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Violência Policial
Em meio a pandemia, número de mortos pela polícia cresce
Redação

Número de mortos pela polícia cresce 7% em relação ao ano passado, de acordo com os dados do G1.

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“Pai, quero ser advogado. Vou fazer direito!” disse João Pedro, um jovem negro cujos sonhos foram ceifados pela polícia do Rio de Janeiro quando tinha apenas 14 anos de vida.

3.148. Três mil cento e quarenta e oito é o número de mortos pelas mãos da polícia apenas neste primeiro semestre de 2020, sem contar o estado de Goiás que se recusou a passar seus dados. Em meio à pandemia, ao isolamento social, poderíamos imaginar que esse número cairia em relação ao do ano passado, porém a realidade cruel da crise mostra o contrário. 2019 registrou 2.934 mortes, um número 7% menor em relação ao deste ano. O Mato Grosso, por exemplo, mais que dobrou os números de pessoas mortas por policiais, passando de 25 mortes para 53 neste ano.

Dentre os assassinados, 75% eram negros, e esse número, mesmo que absurdo, não representa a realidade, sendo, muito provavelmente, menor do que o real, pois apenas 15 estados informaram a raça das vítimas.

No panorama nacional, vemos que os cinco estados que apresentaram o maior número proporcional de mortos são: Amapá (8,1 a cada 100 mil), Sergipe (4,6), Rio de Janeiro (4,5), Bahia (3,4), e Pará (3). Já em números absolutos, Rio de Janeiro lidera o ranking com 775 mortos.

Esses elementos são indícios da opressão do Estado burguês, e apresentam a ponta o iceberg do que significa a violência policial no Rio de Janeiro. O gráfico acima mostra que nos 5 primeiros meses de 2020 houve um número recorde de mortes desde 1998.

Todavia, vendo as coisas dessa forma, não podemos esquecer que por detrás de cada número há uma pessoa com uma vida, uma história, um sonho. Essa era a realidade do jovem João Pedro, um garoto negro de 14 anos que no dia 18 de maio de 2020 foi assassinado pelas mãos da polícia ao ser baleado dentro de casa no meio de uma operação policial.

Em entrevista, seu pai, com a voz embargada de emoção, conta que “A polícia interrompeu o sonho do meu filho. A polícia chegou lá de uma maneira tão cruel, atirando, jogando granada, sem perguntar quem era”, “a polícia matou uma família completa. Matou um pai. Matou uma mãe. Matou uma irmã. E principalmente o João Pedro. Foi isso que essa polícia fez com a minha vida”, "um jovem de 14 anos, um jovem com um futuro brilhante pela frente, que já sabia o que queria do seu futuro. Mas, infelizmente a polícia interrompeu o sonho do meu filho.”

O caso de João é uma cicatriz aberta que não para de sangrar na face de cada um de nós, explorados e oprimidos por esse sistema. É emblemático porque escancara a irracionalidade do Estado capitalista cujo braço armado, a polícia, mata o povo preto e pobre em prol da propriedade privada e da manutenção da “ordem”, ordem essa que nada mais é do que a perpetuação das classes sociais e da exploração do trabalho. João Pedro grita para nós, em seu silêncio sepulcral, que a polícia não existe para nos proteger ou a vida.

Toda a tradição marxista mostra que o Estado é o aparelho de dominação de uma classe sobre a outra. Além disso, um dos elementos chave para a definição de Estado é o destacamento de homens armados, a nossa polícia de hoje. A polícia é uma instituição que existe para reprimir possíveis levantes da classe oprimida e explorada, assim como para proteger a classe dominante. Ela existe, portanto, para manter a realidade como ela é: desigual, injusta e sangrenta, e é extremamente necessária para os burgueses justamente por isso, pois é muito difícil, principalmente em momentos de crise profunda e orgânica, como a que estamos vivendo, submeter-se à miséria social que os dominantes apresentam.

Sobre o tema, Trotsky escreveu “O fato de que a polícia tenha sido originariamente recrutada em grande número entre os operários socialdemocratas não esclarece muita coisa. Mesmo aqui, a consciência é determinada pelo ambiente. O operário que se torna um policial a serviço do Estado capitalista é um policial burguês, não um operário. Nos últimos anos, esses policiais lutaram muito mais contra os operários revolucionários do que contra os estudantes nazistas. Tal treino não deixa de produzir os seus efeitos. E acima de tudo: cada policial sabe que o pensamento do governo pode mudar, mas a polícia continua” (“Problemas Vitais do Proletariado Alemão”, 1931).

Tal perspectiva é extremamente necessária para que a classe trabalhadora não caia na armadilha de enxergar os policiais como aliados. Não se trata de um julgamento moral. Estamos falando da realidade concreta e da função de cada instituição dentro da realidade que é o capitalismo.

Nesse primeiro semestre de 2020, o número de morte dos policiais também aumentou em relação ao do ano passado, de 83 passou para 103. Ao contrário do que dizem, todavia, essa não é uma guerra na qual todos saem perdendo. Primeiro porque os policiais e a população estão, como está desenvolvido acima, em lados oposto. Depois porque há um desnível brutal entre aqueles que possuem o monopólio da violência dos demais. Por último e mais importante, não são todos que saem perdendo, uma vez que a polícia vem cumprimindo seu papel no Brasil e no mundo, haja vista a grotesca violência policial nos Estados Unidos, com maestria, já que por ora a burguesia mantém-se no poder.

Chamar o que vivemos no Brasil de Estado de Guerra ou de Exceção, pelo número de mortos equiparar-se, por exemplo, às guerras da Síria ou do Afeganistão implica em não ver que na própria democracia burguesa há espaço para essas atrocidades acontecerem.

Pegando os Estados Unidos, por exemplo, 987 pessoas perderam a vida atingidas por disparos de policiais em 2017, contra 963 em 2016 e 995 em 2015, indicou o jornal, que faz a conta dos tiroteios com presença policial desde 2015. George Floyd, ao ser sufocado pelo joelho do policial racista, lembrou a nós que também estamos perdendo o nosso ar a cada dia que passa. Com a sua morte, levantou-se um levante da fúria negra por diversos países do mundo, mostrando que nós não nos calaremos. Sem justiça, sem paz.

 
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