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DEBATE NA ESQUERDA
Centenas em live de apoio à Bancada Revolucionária com Vladimir Safatle e Plínio de Arruda Sampaio Jr.
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“Governo Bolsonaro e a situação dos trabalhadores” foi o título da live de apoio à candidatura coletiva da bancada revolucionária de trabalhadores, que reuniu o filósofo e professor da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Economia da Unicamp, Plínio de Arruda Sampaio Jr, também fundador do PSOL e impulsionador da plataforma de esquerda Contrapoder. Junto a eles esteve Diana Assunção, que é uma das três candidatas que compõem a bancada revolucionária, ao lado de Letícia Parks e Marcello Pablito.

Diana é trabalhadora da USP, fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas e dirigente do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT).

Centenas de pessoas acompanharam a live para debater as ideias anticapitalistas e revolucionárias da Bancada em São Paulo, que contou com o entusiasmante apoio dos professores Safatle e Plínio.

Veja o debate aqui:

Veja na íntegra a transcrição da fala da Diana Assunção:

"Queria em primeiro lugar agradecer fortemente em nome de toda a Bancada e também do MRT o apoio de vocês dois, é muito bom poder contar com esse apoio, fortalece muito a nossa candidatura que vem buscando apresentar um programa anticapitalista e revolucionário nessas eleições.

Achei muito boas as colocações que vocês fizeram, muito importantes os debates e acho que a primeira ideia que eu queria lançar pra dialogar com os comentários que me antecederam é sobre o momento político internacional que estamos vivendo. Viemos de uma importante derrota eleitoral da direita golpista na Bolívia e também de uma dura derrota da direita chilena com o plebiscito que por ampla maioria decidiu por uma nova constituição. Essas derrotas da direita na América Latina são também um importante revés do bolsonarismo no Brasil que não somente tem no Chile um modelo do neoliberalismo como apoiou fortemente o golpe na Bolívia. Esses acontecimentos somados a uma possível perda de Trump nas próximas eleições norte-americanas, ainda que o Biden pra nós não seja uma alternativa, já que representa o partido imperialista mais antigo do mundo, de qualquer forma significaria um revés ainda maior pro Bolsonaro, que é um verdadeiro capacho do Trump, se isolando ainda mais a nível internacional.Esse momento político mostra que a extrema-direita e a direita internacionalmente não estão imunes a derrotas, mas isso torna ainda mais importante a reflexão sobre como esses acontecimentos servem pra apontar um caminho abertamente revolucionário e não pra repetir velhas fórmulas reformistas ou cair na armadilha de soluções por dentro desse mesmo regime político.

É com esse olhar que considero que devemos pensar a luta contra Bolsonaro, Mourão em um governo cada vez mais militarizado, onde os militares vêm ocupando cada vez mais a política em cargos de confiança muito importantes e dando também bastante o tom do governo. Um governo que em nossa visão é fruto do processo de golpe institucional que começou em 2016 com o impeachment de Dilma Rousseff, se aprofundou com as reformas de Temer, deu enorme protagonismo ao poder judiciário, impôs eleições manipuladas ao tirarem Lula do pleito com sua prisão arbitrária e abriram caminho pra entrada de Bolsonaro. O objetivo sempre foi fazer ataques muito mais profundos do que o PT já vinha fazendo. É por isso que em nossa visão hoje no Brasil ser oposição ao Bolsonaro não é algo que te coloque necessariamente no campo da esquerda. Ou seja no Brasil de hoje não adianta ser somente contra o Bolsonaro é preciso ser contra todo esse regime do golpe institucional, o que significa se enfrentar também com as instituições como STF, Congresso Nacional e também os governadores. Na nossa visão a esquerda abre mão desse combate e aceita a máxima petista de que é preciso esperar 2022.

