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UFRGS disponibiliza ultrafreezers para armazenar vacinas: como as universidades podem estar a serviço do combate à pandemia?
Ana Paula Carvalho
Camila Galvão
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(fonte: Isadora Neumann / Agencia RBS)

A proposta de ser o centro logístico de distribuição da vacina contra a Covid-19 no Rio Grande do Sul foi feita na Secretaria Executiva do Ministério da Saúde no dia 9. A universidade conta com 20 ultrafreezers que poderiam armazenar em torno de 4 milhões de doses, segundo estimativa do pró-reitor. Além disso, estão em processo de compra mais 5 equipamentos e uma rede de monitoramento de temperatura e energia.

Esses ultrafreezers são necessários pois as vacinas produzidas pelas grandes indústrias farmacêuticas da Pfizer em parceria com BioNtech, a primeira a chegar a sua última fase de teste de comprovação de eficácia, são sensíveis à temperatura e precisam ser armazenadas em torno de -70 graus Célsius. Esses equipamentos hoje são utilizados para guardar amostras de pesquisas da universidade e possuem altos preços, cada um custa cerca de 140 mil reais e precisam ser importados dos EUA.

Durante toda a crise da pandemia de Coronavírus no Brasil, a UFRGS foi uma das universidades públicas que desempenhou um papel fundamental na produção de testes para a cidade de Porto Alegre e para inúmeras outras cidades do Estado. Atualmente, são milhares de testes RT-PCR para diagnóstico da Covid-19 produzidos semanalmente pelo projeto Combate ao Covid-19 do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) da UFRGS, que já produziu mais de 40 mil testes.

O projeto começou com professores, alunos e técnicos que, como voluntários, começaram a produzir testes para a população. Após contrato com a prefeitura de Porto Alegre, o Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen) e outras prefeituras do Estado, o projeto conseguiu mais recursos financeiros para aprimorar o serviço, cumprindo um papel fundamental durante a pandemia com a aquisição de equipamentos mais tecnológicos e de qualidade superior, assim como a contratação de bolsistas para trabalhar na linha de frente do combate à pandemia. Com esses aprimoramentos, o projeto conseguiu ultrapassar bastante a sua meta de chegar a produzir 500 testes em um dia.

A produção de testes feitos pelo Laboratório UFRGS Covid-19 da UFRGS se assemelha à quantidade do próprio Laboratório do Estado, tendo um custo menor do que cobram os laboratórios privados e entregando o laudo muito mais rápido. Apesar disso, o governo segue optando pelos convênios com laboratórios privados, injetando a verba municipal diretamente nessas empresas.

Com a piora da pandemia na região, a demanda de testes cresceu e com isso as dificuldades do projeto, como o tempo de trabalho dos bolsistas e a falta de equipamentos para serem produzidos testes em maior quantidade, juntando à já precária estrutura do prédio do ICBS e a necessidade de transferir a ação do projeto para outro prédio da UFRGS.

Essas iniciativas da UFRGS de combate à pandemia mostram na prática como a universidade, um polo de tecnologia e ciência de ponta, pode estar a serviço da maioria trabalhadora da sociedade, mesmo em meio ao projeto de desmonte da educação pública e tentativa de privatização.

Entretanto, esses projetos ainda são mínimos comparados com todo recurso humano e material científico que uma das melhores universidades da américa latina poderia colocar a serviço de combate à pandemia, junto a um maior investimento do governo na ciência pública.

No dia 19 de agosto, foi implementado na UFRGS o Ensino Remoto Emergencial (ERE), que é na verdade um EaD (Ensino a Distância) mascarado, uma forma de ensino totalmente elitista e excludente - principalmente para aqueles que já tem maior dificuldade de entrar na universidade e perfurar o filtro social que é o vestibular, os mais pobres: a juventude negra, indígena, trabalhadora e cotista.

O ensino remoto, que conta com contrato da UFRGS com a Google e a Microsoft, é mais rentável, precariza ainda mais o ensino e é totalmente descontextualizado e desinteressado da atual demanda da sociedade: salvar a vida de milhares de pessoas que hoje são vítimas do total descaso dos governos frente à disseminação do novo coronavírus.

Com a necessidade de manter seus lucros, e nenhuma medida governamental que impedisse que sejam os trabalhadores que paguem pela crise sanitária e econômica, muito pelo contrário, os empresários começaram a fazer demissões em massa, além da suspensão de contratos e diminuição salarial proporcional à carga horária, garantidas pelo MP 936 do governo Bolsonaro.

Essa mesma juventude que hoje é excluída da universidade, seja com o Ensino Remoto, seja pelo vestibular ou pelos altos preços das faculdades privadas, foi empurrada a trabalhos ainda mais precários, como os trabalhos informais de entregador de aplicativo, recebendo uma miséria pelas viagens percorridas às vezes por até 12h no dia sequer recebendo EPI’s, mas que protagonizaram também o breque dos apps, uma importante e forte paralisação por todo o Brasil e outros países ao redor do mundo por melhores condições de trabalho. Para os que ainda terão a chance de se formar, o que o ensino remoto tem a oferecer é uma mão de obra muito mais barata para as empresas capitalistas devido à precariedade do ensino.

Junto à isso, à nível nacional, a PEC do Teto de Gastos encontra-se intacta, um Projeto de Emenda Constitucional que estrangula o orçamento da educação, em um momento em que a ciência se mostra tão necessária para combater a pandemia, ainda mais a ciência de uma universidade pública que, ao contrário da indústria farmacêutica, não lucra com o conhecimento e a vida da classe trabalhadora, como os laboratórios privados que acabam produzindo apenas de acordo com seus próprios lucros e deixando o acesso aos teste da Covid-19 em preços altíssimos, não acessível para maior parte da classe trabalhadora. Além disso, a Universidade se enfrenta com os cortes da educação e tentativas de volta às aulas presenciais por parte do governo Bolsonaro.

