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ELEIÇÕES NO GRANDE ABC
O triunfo do golpismo do PSDB no ABC exige uma alternativa dos trabalhadores independente
Tatiane Lima

Após o giro à direita que marcou as eleições no Grande ABC no calor do golpe institucional em 2016, quando o PT ficou sem nenhuma prefeitura na região que foi seu bastião histórico, vemos nas eleições atuais a consolidação dessa direitização nas principais cidades, com o PSDB na liderança. Apesar de nacionalmente os tucanos perderem espaço para o centrão, tendo sua votação caído mais de 36% comparado a 2016. No ABC, o partido de Dória, Covas e Paulo Serra se consolida, fruto da falta de uma alternativa política dos trabalhadores que seja independente e organize a luta contra os planos do golpismo e bonapartismo institucional que o PSDB representa.

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O PSDB conquistou a reeleição de seus prefeitos em primeiro turno e cresceu nas Câmaras das cidades mais populosas e com maior relevância econômica da região do ABC: Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.

Em Santo André o tucano Paulo Serra venceu com 76,8%, enquanto o PT teve apenas 7,35% com Bete Siraque. Além de ter caído significativamente de cerca de 20% em 2016 para pouco mais que 7% na disputa pela prefeitura deste ano, o PT perdeu 3 das 5 cadeiras que havia conquistado naquela eleição para a Câmara, ficando com o pior resultado eleitoral de sua história na cidade.

Ainda em Santo André, o PSOL teve um crescimento, com mais que o dobro de votos para a prefeitura em relação a 2016. Bruno Daniel ficou com 7,2% e o partido alcançou pela primeira vez uma cadeira na Câmara. Com esses resultados o PSOL ocupou o terceiro lugar na disputa pelo executivo da cidade.

A expectativa do PSOL de ter uma eleição expressiva, partindo de uma projeção importante nas pesquisas, apostando na popularidade do sobrenome de Bruno Daniel e até mesmo se coligando com a Rede, da antiga base do PSDB, tudo isso não garantiu ao PSOL sequer ultrapassar o PT, que foi o maior derrotado desta eleição. Chama atenção, também, que a soma da votação recebida por ambos partidos não chega a 15% e não impediu que o PSDB ganhasse com larga margem.

Em São Bernardo, o berço do PT, o tucano Orlando Morando teve 67,3% dos votos e derrotou o candidato petista Luiz Marinho, que teve 23,4%. Em São Caetano, também os tucanos levaram a melhor, com Auricchio Jr que teve 45,3% contra 32% do segundo colocado, do PSD. Entretanto há um processo na justiça eleitoral que coloca em dúvida sua posse, sob acusação de uso indevido de verbas na campanha de 2016.

Diadema e Mauá estão na contratendência regional, com os petistas disputando o segundo turno. Em Diadema, que foi a primeira cidade governada pelo PT, em 1982, este partido está com a maior aposta e no primeiro turno teve 45,65% dos votos em seu candidato, Filippi, contra 15,4% de Yamauchi do PSD. Em Mauá o partido disputa em segundo lugar, sendo que teve no primeiro turno 19,8% dos votos, com Marcelo Oliveira, contra 36,5% de Atila Jacomussi do PSB, que busca sua reeleição.

Em Ribeirão Pires o PSDB ficou em o segundo lugar, com Kiko que teve 34% dos votos contra Clóvis Volpi, do PL, que ficou em primeiro com 45,9% sendo eleito. PL e PSDB também são maioria na Câmara dessa cidade. Em Rio Grande da Serra, o Podemos elegeu “Claudinho da geladeira” no primeiro turno, com 35,6% dos votos, contra o candidato do PSB, Akira Auriani, que teve 33,8%.

Fortalecimento do PSDB, do “Centrão” e dos planos do golpismo no ABC

As eleições no Grande ABC acompanham a tendência nacional em relação à baixa performance de Bolsonaro como cabo eleitoral, com os candidatos bolsonaristas às prefeituras em sua maioria sem alcançar 2% dos votos. Segundo os dados do TSE, esse foi o caso dos policiais Sargento Lôbo (Patriota) e Denis Ferrão (PRTB) em Santo André, de Nilson Bonome (PSL) em São Caetano, do professor Betinho (PSL) em Mauá, de Denise Ventrice (PRTB) e Jhonny Rich (PSL) em Diadema e de José Teixeira (PSL) em Rio Grande da Serra.