Isso porque a conciliação do PT com capitalistas e a direita é um tema fundamental hoje pra quem quer construir uma alternativa da esquerda revolucionária. O PT em seu governo abriu espaço pra direita, fez todo tipo de concessões à Bancada Evangélica, fortaleceu o agronegócio, fortaleceu muito o judiciário, ou seja, expressava não somente uma conciliação em si em defesa de governabilidade, mas um projeto de país pra administrar o capitalismo com a ilusão de que o ciclo econômico do lulismo seria eterno. Não foi assim.E num momento de tantos ataques está aí o PT coligado em mais de 140 cidades com o PSL partido que levou Bolsonaro ao poder.E mais do que isso, há um tema que a maior parte da esquerda não aborda que é a situação dos sindicatos e centrais sindicais e o papel que o PT e também o PCdoB cumprem na direção das principais centrais como CUT e CTB. Um papel de amortecimento, de trégua permanente, de impedir e dissolver a organização dos trabalhadores. Nos momentos decisivos os sindicatos vacilaram, não organizaram a classe trabalhadora pra enfrentar os ataques. Bom, faz muita falta um pólo de esquerda anti-burocrático pra exigir que essas centrais sindicais parem de trégua com o governo e organizem a resistência aos ataques que estão em curso agora, como a reforma administrativa ou a tentativa de privatização do SUS. A luta para retomar os sindicatos para as mãos dos trabalhadores deveria ser uma consigna central pro conjunto da esquerda.

É por tudo isso que pra nós essas eleições são mais nacionais do que nunca, é por isso que falamos tanto sobre Bolsonaro e o regime do golpe na nossa campanha, e é por isso que não vamos ficar fazendo promessas eleitorais de soluções mágicas pra São Paulo já que qualquer demanda da maioria trabalhadora vai depender essencialmente da organização e luta dos trabalhadores, resgatando aí a tradição da Rosa Luxemburgo contra o reformismo e o oportunismo (ou kautskismo) na II Internacional - os parlamentares podem ser um ponto de apoio, mas não substituem a força da nossa classe e pra ser um ponto de apoio precisam enfrentar o regime e ter um programa anticapitalista. Por isso na nossa visão a tarefa da esquerda deveria ser alertar os trabalhadores pra necessidade de enfrentar os ataques que estão colocados e que nesta conjuntura contam com um verdadeiro pacto entre Bolsonaro e todas as instituições pra nos atacar, o que ficou evidente no abraço entre Bolsonaro e Toffoli. E isso se conecta fortemente com a luta das mulheres, negros e LGBT´s que são o principal alvo do bolsonarismo. A nossa luta não pode ser por representatividade em si mesma, vide o caso da Embaixadora das Filipinas que do alto do seu cargo como mulher no poder agredia cotidianamente a empregada doméstica que trabalhava em sua casa, e por isso também não pode ser por uma sororidade irrestrita que transforma todas as mulheres em aliadas apenas por serem mulheres. Ou um feminismo de araque tipo da Tabata Amaral que fala de feminismo e vota a favor da reforma da previdência.. A luta das mulheres, negros, LGBT precisa estar ligada à luta da classe trabalhadora.

Bom, mas então é por tudo isso que na nossa visão é um erro o programa de gestão municipal, como se fosse possível gerir uma cidade em meio ao bolsonarismo sem romper com os mecanismos como a Lei de Responsabilidade Fiscal que não somente estrangula os orçamentos municipais como garante que também as prefeituras sejam um balcão de negócios para os capitalistas.Nesse sentido, algumas experiências recentes da esquerda europeia são bem fortes pra nós, como exemplos do que não fazer.Acho que no caso de eleições municipais o paralelo principal é com o Podemos no Estado Espanhol, que governou várias cidades, mas queria começar lembrando do primeiro caso mais emblemático, que foi o do Syriza na Grécia. Que chegou ao poder no auge da crise, após dezenas de greves gerais, organizou um referendo contra o plano de ajustes da Troika, e quando a população deu mais uma enorme mostra de rechaço a esses ajustes no referendo… o Syriza foi lá e aplicou os ajustes. O Syriza nunca apresentou um programa anticapitalista, tratava-se de um frágil "antineoliberalismo" que não punha em risco a propriedade capitalista e os acordos com a União Europeia; era apenas mais de esquerda frente às alternativas conservadoras. O líder do Syriza, AléxisTsipras, assim como o Podemos no Estado Espanhol, muito reivindicados por várias correntes da esquerda inclusive do PSOL, faziam questão de aparecer como "moderados", sinalizando ao empresariado que não eram tão radicais, que iriam dialogar com os setores reacionários, etc. A questão é que nunca se trata de uma moderação apenas no discurso como se fosse uma "manobra" pra conseguir ser eleito: o mesmo Tsipras aplicou um duro plano de ajustes contra os trabalhadores. O resultado foi o retorno da direita ao governo em 2019 depois do serviço sujo de Tsipras.

