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SEGUNDO TURNO SÃO PAULO
Covas, o PSDB e seu legado de destruição de direitos e mortos pela pandemia quer reeleição
Rafael Barros
Vanessa Duarte

Chegado o segundo turno das eleições municipais de São Paulo, Bruno Covas atual prefeito pelo PSDB disputa com Guilherme Boulos do PSOL. Bruno Covas é o representante da continuidade da destruição de São Paulo promovida pelos tucanos. O objetivo é fazer um trabalho que reconquiste o coração dos banqueiros e patronais para erguer Doria como alternativa do regime em 2022.

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As eleições municipais que aconteceram em primeiro turno e seguem para o segundo em várias cidades do país, como na capital paulista, são as primeiras desde que Bolsonaro assumiu a presidência. Com o país imerso na pandemia, essas eleições têm enorme importância para todas as forças políticas, da extrema-direita à esquerda, e todos buscam reorganizar suas forças. Em São Paulo, a principal metrópole do país e epicentro da pandemia, o processo eleitoral será disputado no segundo turno entre Covas/Dória do PSDB, representando a continuidade do projeto de entrega dos serviços à iniciativa privada e de ataque aos trabalhadores e à população pobre e negra, cinicamente se autointitulando como “oposição” a Bolsonaro e Guilherme Boulos do PSOL. Vejamos abaixo alguns apontamentos sobre o que significou diversas das políticas do PSDB para o estado e a cidade de São Paulo.

Leia também: Eleições em São Paulo e as tarefas da esquerda revolucionária

“Opositores” de Bolsonaro em palavras, mas, na prática, aliados em defesa dos patrões

Desde o início da pandemia, com o crescimento vertiginoso de casos de coronavírus em São Paulo, Covas e Dória prometeram testes em grandes quantidades, o que nunca apareceu. Sem testes, sem políticas sanitárias de emergência e com enorme peso de trabalhadores informais na cidade, Covas deixou trabalhadores abandonados à sua própria sorte, sem direito a qualquer tipo de isolamento (no auge, o isolamento chegou a cerca de 50% da cidade), o que resultou em milhares de mortos, com maioria de pobres e negros.

Covas e Doria se colocam como figuras “em defesa da vida e dos empregos”, mas a prática demonstrou que, além das vidas diretamente rifadas, a situação dos empregos é também alarmante.

Desde as primeiras coletivas de imprensa na pandemia, os tucanos buscaram, em discurso, se separar de Bolsonaro, que fazia piada com a “gripezinha”. Buscaram o posto de “gestão racional” da pandemia e também como defensores do emprego. Mas os números mostram que não só não conseguiram poupar vidas como também não preservaram os empregos.

Já são cerca de 70 mil paulistanos que perderam seus empregos desde o começo da pandemia (e este dado é até julho). Os que se mantiveram trabalhando, estão com salários reduzidos ou contratos suspensos (afinal tanto Doria quanto Covas são entusiastas das MPs de Bolsonaro que reduzem salário e suspense contratos), ou ainda são milhões se somam às buscas de trabalho informal para garantir suas rendas, se colocando no risco da contaminação e sem nenhum tipo de EPI, sem férias, sem folgas, sem nenhum direito, nem mesmo quando acidentados durante o trabalho.

Um dos maiores “troféus” que Bruno Covas carrega é o de ter implementado o Sampaprev após diversas tentativas, sob bombas e tiros de bala de borracha aos professores e servidores municipais. A reforma da previdência a nível municipal passou em plena véspera do Natal, um verdadeiro “presente” aos trabalhadores, acabando com a aposentadoria minimamente digna da maioria dos trabalhadores.

Nesse sentido, em São Paulo, tanto com Bolsonaro quanto com o PSDB, os trabalhadores estão espremidos entre a fome, o desemprego e o trabalho precário de um lado, e a contaminação e o medo da morte de outro.

Educação pública sempre na mira do PSDB

Atacar servidores públicos é marca histórica do PSDB, em especial professores, isso a nível estadual e municipal. Em plena pandemia, professores da rede estadual (categoria O) estão há meses sem salário e sem direito ao auxílio emergencial, literalmente passando fome, sob a responsabilidade direta de Doria. Devido a medidas catastróficas como essa, Covas busca se diferenciar do governador, principalmente em relação à política de retorno das escolas. Entretanto, Covas é quem levou adiante o PL 452/20, que quer efetivar a retomada das aulas escolares em meio à pandemia através da compra de vagas em escolas particulares, o que significa aprofundar a terceirização na educação infantil e abre a possibilidade para contratação de até 20% de professores temporários, aumentando ainda mais a precarização dos regimes de trabalho nas escolas e da própria qualidade do ensino.