O Rio Grande do Sul registrou no último dia 22, pela primeira vez, a marca de cem mortes por coronavírus em 24h. “A pandemia no Sul caminha para um agravamento sem precedentes", avalia o epidemiologista Lúcio Botelho, professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além disso, no Brasil inteiro a pandemia vem novamente se agravando, com o país chegando a registrar novamente mais de mil mortes por Covid19 em 24h, e se aproximando de 200 mil desde o início da pandemia.

A nível municipal e estadual, vimos Marchezan e Eduardo Leite abrindo o comércio sem medida sanitária alguma, com ônibus lotados, sem EPIs para os trabalhadores da saúde e sem testes massivos para a população para poder rastrear de fato o vírus e diminuir a taxa de contágio em Porto Alegre, a partir de isolar as pessoas que estão contaminadas, o que tende a ser aprofundado com o projeto de Sebastião Melo, prefeito eleito para 2021.

Em um momento como esse, a necessidade imediata da comunidade acadêmica junto da classe trabalhadora não passa nem perto de continuar o ano letivo de forma precária pela via online, ainda mais tendo o potencial de suprir a necessidade real de combater a pandemia. É concreta a necessidade de reorganizar toda a produção para salvar a vida de milhares de pessoas, inclusive a produção de conhecimento dentro das universidades.

A partir de um maior investimento na estrutura da universidade e na contratação de mais trabalhadores, seria possível a produção de testes em uma escala muito maior, sendo possível a partir de outras iniciativas conjuntamente, testes massivos para a população.

Junto à isso, podem ser feitas muito mais pesquisas na área da pandemia pelos estudantes de biologia e outras áreas da saúde, como desenvolvemos na nota abaixo:

O Ensino Remoto não é a saída! Como a Biologia da UFRGS pode ajudar no combate à pandemia?

Além disso, estudantes de diversas outras áreas poderiam estar voltando seus conhecimentos para conscientização da população, divulgação de pesquisas, entre milhares de outras iniciativas que os estudantes da federal poderiam estar construindo junto à comunidade acadêmica.

Além disso, esse é o momento de garantir o posto de trabalho de cada terceirizado da Universidade, que desempenham um papel extremamente fundamental para mantê-la funcionando, e ao invés disso estão tendo seus salários cortados, contratos suspensos ou sendo diretamente demitidos. Além de trabalhar em condições precárias, sendo os mais expostos frente a pandemia dentro da estrutura universitária. Por isso, deve ser garantida a efetivação de todos os trabalhadores terceirizados da universidade sem a necessidade de concurso público, pois já provam todos os dias que sabem muito bem fazer o seu trabalho.

Em meio à comprovação de eficácia da vacina da Pfizer e outras em fase de comprovação em diversos países e as quase 200 mil mortes no país, com nova escalada de contaminação, se coloca a urgência da produção massiva de vacinas.

Para isso, é preciso ser feita a quebra das patentes da grande indústria farmacêutica que quer apenas lucrar com o conhecimento que pode salvar a vida de milhares de pessoas, impedindo que a vacina possa ser produzida a baixo custo e em grande escala a partir da venda dessas patentes e dos segredos industriais. Assim como diversas outras formas de tratamento e prevenção de diversas doenças que já existem hoje e poderiam estar sendo utilizadas se não fossem os interesses da grande indústria farmacêutica que ganha mais vendendo o tratamento do que prevenindo a doença, como é o caso do HIV.

Também é necessário retirar das mãos dos capitalistas as indústrias não essenciais, que poderiam estar produzindo insumos como seringas e ultrafreezers, e os laboratórios privados, para a produção da vacina ser feita de forma massiva e estatal. Junto a isso é preciso que esses locais sejam controlados pelos próprios trabalhadores, que são os únicos que podem produzir a partir da real demanda da sociedade, não à partir de interesses do lucro.

Só assim é possível que a vacina seja produzida à baixos custos e em massa para todos que quiserem, contra as disputas políticas da direita e da extrema-direita, que por um lado faz demagogia com a obrigatoriedade da vacina sem sequer investir para que ela seja de amplo acesso e, por outro, o negacionismo da ciência, tudo por seus próprios interesses para qual monopólio internacional e qual dos países que disputam a corrida geopolítica pela vacina vai o lucro. Enquanto isso, se depender deles, somente uma pequena parcela da população terá acesso à vacina.

Todas essas medidas só serão possíveis através da força da mobilização da classe trabalhadora. Contra Bolsonaro, Mourão, Eduardo Leite, Melo e o conjunto do regime político fruto do golpe de 2016 que foram os principais responsáveis por esse nível de crise sanitária onde não houve nenhuma medida científica que barrasse o avanço do coronavírus ou investimento em um SUS que conseguisse suprir a demanda necessária desse momento.

É necessária a organização dos trabalhadores e estudantes em cada local de estudo e trabalho, que a União Nacional dos Estudantes (UNE) rompa a sua paralisia e todos os diretórios e centros acadêmicos convoquem grandes assembleias e reuniões, para impor nossas demandas com as nossas próprias forças, sem confiança na justiça e nas instituições. Precisamos urgentemente erguer uma grande luta da classe trabalhadora para que sejam os capitalistas que paguem por essa crise sanitária e econômica que eles mesmo geraram.

 
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