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PROTESTOS NA NIGÉRIA CONTRA A POLÍCIA
Nigéria se levanta contra a violência policial
Gabriel Girão

Seguindo o exemplo dos negros nos EUA que se levantam contra a racismo e a violência policial, o povo do maior país do continente africano se rebela contra a polícia e o governo de seu país.

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Com mais de 200 milhões de habitantes e tendo a maior metrópole africana – Lagos, cuja região metropolitana tem mais de 20 milhões de pessoas, o equivalente a Grande São Paulo – a Nigéria possui também uma das polícias mais violentas do mundo. Sendo a maior produtora de petróleo da África – e tendo uma economia muito atrelada a isso – também passa por uma grave crise econômica, com o desemprego em 27%, chegando a 34% na juventude – a maior cifra da década [1].

Durante o confinamento, impôs medidas de isolamento altamente repressivas, que resultaram em várias mortes. Especialmente violenta é o SARS, o Special Anti-Robbery Squad, ou Esquadrão Especial Anti-Roubos. Criado em 1992, muitas vezes seus agentes atuam sem identificação [2]e há inúmera denúncias de todo tipo de abuso cometido, como roubo, extorsão, tortura e estupro [3]. Além disso, como relatado por muitos, a polícia na Nigéria mantém a mesma lógica de atuação dos tempos coloniais, de defender a elite dominante contra a maioria da população, principalmente os mais pobres [4]. Também é importante frisar que a violência policial atinge majoritariamente os jovens, que são mais da metade da população do país.

Já em 2017 ocorreram vários protestos contra o SARS, dando origem ao movimento #EndSARS, que ficou reconhecido mundialmente no twitter [5] com muitas pessoas contando seu relato traumático com a polícia. Fora isso, uma petição online com milhares de assinaturas foi enviada ao parlamento nigeriano. Também foi um dos países que teve fortes protestos em apoio ao levante negro por justiça a George Floyd nos EUA.

No entanto, a segunda onda dos protestos contra a polícia começou no início desse mês e tem sido avassaladora. O estopim foram vídeos de assassinatos cometidos pelo SARS que viralizaram na internet. Os manifestantes saíram às ruas em diversas cidades e contaram com o apoio de diversas celebridades [6]. Além disso, a campanha #EndSARS na internet voltou.

O governo respondeu com repressão que já tinha deixado mais de 10 mortos, segundo a anistia internacional, antes do toque de recolher [7], além de inúmeras mortes incontabilizadas.

No entanto a repressão não foi capaz de deter os protestos e o governo acabou tendo que anunciar a dissolução da SARS e a suspensão de várias operações de outros esquadrões especiais. No entanto, anunciou a criação de um “Esquadrão Anti Crimes” (SWAT) no lugar da SARS. Também prometeu a investigação e punição dos crimes cometidos pela SARS.

Porém, isso não foi suficiente para deter os protestos. Os manifestantes continuaram na rua e a #EndSWAT entrou nos trendings topics da Nigéria. A polícia intensificou a repressão, com jatos de água e prisões e o exército anunciou que estaria pronto pra agir, mas isso também não afugentou os manifestantes. Na segunda-feira os manifestantes bloquearam o aeroporto e invadiram uma prisão no sul do país e liberaram os presos, tendo sido essa manifestação reprimida com armas de fogo pela polícia, matando vários manifestantes, inclusive uma criança de 12 anos

End SARS Protesters Storm Lagos Airport, Ground Activities.
#EndBadGoverance #EndPoliceBrutality

Publicado por End SARS End SWAT em Segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A resposta do governo tem sido mais repressão. O governador do estado de Lagos colocou um toque de recolher ontem, inicialmente de 24 horas, mas que agora passou a ser indefinido. No entanto, isso não impediu os manifestantes que continuaram se mobilizando em Lekki, em Lagos, apesar do toque de recolher gritando “Estamos preocupados? Não, morreremos aqui!”. Na noite, antes do horário do toque de recolher, as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes e falaram que não vão aceitar nenhuma anarquia. A repressão seguiu até a manhã e deixou inúmeros mortos e feridos.

