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Colômbia
“Estão nos matando”, o grito na segunda jornada de protestos contra a polícia na Colômbia
Milton D’León
Caracas

Nesta quinta, voltaram os protestos em diferentes zonas de Bogotá e em outras cidades da Colômbia contra a violência policial, ainda que desta vez em menor intensidade do que era esperado. As respostas à rebelião na noite de quarta-feira, pelo assassinato de Javier Ordoñez, foi uma brutal repressão que deixou um saldo de dez manifestantes mortes.

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A indignação e a raiva foram desencadeadas na Colômbia, com especial intensidade em Bogotá, após o brutal assassinato de Javier Ordoñez. A maior parte daqueles que se movimentam, e saem às ruas para protestar são jovens que, como se expressou em novembro do ano passado, perderam o medo pela qual a população vinha sendo submetida a décadas.

Em várias cidades colombianas foram queimando dezenas de postos da Polícia chamados CAI (Comandos de Acción Imediatas), que não são mais que lugares de detenções arbitrárias, violações sexuais, abusos e torturas quando não de assassinatos. Javier Ordoñez foi levado a um destes lugares para ser torturado em via pública, e dizendo “Por favor, chega, estou sufocando”, que não mais faziam além de recordar das palavras de George Floyd, assassinado também por forças policiais nos Estados Unidos.

Não casualmente estes protestos acontecem em um momento em que acontecem manifestações no Estados Unidos contra a discriminação racial e o abuso policial aos negros. Os protestos na Colômbia estão mais estreitamente ligados ao abuso contra os jovens e pobres, onde pesa também classe e raça na hora de matar por parte dos corpos repressivos.

Neste país, o foco da raiva é esta maldita polícia que goza de completa impunidade na Colômbia, repressiva e assassina de jovens, lutadores sociais, dirigentes comunitários, indígenas, sindicalistas, enfim, contra aqueles que se atrevem a sair e protestar e defender seus direitos. Não é casual que o primeiro ato de Iván Duque, atual presidente da Colômbia, após o começo das revoltas foi defender as forças policiais assassinas, e seu mentor, Álvaro Uribe, realizando um chamado para mais militares nas ruas.

Por isto em diferentes lugares, tanto na quarta quanto na quinta, foram abertas batalhas campais entre os manifestantes e as forças de repressão onde múltiplos edifícios da polícia foram destruídos. A fúria se chocou de frente com o sinistro CAI com o grito: Chega!

Foram muitas as cidades do país em que saíram para protestar, principalmente em Bogotá, Medellín, Cali, Barranquilla, entre outras. Apenas em Bogotá, desde as primeiras horas, 17 mobilizações se iniciaram em lugares como a CAI Villa Luz, Rincon, Plaza de Bolívar e Portal Norte, entre outros.

Como na quarta-feira, na quinta o alvo dos protestos foram os CAI da polícia, atacados com pedras e outros objetos e obrigaram em alguns casos a intervenção de unidades anti-motins como os assassinos do Esquadrão Móvil Antidistúrbios (Esmad).

Em Bogotá de novo o principal ponto de concentração foi o CAI de Villa Luz no oeste da cidade, onde “trabalham” os policiais envolvidos na morte de Javier Ordoñez. Como resposta a situação, membros do Esmad jogaram gases lacrimogêneos para força-los a se dispersar.

Uma das situações mais tensas aconteceu no bairro Zona Franca, na localidade de Fontibón, também ao oeste de Bogotá, onde foram lançadas pedras e pedaços de madeira contra a infraestrutura e que desatou em um enfrentamento, que, segundo denúncias nas redes sociais, ocorreram vários disparos para o alto.

No bairro Verbenal, ao norte de Bogotá, onde vivia dois dos jovens assassinados na revolta da quarta-feira, os manifestantes chegaram com paus e objetos inflamáveis ao CAI e acenderam fogo como na noite anterior.

Também houve ações de protestos em outras zonas como no Portal del Norte e no tradicional bairro 20 de julho, no sul da cidade, onde se enfrentaram a Esmad e os manifestantes. Frente a esta situação a prefeitura de Bogotá decidiu adiantar das 23:00 para as 20:00 horas o fechamento das operações do sistema de transporte público, Transmilenio.

Em outras cidades do país como Calì, os protestos se expressaram em saques nas agencias do BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria) e do Banco de Bogotá, sendo que durante os enfrentamentos com a Polícia se romperam vidro de uma estação do sistema de transporte público MIO.

Em Medellín, os manifestantes se reuniram no Parque de los Deseos com o propósito de percorrer várias ruas até chegar ao Comando da Polícia Metropolitana do Valle de Abrurrá. Em Barranquilla, um grupo protagonizou protestos na Plaza de la Paz com o grito “Por que nos assassinam?”

Em Barraquilla assim como em outras cidades intermediárias como Cúcuta, que tem a principal travessia de fronteira com a Venezuela, estas cenas se repetiram; Manizales e Pereira, localizadas no Eixo Central do Café, e Ibagué, capital do departamento de Tolima.

A violência policial dos corpos repressivos colombianos é atroz, e em tempos de pandemia mais poderes foram delegados a polícia. Em vez de medidas de controle de saúde pública se estabeleceram medidas policiais de abuso, onde empoderaram os corpos repressivos dando-lhes carta branca em suas ações criminosas.

Destas ações surgem os assassinatos em tempo de pandemia, como o caso de um jovem negro, Anderson Arboleda, que foi morto em Puerto Tejada por “violar” a quarentena. Dois patrulheiros da Polícia o golpearam várias vezes na cabeça, o que ocasionou - horas depois - um derrame cerebral. Estava na porta de sua casa.

A isto, há de se somar os violentos despejos em plena quarentena com a destruição de casas em zonas muito pobres nos arredores de Bogotá e outras cidades. Não são ações de vandalismo o que se tem visto nas jornadas de protestos, como pinta a imprensa medíocre e para o governo ou as elites no poder, é a raiva contida diante dos abusos policiais.

De acordo com a Temblores Ong, organização que trabalha pela proteção dos direitos humanos, que desde 2017 vem documentando os distintos casos de abuso e violência que envolvem a polícia, contabiliza até o momento cerca de 40.400 casos, tendo como fonte principal de informação o Instituto Colombiano de Medicina Legal, o que indica que o número seguramente é mais elevado.

Apenas no primeiro trimestre deste ano se abriram por abuso policial, oito processos por dia. No primeiro semestre a polícia abriu 3.647 casos, 1.474 por abuso de autoridade. E os não denunciados? Deste número de casos apenas 10 policiais foram desinstituidos.

Durante décadas a polícia colombiana foi o braço do exército, assim como tem sido um instrumento constante para proteger as classes dominantes, bancos e poderosos, com abusos atrozes e horríveis assassinatos. Não se trata de excessos, na Colômbia - é violência institucional e estatal. Por isso, não há reforma nem democratização possível desta polícia assassina, apenas cabe a dissolução de todos os órgãos de repressão estatal.

 
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