordinação ao imperialismo continua, mas assume outras formas

Internacionalmente, quem mais saiu debilitado da derrota de Trump foi Bolsonaro, que sempre se comportou como um verdadeiro lambe-botas do imperialismo e sua ala mais reacionária. Bolsonaro perde, portanto, seu principal ponto de apoio internacionalmente. A carta de Bolsonaro ao agora presidente dos EUA é simbólica, diante de um cenário de derrotas internacionais para o bolsonarismo. Há um maior isolamento internacional de Bolsonaro. Internamente, fica mais vulnerável aos atores do regime golpista que lhe opõem limites, e no plano global o obriga a diminuir o tom com desafetos, como a autocracia de Xi Jinping na China.

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Agora, com o governo do conservador e igualmente racista Biden, a subordinação do Brasil aos Estados Unidos continua, mas muda em alguns aspectos fundamentais. Na questão climática, Biden já se pronunciou contra a política bolsonarista de destruição da floresta Amazônica e do Pantanal - mas claro, com interesse exclusivo num maior controle das reservas estratégicas da região, longe de qualquer zelo pelo meio-ambiente. O Democrata deve voltar ao Acordo de Paris, retomar um maior diálogo multilateral com o imperialismo europeu - o que coloca na mira o ministro Ricardo Salles, arquiteto direto das queimadas criminosas do latifúndio no ano passado, e trumpista de primeira hora.

Da mesma forma, também estão na mira o ministro olavista das relações exteriores, Ernesto Araujo, e a anti-aborto e fundamentalista religiosa ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves. Em especial Ernesto Araújo veio sendo desgastado nos últimos dias em função de rusgas com a China, país que fornece os principais insumos para a fabricação da vacina contra a COVID-19 pelo Butantan e pela Fiocruz; também, foi chamuscado pela vergonha do cancelamento pela Índia do envio de 2 milhões de doses da vacina da Oxford/AstraZeneca. Bolsonaro os tem como prediletos, mas não seria de se surpreender que Biden pedisse a cabeça desses ministros para disciplinar o governo brasileiro a seus interesses.

Bolsonaro se colocava internacionalmente como um subordinado direto de Trump - agora, com Biden, por tratar-se de alas distintas da burguesia imperialista, Bolsonaro se encontra mais debilitado. A subordinação ao imperialismo continua, contudo, com pontos fundamentais em comum também, como na Venezuela, em que junto à Biden o governo brasileiro considera Guaidó o “verdadeiro presidente”. Diante dos profundos laços econômicos entre os dois países, o mais provável é que Bolsonaro se discipline ao mandato imperialista de Biden, como fez questão de mostrar na carta de felicitação enviada ao novo presidente. Mas isso não garante ausência de disputas e conflitos que podem prejudicar o curso político do Planalto.

Outro plano de contenda é a relação com a China, que disputa com os EUA a extração dos recursos da América Latina. Sem Trump, Bolsonaro terá de falar manso com Pequim, e buscar recompor desesperadamente os elos que desgastou. Mas Biden, mesmo modificando a abordagem trumpista e aderindo à linha de "competição-cooperação" com a China, defende a mesma linha estratégica de Trump: bloquear a ascensão da China como potência. Não aceitará a entrada da Huawei e demais instrumentos de influência chinesa no subcontinente. O governo, provavelmente, terá mais dificuldade do que na era Trump de equilibrar esses objetivos e caminhar "na linha do meio" entre Washington e Pequim.

Com Biden na presidência, Bolsonaro fica mais vulnerável internamente ao centrão

Diante dessa conjuntura, temos um Brasil com a extrema-direita ganhando lugar dentro do centrão, partidos de direita e de extrema direita, boa parte dos quais oriundos do ARENA da ditadura, que hoje são base de sustentação do governo Bolsonaro. Esses partidos são pragmáticos e já buscam se adequar a Joe Biden - e pressionarão Bolsonaro para extrair dele todos os benefícios e privilégios dessa casta de políticos corruptos. Os militares, organicamente vinculados aos EUA desde a Segunda Guerra Mundial, também tendem a ter maiores desgastes, em função de sua subordinação e participação direta na catástrofe do governo bolsonarista. O autoritarismo judiciário e os parlamentares também se beneficiam como atores políticos. Trata-se, portanto, de um assentamento do regime do golpe institucional, sobretudo após as eleições municipais de 2020 com a vitória do centrão, principalmente do DEM, PSD, PP e agremiações tais.

