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Com o aumento dos alimentos, querem que paguemos o custo da crise
Thiago Flamé
São Paulo
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os economistas liberais do governo e da oposição querem nos acalmar. O aumento dos alimentos, dizem, não vai gerar inflação e logo vai acabar. Não se preocupem, é só um reajuste de preços. Outros dizem, como teve o auxílio e aumento de demanda, com a próxima safra tudo será corrigido. Enquanto isso, pagamos a conta.

O arroz, a carne, o feijão, óleo de soja, cebola, leite. Todos tiveram aumentos bem acima da inflação. As causas são variadas. Alguns alimentos são importados, outros são exportados, ambos sujeitos aos preços internacionais e a variação do dólar. E o dólar e os preços de alimentos no mercado internacional estão em alta. A enorme pobreza no país, aumentada dramaticamente durante a pandemia, também explica por que o auxílio emergencial aumentou o consumo de alimentos de amplos setores, que se equilibram no limite da subnutrição.

O perigo de uma inflação generalizada parece ainda distante, justamente pelo desemprego e a queda de renda brutal que sofreu a classe trabalhadora. Os empresários e banqueiros que comandam o país se dividem e oscilam em torno de qual caminho tomar. Precisam atacar ainda mais as condições de vida do povo para maximizar seus lucros em tempos de crise, mas temem que esses ataques, nas condições da crise econômica da pandemia despertem a fúria popular.

Bolsonaro e Paulo Guedes estão implementando um profundo ajuste fiscal, com a reforma administrativa e a pec do pacto federativo e privatizações para pagar a dívida pública e os custos da pandemia. Essa saída representa um ataque enorme à maioria da população. Incluiria o fim do auxílio em dezembro (por Paulo Guedes poderia ter sido antes), o avanço do desemprego e a flexibilização trabalhista e a uberização, privatizações. Tem o significado de um grande roubo efetuado à luz do dia, tirando da classe trabalhadora e do povo e dando para as elites financeiras para pagar os gastos da pandemia e o déficit público crônico causado pela dívida interna e externa. Dificilmente Bolsonaro avançará por esse caminho sem ver abalada sua popularidade e sem se enfrentar com mobilizações, greves e revoltas.

Temendo esse cenário, tímida e demagogicamente, Bolsonaro começa retoricamente a esboçar outro caminho, que representaria um roubo mais disfarçado, mas nem por isso menos eficiente. Se o governo avança pelo caminho de manter o auxílio para além de dezembro e suavizar de alguma maneira o teto de gastos, abrindo espaço para algum tipo de estímulo à economia, conteria a espiral recessiva com chances de manter a sua popularidade. Seria basicamente tirar de uma parte dos trabalhadores para dar um pouquinho aos pobres e paupérrimos mantendo algum tipo de auxílio, mas aplicando as reformas e privatizações e abrindo espaço para uma inflação maior, uma maneira de fazer o conjunto da população pagar o déficit fiscal. O mercado financeiro também reagiria, pressionando mais o preço do dólar e aumentando as pressões inflacionárias internas mesmo com alto desemprego. De uma forma ou de outra, pagaremos a conta.

A imprensa neoliberal grita a cada arroubo retórico de Bolsonaro, mas apesar dos regateios eleitorais de Bolsonaro e seu incômodo com esse plano, é ele que vai sendo aplicado pelo governo. Enquanto o governo vai avançando no seu ajuste fiscal, os latifundiários e as grandes redes de supermercados repassam livremente para o preço dos alimentos no mercado interno o aumento da demanda internacional e do dólar, e aumentam seu lucro e seu peso na economia nacional às custas da alimentação dos setores mais precários. Mesmo com desemprego e em recessão, não podemos deixar de comer.

Não podemos simplesmente esperar uma possível estabilização dos preços, enquanto a inflação dos alimentos atinge justamente quem menos pode esperar. Essa só vai se dar em base ao desemprego, privatização e ajuste fiscal (ou seja, ataques contra a saúde e a educação e a todos os serviços públicos). A reforma administrativa do governo protege o judiciários e os altos salários, e a uberização e a flexibilização trabalhista combinadas com o desemprego acabam com nossos salários e direitos.

Para enfrentar esses planos, precisamos superar a divisão que o governo está aprofundando entre os setores mais precários e os mais estáveis da classe trabalhadora. Mais da metade da classe trabalhadora brasileira já está na informalidade ou nos aplicativos, não recebe nenhum direito trabalhista e está mais vulnerável a alta dos alimentos. Com essa situação o governo nos chantageia e tenta convencer os mais precários de que para resolver o seu problema é preciso tirar os direitos de quem ainda tem algum. Sobre os preços dos alimentos, só oferece um um discurso demagógico, apelando aos produtores e donos de supermercados para não aumentar os preços.

A unidade entre todos os setores da classe trabalhadora precisa ser construída e um primeiro passo seria uma luta comum contra a alta dos alimentos. Os estoques das redes de supermercado e dos grandes produtores rurais deveriam ser confiscados e colocados a disposição de comitês por bairro e local de trabalho para ser distribuído para os que mais precisam. Os preços dos alimentos deveriam ser imediatamente congelados voltando ao nível de antes da pandemia.

Os sindicatos e as organizações de esquerda que representam os setores melhores pagos da classe trabalhadora deveriam estar na linha de frente desse combate, articulando uma grande unidade operário e popular contra o latifúndio e as redes de supermercados e defendendo reajuste dos salários em proporção ao comprometimento da renda com alimentação para compensar essas altas. Os primeiros passos para uma campanha unitária deste tipo poderiam ser atos nos supermercados e nos estoques logísticos exigindo a queda dos preços e a criação de comitês de controle de preços, denunciando os aumentos em cada bairro das grandes cidades.

Essas medidas sozinhas, no entanto, seriam apenas paliativos. Junto com elas se coloca na ordem do dia uma luta muito mais ampla. Derrubar o teto de gastos e a lei de responsabilidade fiscal, barrar as privatizações, a flexibilização trabalhista e a uberização, abrindo caminho para impor o não pagamento da dívida pública, uma ampla reforma agrária e o monopólio do comércio exterior (uma ferramenta fundamental para evitar o impacto dos preços internacionais no custo do alimento).

 
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