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Breonna Taylor
Justiça por Breonna Taylor e por todas as vidas negras
Mike Pappas

O mundo todo acompanhou horrorizado o fato de que os policiais que assassinaram Breonna Taylor não foram nem mesmo sentenciados pelo grande júri. Embora seja trágico e revoltante, não causa surpresa - a polícia, os cães de guarda do capitalismo, protegem o capital e o status quo e, portanto, são protegidos pelo sistema ao qual servem. Justiça para Breonna Taylor e outras vítimas mortas pelos policiais não virá através dos tribunais. É preciso fortalecer a luta anti-racista que se expressou nas ruas, tanto dos Estados Unidos quanto de vários países, entre eles o Brasil.

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(Foto: Cortesia: WAVE 3 News)

Já se passaram mais de seis meses desde que Breonna Taylor, mulher negra de 26 anos, técnica socorrista em emergência, foi baleada depois de ser acordada enquanto dormia em sua cama com seu parceiro. Na madrugada do dia 13 de março, policiais invadiram seu apartamento, com um mandado de prisão, supostamente procurando por um suspeito que já havia sido preso. As evidências apresentadas ao grande júri revelaram que os policiais dispararam 32 tiros contra Taylor e seu parceiro, seis disparos atingiram Taylor e a mataram. Ela era uma trabalhadora da área da saúde, morta em plena pandemia, pelas mãos da polícia em um estado governado pelo partido Democrata.

Na quarta-feira, o procurador-geral do estado de Kentucky anunciou que um grande júri havia decidido não acusar nenhum dos seis policiais envolvidos no assassinato de Breonna. Apenas um deles foi indiciado por três acusações de conduta perigosa por ter atirado em uma das paredes do apartamento vizinho da vítima - um crime nível D (crime leve, que não coloca a vida de pessoas em risco). Em outras palavras, nenhuma dessas acusações sequer reconhece o assassinato de Breonna. Para o estado, a vida dela não importa - mas a parede de um vizinho sim.
Esta decisão estarrecedora que livrou da cadeia os policiais assassinos de uma mulher negra, aconteceu mesmo depois da segunda onda de intensos protestos do movimento Black Livers Matter desencadeado pela morte de George Floyd que durou várias semanas em todo o país e se espalhou mundo afora. Esta decisão é mais uma prova de que não haverá justiça para Breonna Taylor - ou qualquer outro morto pelas mãos ensanguentadas da polícia.

Apesar da grande atenção despertada pelo assassinato de Breona e demais assassinatos pela polícia, o sistema de justiça não está disposto a fazer o mais básico que é o de indiciar os policiais assassinos e condená-los à prisão.
Os tribunais de justiça estão fazendo exatamente o que foram criados para fazer: proteger os policiais e os capitalistas. Já vimos isso acontecer várias vezes e agora estamos vendo isso novamente no caso de Breonna. No Brasil vemos similar injustiça, com o caso Marielle Franco ainda em aberto. Não podemos ter nenhuma confiança no partido Democrata dos EUA, que agora traz na sua chapa para a corrida presencial, uma policial como candidata a vice-presidente. De forma similar agem os partidos no Brasil, como é o caso do PSOL, que nessas eleições coloca um coronel da polícia na corrida pela vice-prefeitura na cidade do Rio de Janeiro, ou também o PT, que tem como candidata para a prefeitura de Salador uma policial militar. É por isso que precisamos nos rebelar. É por isso que temos de lutar com a nossas próprias mãos.

Os políticos democratas não são a resposta

Aos olhos do Partido Democrata, rebelar-se significa simplesmente “votar azul” em novembro [a cor azul representa os democratas nos EUA]. Políticos como o presidenciável democrata Joe Biden afirmam que Donald Trump e o Partido Republicano são o problema. Ele repete continuamente: "Isto não é quem somos" e "isto não é o que fazemos." - como se o racismo e os assassinatos racistas da polícia não existissem antes da presidência de Trump. Os democratas adorariam que você esquecesse que Biden é um racista que, como Trump, também ama a brutalidade policial e desempenhou um papel central, como vice-presidente de Barack Obama, na criação do sistema de encarceramento em massa nos EUA como o conhecemos hoje.

Enquanto isso, os políticos democratas por todo o país continuam reprimindo com violência policial as mobilizações em massa contra a violência policial. Eles não querem mudança; eles simplesmente querem mais estabilidade para um sistema capitalista racista que continue a atacar a classe trabalhadora e demais pessoas oprimidas. Trump serve apenas como uma vitrine da podridão racista, capitalista e imperialista própria dos Estados Unidos da América. Os democratas ajudaram a criar essa podridão, e uma mudança no comando não será efetiva para lidar com o fato de que negros, indígenas e demais pessoas não-brancas estão sendo continuamente mortas a tiros pelos cães de guarda racistas do capital: a polícia.

Polícia brasileira também mata a juventude negra e pobre

Assim como nos EUA, a polícia segue matando livremente no Brasil. Mesmo durante a pandemia, quando considerável parcela da população segue medidas de isolamento social, os assassinatos por policiais aumentaram em mais de 7%. Foram 3.148 mortes pelas mãos da polícia, somente no primeiro semestre de 2020. Em sua maioria esmagadora foram assassinados jovens negros pobres, dente eles várias crianças negras como a menina Ágatha Vitória Sales Félix de oito anos que morreu com um tiro de fuzil nas costas disparado pela polícia militar do RJ no ano passado.

