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ELEIÇÕES SÃO PAULO
Não é possível combater a direita e o regime do golpe com uma frente ampla com burgueses e golpistas
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Para derrotar Covas, Doria e o regime do golpe é preciso impulsionar a mobilização independente da classe trabalhadora, das mulheres, negros, LGBTs e da juventude. Não é possível fazer isso com uma frente ampla para governar junto com os partidos burgueses e golpistas que nos atacam.

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O primeiro turno das eleições no país foi marcado por uma vitória das forças que estiveram por trás do golpe institucional e dos ataques aos trabalhadores no último período, e um fortalecimento em particular da direita herdeira da ditadura chamada de Centrão. Isso mostra a urgência da nossa organização para lutar contra todas as alas da direita e do regime do golpe.

Em São Paulo, no segundo turno, a direita golpista está representada por Covas, que tenta se apresentar como um bom gestor, de perfil moderado, mas entrou na prefeitura justamente quando seu padrinho foi para o governo com a marca de BolsoDoria. Não à toa agora se coloca como defensor da lei e da ordem, enquanto se gaba da “arrumação das contas” com privatizações e cortes de direitos que aprovou. É o prefeito que impôs a reforma da previdência municipal através de uma repressão brutal às trabalhadoras e trabalhadores da educação, saúde e demais serviços públicos

Nos colocamos na linha de frente do combate contra Covas, Doria, Bolsonaro e todo o regime do golpe, integrado também pelo Centrão, militares e judiciário. Fazemos isso agora, bem como viemos fazendo todos os dias, na luta política cotidiana, e nas mobilizações e enfrentamentos mais duros contra cada um de seus ataques. Para derrota-los, é preciso construir a mobilização independente da classe trabalhadora, das mulheres, negros, LGBTs e da juventude. Essa é a única força capaz de vencê-los, e por isso a intervenção nas eleições também precisa estar a serviço de impulsioná-la. E não é possível fazer isso com uma frente ampla para governar com os partidos burgueses e golpistas que nos atacam. A ideia de que esse tipo de frente seja “ampla” no sentido de somar mais forças, para assim enfrentar a direita, é falsa, pois a entrada dessa parcela menor dos partidos burgueses só se dá com a condição de que fiquem de fora as massas em luta, de que o discurso vá se moderando mais e mais, de que se estabeleça compromissos com empresários e os limites deste regime podre, de que não se convoque a mobilização dos explorados e oprimidos, ou seja, de que se reduzam, e não aumentem, as nossas forças e, afinal, não se enfrente de fato a direita e o regime do golpe.

No entanto, infelizmente, foi uma frente desse tipo que foi anunciada ontem, dia 20, por Guilherme Boulos, em um evento com representantes do PSB, Rede, PDT, PT, e PCdoB, além dos partidos de esquerda que compunham a coligação já no primeiro turno. O evento não foi somente para esses partidos declararem seu apoio a Boulos no segundo turno, mas para Boulos selar o compromisso de que serão parte de seu governo. Em suas palavras, “Nosso time recebeu um reforço sem tamanho, é outro time. Não é mais a campanha minha e da Erundina, do PSOL com a UP e o PCB. Hoje é um marco de que a gente inicia outra campanha, a campanha da Frente democrática e por justiça social na cidade de São Paulo.”

“Eu tenho enorme orgulho de mostrar essa Frente, que vai construir essa campanha com a gente na reta final e vai governar São Paulo junto com a gente“, disse Boulos.

E seguiu: ”É muita arrogância achar que alguém governa uma cidade como São Paulo sozinho. Eu não tenho essa pretensão. Quero governar com muita gente. Com especialistas, gente da academia que constrói cada área. Quero governar com outras forças políticas que estão aqui, e trazer essa sensibilidade delas para o nosso governo”.

A representante da Rede ressaltou que, nesse acordo, posições divergentes estão sendo incorporadas ao programa: "Temos também divergências, e trazemos hoje para o programa pontos: negócios sociais, mais meio ambiente, agenda sustentável, Green New Deal, muitas coisas que o PSOL e esse projeto acolheram de braços abertos. A gente pretende construir uma gestão com muita participação, descentralização, uma gestão responsável com tudo que São Paulo merece". Fernando Guimarães se apresentou como “militante histórico que após 30 anos no PSDB estava fazendo sua primeira fala pelo PSB” para expressar o “enorme entusiasmo” de Carlos Siqueira - presidente do partido e defensor do impeachment de Dilma -, com a entrada do PSB na campanha. Orlando Silva, do PCdoB, falou sobre quais deveriam ser as prioridades do “nosso governo” e Jilmar Tatto disse que, para quem chama Boulos de radical, a prova do quanto ele é amplo e dialoga era aquela mesa, que só iria crescer mais.