O mesmo caminho foi seguido pelo Podemos. Em primeiro lugar é preciso dizer que no principal processo da luta de classes, o Podemos se opôs a uma demanda democrática básica e histórica da região, que é a da autodeterminação da Catalunha, se somando ao coro promovido pelos setores mais reacionários, entre eles a monarquia, que colocaram todas as suas forças para impedir a independência da Catalunha.Mas também de 2015 até agora, o Podemos dirigiu cidades centrais como Barcelona, Madri, Zaragoza e Cádiz. Apesar do discurso de “mudança” de Pablo Iglesias e companhia, o Podemos se converteu em administrador comum dos negócios capitalistas nos municípios, integrados à arquitetura institucional do Estado. Seus representantes negaram a demanda da remunicipalização dos serviços públicos, o direito à moradia e o fim da precarização do trabalho, chegando a reprimir greves, como a dos metroviários de Barcelona ou dos trabalhadores da Movistar. A ilusão municipalista se mostrou fracassada. Para Pablo Iglesias e o Podemos, gerou frutos: acabou se tornando gestor do capitalismo do Estado Espanhol, dentro do governo imperialista encabeçado pela velha social-democracia neoliberal do PSOE. A questão é que tudo isso não caiu do céu, não é que eles foram "corrompidos" pelo poder, mas sim é mais uma mostra de que o reformismo (ou essas vertentes do neo-reformismo) tentam aparecer como solução a governos de extrema-direita através da conciliação de classes. E o resultado é esse.

Por isso pra nós o enfrentamento à extrema-direita como eu dizia no começo não pode se dar repetindo velhas fórmulas ou aceitando as manobras por dentro do regime político.Na nossa candidatura a gente tem trazido um debate sobre a necessidade de defender uma Nova Constituinte imposta pela luta, e quero abordar isso a partir da experiência chilena do último domingo, que diz respeito também a como não aceitar o desvio da luta que já está sendo articulado no Chile.O resultado do plebiscito no Chile foi uma mostra contundente do rechaço de massas a Piñera e da vontade de enterrar a Constituinte de Pinochet. Por isso é mais importante ainda aproveitar toda a força das mobilizações de jovens e trabalhadores nas ruas, que obrigaram Piñera a convocar o plebiscito, pra não deixar pedra sobre pedra da herança da ditadura. Mas a constituição de Pinochet não foi enterrada ainda e só poderá ser enterrada mediante uma luta extra-parlamentar, mediante a mobilização organizada da classe trabalhadora em uma greve geral que estraçalhe com qualquer resquício da ditadura chilena. E acredito que justamente por isso precisamos alertar as armadilhas desse processo constituinte antidemocrático, que dá poder de veto à direita com a regra de quórum de 2/3, e que será realizada numa convenção com todas as velhas regras eleitorais que beneficiam os partidos da burguesia chilena e sem a participação da juventude. Para terem uma ideia, a UDI, partido da direita com elementos pinochetistas, estava defendendo esse modelo de convenção. Além disso, está previsto que essa convenção não pode questionar os tratados internacionais, nem punir a polícia que matou centenas de pessoas durante os protestos, cegando milhares; a juventude menor de 18 anos, que foi o estopim das mobilizações, não poderá votar nem ser eleita. Por isso alertamos, com nossos companheiros que militam no PTR no Chile que não podemos confiar nos partidos do regime que querem levar adiante a armadilha da convenção. Toda essa força material das ruas, que abriu mobilizações históricas e a greve geral do 12N, pode ser direcionada pra uma greve geral pra derrubar Piñera e impor uma Assembleia Constituinte, verdadeiramente Livre e Soberana, sem restrições quaisquer e sobre as ruínas desse regime político.

