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GREVE DOS CORREIOS
A vida dura dos trabalhadores dos Correios, chamados de “privilegiados” por Guedes e pela mídia
Rafael Barros

A realidade é de uma enorme sobrecarga de trabalho, acidentes, lesões fruto da rotina de trabalho, e salários bem distantes do que Paulo Guedes e a grande imprensa inventam. Mentem que os trabalhadores são “privilegiados”, que trabalham pouco e ganham muito, mas o que querem é destruir os direitos do funcionalismo para avançar contra todos os trabalhadores, e entregar os Correios de bandeja para grandes empresários com a privatização.

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Os trabalhadores dos Correios são parte dos trabalhadores essenciais. Que seguiram trabalhando em meio à pandemia, garantindo o funcionamento de tudo. Obrigados a trabalharem sem os EPIs adequados, e perdendo colegas de trabalho para a COVID-19. Já foram 120 trabalhadores dos Correios mortos pela doença.

Mas mesmo assim, segue o ataque dos governos e da grande mídia contra eles. Já são anos que se escuta falar com mais força da privatização dos Correios, governo após governo. Com mais força definitivamente depois do golpe e da presidência de Temer, e mais ainda agora com Bolsonaro e o faminto por privatizações Paulo Guedes.

Nos grandes jornais do grupo Globo, na Folha de S. Paulo, O Estado de São Paulo, entre outros, o discurso de que os trabalhadores dos Correios são servidores privilegiados, com altos salários, pouco trabalho e muitas regalias, é um discurso constante.

Mas a verdade é que há anos, as consequências da precarização nos Correios tornaram ainda mais difíceis as rotinas de trabalho que já não eram privilegiadas antes, muito menos agora.

Dentro das agências, nas várias funções exercidas, e fora delas pelos carteiros – ou ecetistas – a realidade é de uma enorme sobrecarga de trabalho, acidentes, lesões fruto da rotina, e salários bem distantes do imaginário desenhado por Bolsonaro e pela grande imprensa.

Para se ter uma ideia, em 2011, os Correios contavam com 120 mil funcionários. Hoje já são cerca de 100 mil. 20 mil pessoas a menos, o que faz com que o trabalho de todos tenha que crescer em função da diminuição da força de trabalho. E isso se agrava mais ainda com o crescimento de E-comerce durante a pandemia, que só faz crescer o trabalho nos Correios.

A sobrecarga é uma das reclamações e uma das realidades mais difíceis nos Correios. Há relatos de agências que trabalhavam com 2 pessoas na expedição (saída e entrada de encomendas), 4 fazendo atendimento ao público, mais 1 na tesouraria e 1 na gerência, e que hoje funcionam com apenas 1 pessoa na expedição (e todos os outros funcionários tendo que ajudar, com desvio de função), 3 nos atendimentos, sem tesouraria, e sobrecarregando desde a triagem até a gerência. Isso sem falar nos postos terceirizados.

As consequências disso são tanto para os trabalhadores e trabalhadoras quanto para o público. Atrasos nas entregas, reclamações de clientes, e muito mais estresse e trabalho para os funcionários das agências. Há relatos, por exemplo, de agências que não recebem nem fita o suficiente para selar caixas de encomendas.

Com os carteiros, a situação não é diferente, e talvez seja até pior. Antes, cada um tinha apenas um distrito de atuação. Hoje, com a redução no quadro de funcionários, existem revezamentos e uma rotina de carteiros saindo com mais cartas do que sabem que conseguirão entregar em um dia devido às distâncias e a quantidade de entregas.

Além da sobrecarga, trabalhadores das agências e carteiros sofrem, e muito, com acidentes de trabalho e doenças fruto do trabalho. Toda a agência tem pelo menos um funcionário ou funcionária com alguma lesão gerada por carregar peso excessivo, ou por repetição de movimentos, com problemas nos braços e nos ombros.

Carteiros, da mesma forma, passam por diversos tipos de acidentes, e normalmente são realocados para as agências e pressionados a executar funções que sua saúde não permitiria, além de haver diversos casos de acidentes e lesões pela enorme quantidade de peso carregada todos os dias.

