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DEBATE COM A ESQUERDA
Sem limites para girar à direita, a Resistência, corrente do PSOL, chama voto no DEM no RJ
Mateus Torres

A Resistência não consegue mais encontrar limites para sua política oportunista, criando agora a ficção de que votando em Eduardo Paes se “derrotaria o bolsonarismo”, fortalecendo o DEM, partido herdeiro do ARENA da ditadura.

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Imagem: Alexandre Durão / G1

Em artigos recentes, a Resistência, corrente interna do PSOL, defendeu o voto em Eduardo Paes do DEM no segundo turno no Rio. Dizem: “No Rio de Janeiro, a situação fica mais complicada, pois o oponente de Crivella é Eduardo Paes, da direita neoliberal. Mas mesmo no Rio o voto deve ser hierarquizado pela luta contra o bolsonarismo. O principal, no momento, é impor uma derrota a Crivella”. Em texto assinado pela direção regional carioca, reafirmam: “Frente a essa polarização, é simplesmente impossível nutrir expectativas de que a próxima gestão da prefeitura do Rio, qualquer que seja o vencedor, atenderá, sequer remotamente, aos interesses das maiorias sociais. Tal cenário indesejável, no entanto, não implica que a esquerda – no intuito de acumular força e autoridade política, no Rio – possa simplesmente permanecer indiferente à segunda volta das eleições.”

“Complicada” é a situação da Resistência que precisa criar uma suposta “polarização” entre dois representantes do que há de pior da direita. O que é “indiferente” é a política oportunista da Resistência, já não somente a critérios elementares de independência de classe, algo que para essa corrente já ficou como algo distante de ser um valor e referência, mas em relação a colocar limites para até onde pode ir em seu giro à direita para ocupar um espaço dentro do regime golpista repetindo os piores erros do PT.

Votar em Eduardo Paes significa “acumular força e autoridade política” não para a esquerda, mas para o DEM, que disputa protagonismo do que existe de pior da política nacional e disputa liderança na fidelidade como base de sustentação do governo Bolsonaro aprovando mais de 90% das suas propostas no parlamento, liderados por Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. O DEM é justamente o que mais se fortaleceu nessas eleições municipais no país, em muitos casos sendo a plataforma dos candidatos bolsonaristas.

Votar em Eduardo Paes é “acumular força e autoridade política” para este sujeito atacar com maior legitimidade. A Resistência parece mesmo ter criado um filme de ficção, onde quer apagar da história a trajetória do DEM e de Eduardo Paes. Mas eles sabem muito bem que Paes vem das “máfias” que o PSOL carioca tanto denuncia, vem da casta corrupta do MDB de Cabral, Pezão, Eduardo Cunha e Picciani, cúpula esta que é inclusive parte das hipóteses de onde vem os mandantes do assassinato da Marielle. Eduardo Paes já foi parte dos que propôs, como Bolsonaro, as milícias como “solução” para o problema da mal chamada “segurança pública” no Rio.

Mas não é só um problema de trajetória, recentemente Eduardo Paes foi elogiado por Bolsonaro como “bom administrador”, o que foi comemorado por Paes dizendo que “está liberado os bolsonaristas votarem em que quiser”, mostrando claramente como Paes vem se rastejando para conseguir o apoio do presidente. Em 2018 Paes também fazia santinhos junto com imagem de Bolsonaro, fortalecendo e desfrutando daquela onda que a Resistência considera como “neofascista” e que quer de maneira pitoresca separar Eduardo Paes da mesma. Paes foi o prefeito das remoções, da repressão à junho, à greve dos garis, à greve dos professores, que colocou de pé as UPPs, quando mataram Amarildo, Claudia Ferreira e outros milhares de negros com brutal violência policial e abrindo espaço para as milícias.

Defendendo voto em Paes, “a situação fica mais complicada” para qualquer tipo de “criatividade teórica” da Resistência para manter algum lastro já nem mais com o marxismo, mas até mesmo com a ideologia burguesa do “mal menor”, que está levando correntes que se reivindicam socialistas como da Resistência ao extremo de considerar a situação meramente como uma escolha entre entregar o pescoço para a forca ou para a guilhotina. Não há limite nessa “teoria”? Tudo o que o regime precisa fazer é apresentar algum “mal pior” que poderia levar a votar em Crivella e Bolsonaro? Ou dirão que há um limite, e defenderão Eduardo Paes defensor de milícias e o DEM herdeiro da ditadura e base de apoio do governo Bolsonaro como "aliados na defesa da democracia", que estão dentro dos limites do “campo democrático”?

É compreensível que trabalhadores e jovens se desesperem com Bolsonaro e Crivella e busquem qualquer alternativa, mas qualquer corrente política que fale em nome do socialismo deveria cumprir o papel educativo de explicar porque na eleição no Rio não há outra alternativa possível senão o voto nulo no segundo turno, como defendemos nessa declaração do MRT do Rio de Janeiro.

É urgente superar essa deriva estratégica na esquerda brasileira, que está disposta a romper todo e qualquer laço com a tradição marxista para ocupar seu espaço dentro do regime do golpe institucional. É urgente construir um partido revolucionário no Brasil, uma alternativa de independência de classe. Cruzando nossas fronteiras temos um bom exemplo de que é possível outro horizonte, como se expressa na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores da Argentina, que impulsionamos como PTS. Essa é a batalha que seguiremos dando pacientemente na esquerda brasileira.

 
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