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LULA
Contradições do discurso de Lula: a divisão de tarefas no PT e a passividade das centrais
Jean Barroso
Rafael Barros

Lula discursou hoje, em vídeo especial no 7 de setembro. Nos mais de 20 minutos, falou sobre Bolsonaro, a situação do Brasil, e discursou para a sua base histórica, atacando a Lava Jato, falando contra as privatizações e a retirada de direitos dos trabalhadores. Sua fala expressa a contradição dos anseios de seus seguidores com a prática concreta do Partido dos Trabalhadores, que tem buscado alianças com apoiadores do golpe institucional, ou nos governos estaduais onde o PT tem aplicado reformas das previdências estaduais, e nas centrais sindicais que têm praticado uma verdadeira trégua com Bolsonaro.

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Em seu discurso hoje (7), Lula falou contra Bolsonaro começando por responsabilizá-lo pelas quase 130 mil mortes pelo coronavírus. Em um discurso de quase 30 minutos, Lula denunciou dezenas de medidas antipopulares do governo de Bolsonaro, desde a entrega à preço de banana do direito de exploração do pré sal, passando pela denúncia do corte do auxílio emergencial pela metade, o direcionamento de 300 bilhões de reais do orçamento público para saldar a dívida pública, fazendo também a denúncia do racismo em que Bolsonaro se apoia, denunciando que 60% das vítimas do coronavírus se auto declaram negros ou pardos. Lula citou o assassinato de George Floyd nos EUA, como elemento do questionamento ao racismo, assim como combinou o conjunto das denúncias à um programa de taxação proporcional das fortunas combinado com a defesa de um “novo contrato social”, no qual busca fazer uma conciliação entre programas sociais e interesses burgueses, defendendo que as administrações federais do PT, com Lula e depois com Dilma, teriam sido uma “revolução pacífica”, realizada sem violência.

Lula adotou um tom de denúncia do governo de Bolsonaro como se o próprio Partido dos Trabalhadores, através do seus governadores estaduais, não estivesse adotando medidas de ataques contra os trabalhadores com as reformas das previdências nos estados. Lula também denunciou os acordos que, segundo ele, não contavam com a participação popular, como se o próprio Partido dos Trabalhadores não estivesse impulsionando uma política de Frentes Amplas, política que contou com a vergonhosa participação de FHC e Geraldo Alckmin, ou Neca Setúbal herdeira do Itaú. Lula denunciou a farsa da Lava Jato, operação golpista que o tirou do páreo, denunciando também o golpe institucional de 2016 que tirou Dilma do poder, como se o Partido dos Trabalhadores não estivesse hoje completamente pactuado com o Congresso Nacional e com o Supremo Tribunal Federal - o mesmo STF de Dias Tofoli, que deixou a cadeira de presidente do Supremo dizendo não ver ameaças à democracia por parte de Bolsonaro.

A única coisa que sustenta o discurso de Lula é a falsa ilusão de que ele estaria separado da política concreta do PT, a mesma política que já está se expressando nas eleições municipais com inúmeras alianças, não só com burgueses como o PT sempre fez, mas até mesmo com bolsonaristas como vem fazendo no interior de diversos estados do país.

Se por um lado, Lula diz que sua resposta ao entreguismo de Bolsonaro aos EUA, e ao sofrimento dos milhões de brasileiros com o desemprego e a pandemia, seria respostas com a classe trabalhadora “ativa efetivamente”, esquece de dizer qualquer palavra sobre o papel da CUT, dirigida pelo próprio PT, e também sobre a CTB, dirigida pelo PCdoB.

Os governadores do PT, que por sinal, são, ao contrário do que aponta o discurso de Lula, falando contra o Teto de Gastos, parte importante de apresentar o PT para o capital financeiro como uma “alternativa viável”, aprovando ajustes como as reformas da previdência estaduais, que no caso de Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte, ainda aprovou esse ataque em plena pandemia. Os governadores no Nordeste colaboram ainda com o fortalecimento das mesmas polícias que Bolsonaro bate palmas e estimula em suas bravatas, aumentando os investimentos gastos das forças repressivas nos estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Maranhão, Ceará e Piauí.