É preciso ter claro o que são esses partidos. PDT, Rede e PSB são partidos burgueses. A Rede de Marina Silva, defensora da prisão arbitrária de Lula às vésperas das eleições em que era favorito e que levaram Bolsonaro à presidência, apoiou o golpe institucional e foi entusiasta da Lava Jato de Sérgio Moro. Assim como o PSB, cujos deputados fizeram muitos dos discursos de defesa do impeachment na câmara. Mais recentemente, parlamentares dos três partidos votaram a favor da reforma da previdência na câmara e no senado, e o PSB presidiu a Frente Nacional de Prefeitos, que articulou com Paulo Guedes a aprovação dessa reforma e de outros ataques. Hoje o PDT é o responsável direto pela repressão brutal com que seu governo no Amapá tenta conter a população que está há mais de 15 dias no apagão, morrendo de sede, fome e Covid. Já em São Paulo, no âmbito estadual, a Rede votou a favor da reforma da previdência de Doria, assim como parte dos parlamentares do PSB. E na câmara municipal, onde o PSB é o único destes partidos com mandatos, seus vereadores apoiaram praticamente todos os ataques aprovados por Covas e Doria, inclusive aqueles mais mencionados por Boulos: votaram a favor da anistia aos imóveis irregulares, da reforma administrativa municipal, dos convênios com as creches privadas, das concessões dos parques, cemitérios, terminais de ônibus, da privatização do Anhembi. A lista poderia seguir longamente. Não se pode dizer que essa Frente Ampla seria sequer “antineoliberal”, pois, como se pode ver, abarca diversos atores que são apoiadores de reformas neoliberais e as aplicam onde governam.

Não é possível derrotar os golpistas e os ataques aos trabalhadores através de uma frente ampla com partidos burgueses, golpistas que aprovam e aplicam esses ataques. O presidente do PSOL disse que essa frente em São Paulo servirá de “vitrine para o Brasil”, para mostrar que a “unidade das forças democráticas é possível”, mirando em 2022. Um processo similar de alianças e compromissos com esses partidos burgueses e golpistas vem se dando também em Porto Alegre em torno da Manuela D’Avila do PCdoB, em Belém com Edmilson do PSOL, e em Recife e Vitória com as candidaturas do PT. Mas nós já vimos aonde o caminho de conciliação com os partidos burgueses, golpistas e os empresários, percorrido pelo PT, levou: ao fortalecimento dessa mesma direita que fez o golpe e vem nos atacando duramente. Não é possível reverter esse processo repetindo o mesmo caminho que abriu espaço para ele. O resultado tende a ser ainda pior no marco atual, de um regime político marcado pelo golpe institucional, pois significa aceitar governar uma cidade em base à obra política e econômica do golpe. Parte importante dos eleitores de Boulos votaram buscando não isso, e sim uma alternativa à esquerda do PT, e seriam uma importante base para enfrentar o regime político golpista e lutar por revogar todos os ataques, mas ao invés de Boulos se apoiar nisso para chamar essa mobilização, utiliza esse capital político para se aliar com partidos burgueses e golpistas, apresentando o PSOL como um partido que é capaz de se moderar e gerir o regime golpista em São Paulo e em perspectiva como parte de uma Frente Ampla em 2022.

Viemos debatendo a necessidade de Boulos romper os compromissos com empresários e golpistas, e alertando que a moderação nunca é só para se eleger, e sempre leva a governos de conciliação. Mas o que Boulos fez agora foi o oposto, foi selar o compromisso de que esses partidos irão compor o seu governo. Como ele disse, “é outro time”. Por isso, lutamos contra Covas e Doria, mas não apoiamos essa frente ampla de Boulos com burgueses e golpistas. Chamamos os setores do PSOL que defendem a necessidade da independência de classe, como o Bloco de Esquerda que reivindica a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores da Argentina, a também se posicionarem nesse sentido. Seguiremos lutando com todas as nossas forças para construir a mobilização independente da nossa classe e de todos os oprimidos para enfrentar e realmente derrotar Covas, Doria, Bolsonaro e todo o regime do golpe - e nesse caminho, batalhando pela construção de uma organização revolucionária firmemente erguida sobre a independência de classe.

 
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