As similaridades entre os EUA e o Brasil com relação ao racismo estrutural e a letalidade policial não são coincidências. A impunidade com a qual são agraciados os policiais norte-americanos, também é generosamente vivenciada por policiais genocidas em terras brasileiras. Isso tudo é parte integral da ferrenha opressão racial necessária para manutenção do sistema capitalista. Aqui também ainda esperamos em vão por justiça por Ágatha, João Pedro, Rodrigo Cerqueira, Juan de Oliveira e todos os mortos pela polícia racista.

É chocante e entristecedor ver que um partido dito socialista, como o PSOL, que para disputar as eleições municipais do Rio de Janeiro, decidiu ter como vice em sua chapa aquele que já chefiou a PM do estado, o coronel reformado Ibis Pereira. Ao invés de se aliar com alguém que já comandou a brutal repressão policial carioca, e que ainda mantém vínculos diretos com o braço repressor do estado, o PSOL deveria estar junto e lutar junto com o povo negro contra o genocídio da sua juventude pela polícia. A nomeação de Ibis como candidato causou com que a professora Carolina Cacau, militante do MRT, retirasse sua candidatura a vereadora em oposição e repúdio a presença de um PM aposentado na chapa do PSOL carioca.

Devemos lutar contra a polícia racista e o capitalismo

A polícia é uma instituição que existe para proteger a grande propriedade privada capitalista, a propriedade dos ricos e o status quo. Para cumprir com suas responsabilidades, os policiais receberam o direito de aterrorizar, brutalizar e matar pessoas em nossas comunidades, especialmente pessoas negras, pardas e indígenas.

Para acabar com a brutalidade policial é necessário a mobilização da classe trabalhadora, que pode parar as engrenagens do sistema capitalista racista que depende da violência policial para continuar a colher lucros. Levantes em massa de jovens predominantemente negros, pardos e indígenas já começaram esta luta. Para impor uma ameaça efetiva ao sistema, as mobilizações devem se estender aos nossos locais de trabalho. Devemos retomar com vigor nossas organizações de classe - nossos sindicatos - e fazer greve contra o terror policial.

Podemos fazer isso nos organizando dentro das bases para combater o obstáculo crítico em nossos sindicatos: a burocracia sindical covarde - agentes da burguesia - que está focada nas eleições. Ao invés de apoiar a luta de classes e efetivamente combater a brutalidade da polícia assassina, os burocratas sindicais querem que acreditemos exclusivamente nas urnas. Nos EUA, eles querem ajudar a eleger um estuprador senil e racista (Joe Biden, candidato democrata) e no Brasil estão focados nas eleições municipais (onde os partidos de “esquerda” estão se coligando com partidos da burguesia, ou mesmo aceitando PMs em suas chapas como mencionado acima).

Ao mesmo tempo, devemos continuar nossa luta para expulsar os policiais de nossos sindicatos, mesmo que os dirigentes sindicais continuem a promover a mentira descarada de “laços de fraternidade” entre trabalhadores e policiais. Policiais não são trabalhadores; eles são inimigos da classe trabalhadora e dos oprimidos. Os sindicatos de porcos protegem os policiais assassinos até mesmo de consequências mínimas por suas ações brutais.

Além de atrapalhar o tráfego nas ruas com massivas mobilizações, devemos fazer o trabalho de organização dos trabalhadores em nossos locais de trabalho, ativando diversos setores para a luta. Devemos construir comitês de trabalhadores e assembleias para se opor às condições degradantes de exploração sob as quais todos nós trabalhamos, e também devemos nos prepararmos para greves em massa - greves reais, não greves falsas ou ações simbólicas chamadas de "greves" pela burocracia sindical - para exigir justiça de verdade para todos os mortos nas mãos da polícia. Justiça significa mais do que apenas indiciar os policiais responsáveis ​​pelos assassinatos. Também significa que a classe trabalhadora deve se organizar para eliminar não só a instituição racista que é a polícia, mas principalmente o sistema capitalista que nos explora e oprime diariamente.

A polícia, em sua totalidade é uma doença que assola nossa sociedade. Não há como remediar essa doença pois ela é fatal; ela é altamente letal para a classe trabalhadora e principalmente para a juventude negra. A doença deve ser eliminada. O capitalismo é um sistema econômico explorador, focado em extrair lucro a partir do nosso trabalho - não importa o custo, mesmo que ele seja vidas humanas. Este sistema é a raiz do sofrimento e da morte em massa em todo o mundo. Para manter esse sistema de exploração, os indivíduos devem ser controlados e reprimidos por meio da violência policial e da opressão da classe trabalhadora. Ao mesmo tempo, para manter uma sociedade de classes baseada na exploração, o capitalismo se arma do racismo e o mantém funcionando. Citando Malcom X: “Não se pode ter capitalismo sem racismo”. É por isso que a luta para acabar com a violência policial deve ser inevitavelmente uma luta para destruir o capitalismo.

 
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