Em Ribeirão Pires o candidato Carlos Banana (PSL) teve 2,6% dos votos. Em Mauá o policial Mauro Roman (PRTB) teve 3,84%. As maiores votações se deram em São Bernardo, com Rafael Demarchi (PSL) que teve 5,1% e em São Caetano, com Thiago Tortorello (PRTB), que teve 5,9%. Votações pífias que confirmam a baixa popularidade desses candidatos que tentaram a nível local se ligar ao governo de extrema direita de Bolsonaro e Mourão. Na capital esse derretimento também se deu com o bolsonarista Celso Russomanno.

Em relação aos ganhadores, a região destoa da tendência nacional de enfraquecimento do PSDB, onde o partido de Paulo Serra conseguiu se consolidar nos antigos bastiões históricos do PT, e uma composição majoritária das Câmaras por vereadores dessa direita tradicional e do chamado “Centrão”. Os governos do PSDB foram conquistados em meio ao autoritarismo e giro à direita nacional das eleições anteriores, no calor do golpe institucional que retirou o PT do governo para responder à chegada da crise econômica internacional no país com ataques aos trabalhadores e pobres que fossem mais profundos e acelerados do que este partido já vinha implementando com Dilma.

Nas eleições de 2018, o PSDB surfou na onda bolsonarista e de extrema-direita com o fenômeno “BolsoDoria”, que colocou o tucano a frente do Estado de São Paulo, com um programa de maior repressão policial, destruição dos direitos dos servidores públicos e privatizações em favor dos grandes empresários, tudo isso em consonância com os principais governos do ABC. Na ocasião Paulo Serra e Orlando Morando declararam abertamente apoio a Bolsonaro no segundo turno, buscando seguir surfando na onda autoritária aberta pela Operação Lava Jato e pelo juiz Sérgio Moro, que confirmou sua arbitrariedade e manipulação eleitoral ao compor o governo como ministro.

Diante dos revezes políticos sofridos pela Operação Lava Jato, por Moro e pelo próprio presidente, com evidências de corrupção e ligação com a sanguinária milícia carioca por parte da sua família, e, especialmente, diante dos efeitos brutais da pandemia no país, negada por Bolsonaro, o PSDB na conjuntura atual e pela via de Doria e Covas, em sua tentativa de reeleição na capital, busca se projetar como oposição ao governo federal, mas para além do legado do golpismo contra os trabalhadores que segue sendo uma prioridade compartilhada por este partido e o governo de Bolsonaro e Mourão, é importante lembrar que os governadores, apesar de falarem contra o negacionismo nada fizeram para conter a pandemia, nem testes massivos puderam garantir. Agora, passado o primeiro turno das eleições já começamos a ver os números alarmantes de contaminação em todo o país e em especial em São Paulo, onde o governo estadual simplesmente sumiu com os dados da pandemia nas semanas que antecederam as eleições.

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Junto aos tucanos, partidos como DEM, PSD, PL, Podemos e Cidadania, além dos aliados conjunturais Patriota, PRTB, PRB e PTB, dirigem o Congresso Nacional, com Rodrigo Maia e David Alcolumbre à cabeça, e são também a base de sustentação dos planos econômicos e políticos do golpe institucional de 2016.

Este mesmo espectro político, mal chamado de “centro-direita”, representa na verdade uma direita duríssima, que atua em favor de seus próprios privilégios e dos interesses dos grandes empresários. Inclusive esse setor não exitou em se aliar a Bolsonaro neste último ano, apoiando e implementando, assim como fez o PSDB, as medidas que cortaram salários e direitos em plena pandemia, a precarização e plano de privatização de serviços públicos em nome do pagamento da fraudulenta dívida pública e aprovando para o massacre do governo contra a Amazônia e o Pantanal em nome do agronegócio. Tudo isso com a chancela autoritária do Judiciário, que atuou como o garantidor da aplicação planos de ajuste do golpismo.