No dia seguinte à repressão, enquanto o país acordava estarrecido, com as lojas fechadas na capital, o governador disse no twitter que não houve nenhum morto. Depois, apagou o tweet e agora assume que há apenas 1 morto [8]. O exército alega que é “Fake News” as imagens circulando pela internet. O presidente pediu “compreensão e calma”. As cenas de repressão, no entanto, circularam no mundo e geraram amplo rechaço internacional. Segundo o jornal The Punch, são 49 mortos no dia de ontem em todo o país. Ainda que o centro de Lagos, extremamente militarizado, não registrava nenhum protesto, há registro de prédios queimados e enfrentamentos com a polícia em vários lugares da cidade. Na África do Sul, onde há uma grande comunidade de nigerianos, também foram registrados vários protestos isolados, confrontos com a polícia e delegacias queimadas no dia de hoje.. Em Londres também foram registrados protestos. A DJ Switch, DJ famosa da Nigéria, postou stories no seu Instagram pedindo ajuda com manifestantes feridos.

Até agora, os epicentros dos protestos têm sido Lagos, o maior centro financeiro e a cidade mais populosa do país, e Abuja, a capital do país, e os protagonistas têm sido a juventude, que são os mais atingidos pela violência da SARS e pela crise econômica. Tendo sido a violência policial o estopim dos protestos, as pautas agora questionam a situação de crise econômica, o imenso desemprego, a precariedade da vida e também o regime político de conjunto. Os manifestantes até agora tem mostrado uma imensa disposição, mantendo as manifestações firmes após dias, mesmo com todas as repressões, se enfrentando com a polícia e incendiando várias delegacias.

Os protestos têm tomado repercussão internacional, ocupando manchetes de todos os jornais do mundo. Além disso, os jogadores de futebol nigerianos Victor Osimhen, do Nápoles e Odion Ighalo, do Manchester United manifestaram apoio aos protestos e as cantoras Rihanna, Beyoncé e Nick Minaj também. Além disso, imigrantes nigerianos têm protestado por todo o mundo em apoio ao levante na Nigéria.

Nigerians In Cleveland, Ohio Joins #EndSARS Protest, Demand President's Resignation

#EndPoliceBrutality #EndBadGoveranceInNigeria

Publicado por End SARS End SWAT em Terça-feira, 20 de outubro de 2020

Imigrantes nigerianos nos EUA protestam em apoio ao levante

Dessa forma, a Nigéria entra no mapa dos levantes que ocorreram após a chegada da pandemia de Covid-19 e também dos países cujo estopim do levante foi a violência policial, assim como Colômbia e os EUA. Aqui no Brasil, onde temos uma das polícias mais assassinas e racistas do mundo, herdeira dos tempos da escravidão e que mata negros sem dó, precisamos nos inspirar nesses exemplos

Notas:

[1] https://oglobo.globo.com/mundo/milhares-voltam-as-ruas-da-nigeria-em-mais-um-protesto-contra-violencia-policial-1-24697733

[2] https://www.vanguardngr.com/2017/12/founded-sars-police-rtd-cp-midenda/

[3] https://www.amnesty.org/download/Documents/AFR4495052020ENGLISH.PDF

[4] https://www.nbcnews.com/news/world/nigerians-push-end-police-brutality-after-global-george-floyd-protests-n1237629

[5] https://www.thecable.ng/nigerians-say-end-sars-police-brutality

[6] https://edition.cnn.com/2020/10/09/africa/nigeria-police-sars-police-brutality-intl/index.html

[7] https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2020/10/4883203-manifestacoes-na-nigeria-ja-resultaram-em-pelo-menos-15-mortes.html

[8] https://guardian.ng/news/nigeria-unrest-spreads-after-shooting-of-protesters/

 
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