Sim, de fato o governo Bolsonaro desde que assumiu, desferiu ataques contra a organização sindical dos trabalhadores, mas ao mesmo tempo, as centrais dirigidas pelo PT, assumiram sempre posturas distantes do enfrentamento com a pandemia, com uma política de “quarentena sindical”, onde os dirigentes das Centrais ficavam em suas casas enquanto a imensa maioria dos trabalhadores foi acossada por Bolsonaro e Paulo Guedes a escolher entre o risco de morte e o risco de ficar desempregado.

Agora, em meio a pandemia, deixaram que passasse sem qualquer tipo de resistência todos os ataques e flexibilizações das MPs de Bolsonaro, aceitando suspensões de contratos, reduções de jornada com redução salarial, e com líderes sindicais usando a quarentena como desculpa, em categorias nas quais os próprios trabalhadores não tiveram o direito à quarentena, e seguiram trabalhando.

Longe do que diz Lula, os “acordos por cima” estão na linha de primeira ordem para o PT. Se Lula se distanciou mais de manifestos como o dos “Somos 70%”, e outros, figuras do PT como Haddad, e como governadores do Nordeste, se aproximaram, também mostrando essa divisão de tarefas dentro do partido, na qual Lula tem exatamente essa posição, mais “livre” para fazer discursos mais radicais do que a prática de seu partido, sem parecer que “suja suas mãos”, com os acordos e o trabalho por frentes amplas com todo o tipo de golpista da direita brasileira.

Aposta petista no mal menor reformista frente ao autoritarismo entreguista e ultra liberal de Bolsonaro

Para além da contradição do discurso de Lula com a prática do Partido dos Trabalhadores, é preciso discutir porque, afinal de contas, há dezenas de milhões de trabalhadores que prefeririam voltar aos anos em que a crise econômica era ainda uma “marolinha”. A administração petista consistiu e dar algumas concessões, nos anos em que a economia ia mal nos países do centro capitalista, especialmente com a crise de 2008.

E mesmo assim, as concessões dadas pelo PT foram em base a manter toda a força da direita no poder. O PT conciliou com a reacionária bancada evangélica e não concedeu o direito ao aborto, e foi no governo do PT que os postos de trabalho da terceirização se expandiu em dezenas de milhões de contratos precarizados ocupados sobretudo por mulheres negras em sua maioria. E foi ainda no governo do PT, com o discurso da “soberania” de Lula, que o Brasil coordenou a ocupação do Haiti, colocando suas tropas a serviço da opressão imperialista e racista.

Todas concessões dadas pelo PT foram proporcionadas por situação econômica totalmente distinta da que vivemos hoje. Quando Lula fala em um “novo contrato social”, fazendo alusão a um governo capitaneado por uma liderança de esquerda que busque uma conciliação com a burguesia, está vendendo uma ilusão totalmente descabida. Se o golpe institucional ensinou alguma coisa, foi que a 1) burguesia brasileira não tem nenhum respeito pelo voto popular e 2) que em momentos de crise, sequer as poucas concessões que o PT deu a burguesia brasileira é capaz de aceitar - mesmo sendo concessões dadas em base a permitir lucros recordes aos capitalistas.

Ou seja, Lula segue apostando nos acordões por cima, através de uma divisão de tarefas do Partido dos Trabalhadores. Ao contrário de defender esta democracia degradada, usando os métodos de alianças com partidos corruptos e golpistas que o Partido dos Trabalhadores assimilou, para lutar pelo Fora Bolsonaro e Mourão consequentemente seria preciso que o PT deixasse de ser o PT, rompesse com a conciliação de classes, o que não vai ocorrer porque está em seu DNA, na prática de apostar em acordos com Rodrigo Maia e o Congresso Nacional, e na ilusão jogada no STF que atuou para sustentar Bolsonaro.

Para haver verdadeira participação popular, que não seja a espera por um Lula em 2022, e para lutar em defesa dos poucos direitos democráticos e sociais conquistados pela luta dos trabalhadores, seria necessário impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, em oposição ao avanço autoritário iniciado com o golpe institucional de 2016. Iniciando a participação direta na elaboração das leis, passando por cima da casta política e judiciária que usurpou até mesmo o direito de voto do povo, os trabalhadores e o povo pobre poderiam avançar sobre a riqueza de um punhado de bilionários que vivem do trabalho de dezenas de milhões. Assim seria possível que o povo avançasse para a consciência de que são os trabalhadores que não precisam dos patrões para governar nem as empresas nem o país.

Veja também: Manifesto: Propostas do MRT diante da crise no Brasil e no mundo

 
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