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Os caminhos da conciliação do PT aprofundaram sua derrota nos bastiões históricos do ABC

Nesse cenário, o PT não conseguiu retomar seus bastiões históricos e se fortalecer na região, seguindo também a tendência nacional como um dos maiores perdedores das eleições de 2020, junto ao PCdoB. O PT não conseguiu se mostrar uma alternativa na região, com campanhas que não entusiasmaram, mesmo diante da enorme crise sanitária que atravessamos e com o desemprego batendo recorde numa situação de calamidade que afeta em primeiro lugar os trabalhadores e os setores mais pobres e oprimidos da população, que historicamente foi base desse partido.

A concepção política do PT de conciliação, que trai os interesses dos trabalhadores em prol de acordos para “governabilidade”, fracassou. Assim que a crise econômica apertou, os capitalistas se utilizaram do golpe institucional para descartar seus antigos aliados petistas, com apoio dos setores mais conservadores e fundamentalistas da política brasileira que o PT mantinha em sua base aliada.

Ao contrário de se mostrar uma alternativa à classe trabalhadora, mesmo no pós-golpe, pela via dos poucos governos que conseguiu manter, especialmente no Nordeste, e com a colaboração passiva da sua direção sindical na CUT, o PT contribuiu para sustentar esse regime cada vez mais degradado, aspirando voltar ao poder para governá-lo tal como está. Uma expressão grotesca dessa ambição rebaixada está nas alianças que o PT fez com o PSL em mais de 140 cidades nestas eleições. Além disso, o PT aprovou a Reforma da Previdência no Piauí, Ceará e Bahia e o PCdoB aprovou no Maranhão, utilizando-se de repressão policial para esse fim, nos lugares onde havia mobilização e revolta, como aconteceu no Ceará.

Com um discurso de “unidade para enfrentar a extrema direita e o fascismo”, o PT na verdade se unificou com a própria extrema-direita e direita tradicional que atacam os trabalhadores e estes últimos deram como resposta uma massiva rejeição nas urnas a esse projeto, ainda que o PT e Lula sigam com grande relevância no cenário nacional.

Nessa toada, o PT não significou uma oposição real aos governos do PSDB no ABC e não organizou a resistência dos trabalhadores aos ataques dos golpistas, preferindo cumprir um papel similar ao das organizações sindicais patronais desde o ascenso de Bolsonaro e da direita na região. Essa postura servil à sede de lucro capitalista fica ilustrada no recente anúncio da CUT de sua unidade com a golpista Força Sindical, na construção de uma entidade comum para tratar da situação de crise dos trabalhadores da indústria em diálogo com os patrões e suas próprias organizações. Além disso, é digno de menção, lembrar que a CUT, à frente do Sindicatos dos Metalúrgicos do ABC, aceitou a MP 936, que rebaixou salários e contratos de trabalho, como um mal menor frente às demissões, além de não ter combatido o retorno da produção industrial sem testes massivos e outras medidas e vimos que só na Mercedes turnos quase inteiros se contaminam e consequentemente suas famílias nos 15 primeiros dias de retorno ao trabalho.

É preciso superar a conciliação petista para derrotar a direita golpista

Frente à traição petista é preciso construir um polo de independência política da classe trabalhadora, que somente com a sua mobilização e luta nas ruas pode enfrentar os planos do golpismo e as expressões autoritárias e de extrema-direita na política, aliada à juventude, às mulheres, aos negros e LGBT’s com esse objetivo.

A nível nacional o PSOL foi o único partido de esquerda que cresceu e teve votações expressivas, aumentando em mais de 25% suas cadeiras nas Câmaras, passando de 2 a 4 prefeituras e está na disputa de segundo turno com projeção importante nas capitais de Belém e São Paulo.

Esse crescimento do PSOL se expressou no ABC, em especial com a conquista de duas cadeiras nas Câmaras, em Santo André e em São Caetano, sendo que nesta última cidade trata-se de uma bancada coletiva “por mais direitos” para as mulheres e foi parte da tendência nacional de alcance de cadeiras de setores feministas. Na disputa pela prefeitura tem destaque a cidade de Santo André, onde a votação passou de 11 mil votos em 2016 para 25.018 mil nestas eleições.