O Chile então é exemplo pra nós pela mobilização das ruas mas também é exemplo da armadilha que não devemos cair. Não é de se espantar que haja setores do regime no Brasil que tentem sequestrar o exemplo chileno, se apoiando no que ele tem de mais controlado e institucional que é a própria armadilha da convenção. Ricardo Barros líder do governo na Câmara dos Deputados chegou a fazer menção a isso, mas rapidamente Rodrigo Maia rechaçou qualquer possibilidade. Mas o que fica claro seja num caso, seja no outro, é que o que une todos eles é o desejo de mais e mais reformas anti-operárias e também o medo de uma desestabilização do regime numa eventual Constituinte que choque os interesses de classe dos trabalhadores contra toda a obra do golpe. Isso porque a Constituinte de 1988 foi tutelada pelos militares e os escassos direitos nela contidos, que foram impostos pela força do ascenso operário dos anos 70 e 80 e que sempre defendemos, foram em grande parte desfigurados pelo golpismo e a extrema direita, que tiveram caminho aberto pela conciliação petista. Por isso, pra fazer eco a luta chilena que se levantou em massivas mobilizações no ano passado e que precisa seguir o caminho das ruas e da organização da classe trabalhadora, temos que ver que pra enfrentar a extrema-direita no país não dá só mudando os jogadores é preciso mudar as regras do jogo e lutar por uma nova Constituinte Livre e Soberana, colocando o destino das questões estruturais do país nas mãos da população como poderia ser por exemplo não somente defender o SUS das garras de Paulo Guedes mas impor que todo sistema de saúde seja 100% estatal e seja controlado pelos trabalhadores e trabalhadoras da saúde que foram linha de frente na pandemia, e não por gente como Covas e Doria, golpistas de marca maior. Obviamente isso não será um caminho pacífico já que desfazer a obra do golpe institucional e atacar os lucros capitalistas vai gerar uma forte repressão do Estado com a qual vamos ter nos enfrentar com nossa auto-organização, e nesse caminho a nossa luta é por um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo. Bom, essas são debates importantes que temos que seguir fazendo entre todos nós.

Por isso que nessas eleições viemos levantando essas propostas e defendendo a necessidade também de um forte pólo nacional anti-burocrático que possa organizar os trabalhadores pra enfrentar todos os ataques porque a luta vai muito pra além das eleições. Esse também é o chamado que viemos fazendo pra esquerda.

Então esses eram os comentários que eu queria fazer, agradecendo muito a presença do Safatle e do Plininho, a possibilidade desse diálogo de ideias que é rico e necessário inclusive com posições distintas o que é muito importante e necessário, e também o apoio que eles vêm dando a nossa candidatura por acreditar e confiar que estamos sempre do lado dos trabalhadores, das mulheres, dos negros e LGBTs. Esses apoios não são um detalhe, uma vez que a nossa candidatura é a única da esquerda que não conta com fundo eleitoral e nós também não aceitamos dinheiro de empresas, então é uma campanha que depende totalmente do esforço militante e da colaboração de apoiadores. Não temos dinheiro, não temos tempo de TV, contamos somente com a força militante de todos que estão nos apoiando então agradeço fortemente e faço um chamado a todos e todas a conhecerem e participarem da campanha da Bancada Revolucionária e no próximo dia 15 votar Diana e Bancada Revolucionária 50200."

 
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