Os casos de doenças ocupacionais são ainda maiores nos Centros de de Triagem. Nessas unidades é onde se manipula a carga mais pesada, para separar as encomendas, e as máquinas muitas vezes não funcionam corretamente, ou não são ergonômicas. Não é à toa que é uma das funções que hoje mais conta com trabalhadores terceirizados, e é uma das mais precárias nos Correios.

Isso se agrava mais ainda ao pensarmos que, até alguns anos atrás, servidores dos Correios não pagavam mensalidade de convênio médico, e gastavam apenas em poucos procedimentos, e hoje não só pagam mensalidades, como têm de pagar também para filhos e esposas ou esposos, além de não poderem registrar pais como dependentes, o que faz com que esses servidores tenham de gastar muito mais com saúde, muitas vezes com os problemas gerados pelo próprio trabalho.

Além disso, dentro das agências, os relatos são de que existe uma grande pressão para metas, de todos os tipos, como de vendas de Tele Sena, de consultas ao SERASA, de doações de clientes para o Hospital do Câncer, de quantidade de envios por Sedex, de seguros. Uma série de pressões das chefias para um trabalho já bastante precário.

Não bastasse isso tudo, uma das alegações de Guedes e Bolsonaro é que privatizar eliminaria os enormes gastos com os salários desse “monte de privilegiados”. Privilegiados que, segundo os planos de carreira, têm salários base de R$ 1.700, nas tabelas de nível médio, segundo o acordo coletivo de 2018-2019.

Os “privilegiados” a que Bolsonaro e Guedes se referem nunca são os que recebem supersalários acima de R$ 20.000 por mês, longe de toda a precarização do dia-a-dia nas agências e na entrega de encomendas nas ruas, e que não precisam pensar se aceitam ou não um Plano de Demissão Voluntária.

Os cargos mais altos dos Correios, que não passam por concurso, e são todos por indicação, têm honorários altíssimos. O presidente dos Correios, por exemplo, general Floriano Peixoto Vieira Neto, ganha nada mais nada menos do que R$ 46.727,77 por mês.

O vice-presidente, R$ 40.632,85. Um membro do Comitê de Auditoria, também indicado ao cargo, ganha R$ 8.950,51, mais do que qualquer salário do nível médio dos Correios, dos servidores concursados.

Esse cenário atual, de muita precarização, mostra bem o que querem Bolsonaro, Guedes e a grande mídia com a privatização. Longe de melhorar a qualidade dos serviços e do trabalho, vai servir para explorar ainda mais os trabalhadores dos Correios, de formas ainda mais precárias, e gerando taxas mais caras e ainda mais problemas para o público.

O governo e o capital financeiro – que contam com seus amigos da grande imprensa brasileira – querem fazer avançar as privatizações e também a reforma administrativa e todo o tipo de ataques aos servidores públicos.

Se a grande mídia, vez aqui, vez ali, mostra suas unhas para o presidente, quando se trata de atacar servidores, e de tratá-los como uma “casta privilegiada” – afinal, faz falta para eles um espelho – que precisa ter salários cortados, demissões e tudo o que for possível.

O STF também vem colaborando com essa ofensiva “pactuada”, atacando via decisões judiciais os direitos dos servidores dos Correios e seu acordo coletivo.

Cada vez mais fica evidente que apesar dos atritos entre os distintos atores burgueses, quando o assunto é atacar os trabalhadores, seu instinto de classe fala mais alto e rapidamente se unem.

Nós do MRT e do Esquerda Diário não apenas apoiamos a greve dos Correios, mas nos somamos ativamente às mobilizações que acontecem em todo o país, e também deixamos nosso chamado para que toda a população faça o mesmo. Lutemos contra os verdadeiros privilegiados, que atacam nossos direitos em nome dos lucros dos capitalistas internacionais.

A greve dos Correios pode não apenas barrar os ataques e a privatização da empresa, como também ser o pontapé inicial para mudar a correlação de forças e barrar todo o projeto de privatizações e ataques encabeçados por Bolsonaro e Guedes, da qual a Globo, o STF e o Congresso são sócios. Nesse sentido, é fundamental as categorias cercarem de solidariedade e que as centrais como CUT e CTB mobilizem suas categorias em solidariedade e contra os projetos privatistas e de precarização do trabalho que Bolsonaro e Guedes querem implementar.

 
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