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RÚSSIA TURQUIA
Uma nova escalada das tensões com a derrubada do jato russo pela Turquia
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

Militares da Turquia derrubaram um jato de combate perto da fronteira com a Síria, nesta terça-feira, após o avião ter violado o espaço aéreo turco e ignorado vários alertas para retornar, segundo uma autoridade do governo turca. De acordo com o governo de Moscou, a aeronave era russa.

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Imagens de televisão mostraram o jato pegando fogo e colidindo em uma montanha perto da fronteira entre Turquia e Síria. A queda ocorreu numa área onde aviões russos e sírios atacam combatentes turcomanos, um grupo que tem o apoio de Ancara em sua luta contra o regime sírio.

Um grupo de rebeldes turcomanos (sírios que falam turco) que combatem contra Assad e recebem apoio da Turquia, disse que executou os dois pilotos russos que conseguiram ejetar-se do avião.

O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, encarregou o Ministério das Relações Exteriores de consultar a Organização das Nações Unidas, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e outras partes envolvidas na Síria sobre o caso.

Com o incidente de hoje, é a segunda vez que a Turquia derrubou um jato na fronteira síria e a primeira vez que um país membro da OTAN derruba um avião russo desde a guerra fria. Até agora, com exceção de um drone feito na Rússia, todas as aeronaves pertenciam às Forças Armadas da Síria.

Tensões entre a Turquia e a Rússia

O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, pediu nesta quarta-feira à Rússia que respeite as fronteiras de seu país. Segundo ele, "não haverá qualquer concessão" na segurança fronteiriça, após aviões russos entrarem no espaço aéreo turco no fim de semana.

Davutoglu voltou a criticar os ataques russos na Síria, dizendo que o alvo principal deles é a oposição moderada, o que acabará fortalecendo o Estado Islâmico. Segundo a Turquia, dos 57 ataques russos em território sírio, apenas 2 objetivaram o Estado Islâmico. O premiê pediu que a Rússia também respeite as preocupações de segurança turcas na Síria.

A Rússia e a Turquia são importantes parceiros comerciais e os turcos dependem bastante das importações de gás russo. Os dois países têm posições conflitantes sobre a Síria, com o governo russo apoiando o presidente Bashar al-Assad, enquanto a Turquia exige sua deposição.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, qualificou a derrubada de um jato russo pela Turquia como "uma facada nas costas, realizada por cúmplices dos terroristas". Segundo Putin, a aeronave russa estava em território sírio e não representava qualquer ameaça para a Turquia.

Quais motivos para o ataque turco?

A Turquia e a Rússia não poderiam ter interesses mais contrapostos. Enquanto a Rússia, junto ao Irã, é o principal pilar do regime de Bashar al-Assad, tanto no teatro de operações militares quanto nas mesas de negociação, a Turquia fez da queda de Assad uma bandeira, e apoia diversas variantes de "rebeldes" sunitas, o que inclui fazer vistas grossas ante o avanço do Estado Islâmico. Outro objetivo do regime de Erdogan na Turquia é evitar o fortalecimento das fronteiras do Curdistão sírio, que veio sendo parte protagonista nos enfrentamentos ao ISIS como em Kobane. A opressão turca sobre os curdos em seu território se expressou nos massacres sangrentos de Suruç e Ankara, com a conivência do governo.

A Rússia se viu fortalecida em seu intuito de atacar os "rebeldes moderados" aliados a várias potências regionais (dentre elas, a Turquia), que se enfrentam com o regime de Assad, depois das iniciativas do presidente francês François Hollande de travar uma coalizão comum com Obama e Putin para uma dar uma resposta militar contundente ao Estado Islâmico, deixando o objetivo de remover Assad do poder em segundo plano. O governo turco respondeu a esta "incômoda aliança" buscando dificultar a unidade já de per si muito complexa entre EUA e Rússia, derrubando o avião russo símbolo de uma ofensiva sem coordenação com a OTAN e o ocidente.

As consequências possíveis nesta escalada militarista

A Rússia e a Turquia tem diversas relações comerciais. A Rússia exporta 20% dos recursos energéticos consumidos pela Turquia, e está em negociação o "Turkish Stream", um novo gasoduto que sairá da Rússia para a Europa por meio da Turquia, substituindo a via de acesso do gás russo pela Ucrânia. Estes acordos podem estar em risco depois deste acontecimento.

A posição de Obama - que será provavelmente replicada pela OTAN - é para congelar os nervos entre os dois países, sob a justificativa de que a Turquia tem o direito de defender seu espaço aéreo e seu território contra uma ofensiva militar russa que não se coordena com o militarismo ocidental, e que tem como objetivo não o Estado Islâmico mas as "forças rebeldes" apoiadas pela coalizão norteamericana contra Assad.

Como ponto a favor, a Turquia usa a cartada da necessidade de fechar as fronteiras com a Síria e impedir o afluxo de imigrantes para a Europa, para cuja tarefa recebeu 3 bilhões de euros por parte da chanceler alemã Angela Merkel.

Este episódio adicional na escalada militarista no Oriente Médio contra o Estado Islâmico, que reflete o cenário reacionário surgido depois da derrota da primavera árabe e das inúmeras intervenções imperialistas que a precederam e sucederam, só mostra que os bombardeios das potências aumentam ainda mais as misérias e catástrofes na região, em que a barbárie fundamentalista é apenas o espelho distorcido da barbárie imperialista promovida por Obama, Hollande, Merkel, e a Europa.

 
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