Com a candidatura de Bruno Daniel e Rosi Santos, da corrente Socialismo ou Barbárie, em Santo André, o PSOL se coligou com a golpista Rede Sustentabilidade, que na eleição anterior ajudou Paulo Serra a se eleger e neste ano aprovou com Doria a reforma da previdência do PSDB a nível estadual. O partido teve uma votação apertada para a aprovação desta aliança com a Rede, mas a levou adiante, seguindo o mesmo caminho do vale-tudo eleitoral do PT e obtendo o mesmo resultado pífio, ficando atrás do PT por 475 votos, completamente incapaz de ser uma trincheira forte de oposição às políticas reacionárias e golpistas do PSDB.

Os resultados nacionais e do próprio ABC, em especial em Santo André, mostram, no entanto, que não só o bolsonarismo é um inimigo, mas também o é a direita fisiológica e golpista, alentada pelo bonapartismo institucional do judiciário. O vale-tudo eleitoral que justificou coligações oportunistas sequer serviu para arranhar a hegemonia política da direita golpista na região, que foi quem mais ocupou o espaço perdido pelo PT.

Coligado à Rede, o PSOL de Santo André também buscou se apoiar na memória do governo petista de Celso Daniel, através da candidatura de seu irmão, Bruno Daniel, e com um programa de governo essencialmente “cidadão”, sem qualquer denúncia do regime autoritário ou enfrentamento à patronal e aos seus interesses representados no golpismo dirigido pelo PSDB. Um programa que buscou se mostrar técnico e dialogável até mesmo com o principal aparato de repressão municipal, a GCM, sem repudiar seu racismo e sua verdadeira serventia na cidade, contra os jovens e trabalhadores, em sua maioria negros, além disso, é chamativo que ao agradecer os votos que recebeu, Bruno Daniel parabenize o atual prefeito tucano pelos votos obtidos. Certamente os votos recebidos pelo PSOL deveriam servir para enfrentar esse governo e ajudar a organizar os trabalhadores, mas a assimilação ao regime golpista é tão evidente que vai além da coligação com a Rede para o pleito e se coloca numa busca permanente de se mostrar um partido viável para a administração do capitalismo.

A professora Maíra Machado, do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), estava como candidata à vereadora na cidade de Santo André, por filiação democrática no PSOL, mas retirou sua candidatura diante da coligação deste partido com a Rede e desse conteúdo de vale-tudo eleitoral que expressava.

Os resultados eleitorais mostram que a política de frente ampla que o PSOL defendeu em Santo André e em outras cidades, incluindo coligações até mesmo com PSDB, MDB, DEM e PSC, repete os mesmos erros da conciliação do PT e é completamente incapaz de oferecer uma alternativa real à classe trabalhadora e à maioria oprimida e explorada da população no enfrentamento à extrema direita e aos golpistas.

Nós do MRT participamos dessas eleições municipais denunciando esse regime golpista e sem falsas promessas, defendemos com nossas candidaturas nas cidades de São Paulo-capital, com Diana Assunção, Letícia Parks e Marcello Pablito na Bancada Revolucionária, que alcançou 5000 mil votos nessas ideias, com Flávia Valle em Contagem-MG, que foi a segunda mais votada pelo PSOL nessa cidade e com Valéria Muller em Porto Alegre-RS, que somente a organização política independente e a força da classe trabalhadora podem derrotar o regime do golpe e seus profundos ataques, através da mobilização por uma nova Assembleia Constituinte, que seja livre e soberana. Nossas campanhas foram no sentido de denunciar esse regime do golpe e fazer um forte chamado para a organização dos trabalhadores junto às mulheres, os negros, os LGBTs e a juventude para derrotar com a força da nossa mobilização os ataques capitalistas e é esse chamado que seguimos fazendo agora, sem nenhuma adaptação a esse regime, para que possamos de fato construir uma alternativa política à esquerda do PT.

 
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