Nessa medida, com a posse de Biden, Bolsonaro é o ator político que fica mais vulnerável às pressões do bonapartismo institucional. A disputa pela presidência da Câmara - com o candidato de Bolsonaro, Arthur Lira (PP), e Baleia Rossi (MDB), o de Maia (que votou junto ao governo e, 90% das vezes) - e do Senado - o candidato de Bolsonaro, Rodrigo Pacheco (DEM) e Simone Tebet (MDB) - são expressões disso.

Não à toa, os chamados de impeachment levantados por Luciano Huck, Dória - e levando à reboque boa parte da esquerda, o que na prática acaba dissolvendo as forças da luta de classes e aposta em implorar para Maia colocar Mourão na presidência e assentar ainda mais o regime golpista - aconteceram após a invasão do Capitólio e no período até a posse de Biden. Por isso, é fundamental que a esquerda rompa com qualquer aliança com a burguesia para impulsionar uma luta consequente contra Bolsonaro, Mourão e todos os golpistas. Da mesma forma que, também, não podemos nos adaptar ao regime do golpe institucional, como fazem o PT, PCdoB - e até o PSOL - em distintas esferas, como o apoio à Baleia Rossi na Câmara. Mais que nunca essa ala do regime está ajoelhada ao governo Democrata e aos desígnios ajustadores do imperialismo norte-americano na América Latina. São todos inimigos da nossa classe que operam dia após dia para descarregar a crise nas costas do povo pobre e do proletariado.

A luta de classes como fator decisivo nas relações internacionais

Como marxistas, as relações internacionais e disputas geopolíticas não se explicam por si mesmas. A história da humanidade é a história da luta de classes. Portanto, torna-se fundamental nos Estados Unidos o combate à Joe Biden e a um dos partido imperialista mais velhos do mundo - e que inclusive teve boas relações com os ditadores sul-americanos na década de 1970 - com um programa independente, da classe trabalhadora e dos oprimidos, pela construção de um novo partido revolucionário e operário separado dos Democratas, se apoiando na fúria negra para golpear as bases do capitalismo mundial. Essa é a política que a sessão estadunidense da Fração Trotskista pela Reconstrução da Quarta Internacional, o Left Voice, defende.

Da mesma forma, é fundamental que no Brasil se lute contra o imperialismo. Trump é um xenófobo de extrema direita, e por isso carregava Bolsonaro na coleira. Mas Biden não tem nenhuma vocação para "opositor" do bolsonarismo. O Partido Democrata tem pleno acordo com o programa de ajustes e destruição dos direitos trabalhistas por parte de Bolsonaro e Guedes. Exigirá mais esforços, e conta sempre com o auxílio do Congresso e do STF, que aplicaram as reformas trabalhista e da previdência, e que transformaram nossas vidas num inferno. Biden apoia as demissões na Ford, por exemplo. Uma política independente no Brasil passa pelo mais profundo antiimperialismo. Essa é uma lição que a esquerda custa aprender, haja vista a escolha de correntes como o MES e o Resistência de apoiar Joe Biden nas eleições presidenciais. Grau zero de independência de classe.

A batalha contra a interferência imperialista na América Latina, e ao bidenismo que se instala na Casa Branca, passa não só por combater Bolsonaro, mas também Maia, Dória, STF e todos os golpistas, contra Bolsonaro e Mourão, na luta de classes. Por isso exigimos que as centrais sindicais - a exemplo, a CUT e a CTB dirigidas pelo PT e PCdoB respectivamente - saiam de sua paralisia e organizem um plano de lutas nacional por emprego, renda, sem nenhuma concessão à patronal. Essa é a política que nós do MRT, aqui no Brasil, defendemos e batalhamos.

Só na luta de classes, batalhando por um partido mundial da revolução socialista, é que podemos enfrentar os interesses nojentos e assassinos do imperialismo - seja de Trump, seja de Biden. Apenas a classe trabalhadora, aliada a todos os oprimidos, pode mudar as regras do jogo da política internacional, das ingerências diplomáticas burguesas, de suas guerras e golpes de Estado. Apenas a classe trabalhadora pode, nos Estados Unidos, no Brasil e no mundo, expropriar os frutos do trabalho que nos pertence e nos é roubado.

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