Covas também vem buscando entregar à administração privada 12 CEUS de São Paulo, entregando para as mãos das OS toda a adminstração de teatros, bibliotecas, ateliês, sala de informática, dança e ginástica, piscinas, quadras, pista de skate, ginásios e áreas de uso comum além da manutenção, vigilância, e limpeza dos espaços e realização de eventos. Também é parte da política que manda para a rua mais de 4 mil merendeiras de escolas públicas, além de ser quem cortou salário de servidores e o auxílio alimentação de alunos em plena pandemia, além de cortar o passe-livre dos estudantes.

Uma política higienista contra moradores de rua e de opressão à juventude negra e pobre

O PSDB tem historicamente uma política repressiva em relação à juventude negra e seus locais de lazer na cidade, respondendo a qualquer fator da realidade com o chumbo policial. Covas é a continuidade dessa política, que tem como um de seus alvos destruir qualquer resquício de lazer e a perspectiva de vida da juventude pobre e negra.

São Paulo é uma das cidades com mais pessoas em situação de rua no país, e anualmente ocorrem mortes devido ao frio, além de absurdos casos de assassinato de moradores de rua pela PM. Até dia 13 de agosto, o número de moradores de rua que haviam registrado casos de COVID era de 286, mostrando o enorme descaso da prefeitura. São milhares que vivem nas situações mais precárias, enquanto diversos prédios públicos estão abandonados na cidade. Quando ocupados, não demora muito até a prefeitura promover desalojamentos com a polícia e a GCM. Com a pandemia e o aumento da crise econômica, essa situação tende a crescer em grande medida.

É cada vez mais comum cenas de desocupação de terrenos, ações repressivas jogando famílias na rua, ações repressivas da PM e da GCM na região da Cracolândia, tratando as pessoas em situação de rua e os moradores desta região como lixo. A política do PSDB é de avançar cruelmente para cima dessas pessoas, como na chamada Cracolândia, promovendo um verdadeiro terror na região ao colocar fogo em barracos, tiros de bala de fogo e bala de borracha, gás lacrimogêneo, promover prisões, apavorando famílias e pessoas que não possuem nenhum tipo de assistência. Para os tucanos, essa questão social se resolve buscando “lavar” e “apagar” essas pessoas da realidade social.

Além disso, são cada vez mais comuns casos de extrema violência policial como o ocorrido em Paraisópolis, crime racista que matou 12 negros durante ação da PM; ou o caso de uma dona de bar espancada pela PM na rua. Casos como esses acontecem cada vez mais, são parte da rotina da PM de São Paulo, com uma polícia que recorrentemente bate o seu próprio recorde em números de assassinatos. Estamos falando dessa mesma PM que em um treinamento aberto, gravado, cantou uma música com os dizeres “eu miro na cabeça e atiro é pra matar. Em junho, um major da PM assumiu que a instituição comete abusos “há 188 anos” e ainda orienta PMs a escaparem de situações em que seus abusos possam ser filmados. Isso sem contar os incntáveis casos de repressão contra movimentos sociais, repressões em eventos de rua, até no próprio Carnaval. Essa é a PM de São Paulo, que bateu seu rpóprio recorde de mortes por violência polícial durante a pandemia.

Após cada um desses casos, tanto Doria quanto Covas, em coletivas, buscam se colocar de forma mais “democrática”, condenando os “excessos” da polícia. Mas sabemos muito bem que se trata de uma política, e não de “exceções”, pois ambos têm a PM e a GCM para usar quando quiserem em defesa da propriedade privada, contra os negros e os pobres, as periferias, e inclusive contra os trabalhadores em suas manifestações e ações de rua para seguir defendendo os interesses patronais.

O projeto da mais completa destruição e entrega dos serviços públicos

Doria, em seu segundo ano na prefeitura, definiu um enorme projeto de privatizações, que quer levar adiante agora, que envolve privatizar desde o estádio do Pacaembu, o Parque do Ibirapuera, o zoológico de São Paulo, o Jardim Botânico e praticamente todos os parques da cidade; privatizar hospitais e acabar com diversas fundações e empresas estatais, como o EMTU, companhia de transportes que faz os trajetos intermunicipais em São Paulo, além de acabar com as farmácias populares.

Além disso, o PSDB quer colocar de pé um enorme ataque no IAMSPE, que é um instituto médico do servidor público, querendo transformá-lo em uma espécie de convênio médico para os servidores, com descontos no salário para usar os serviços médicos descontados de acordo com as idades dos servidores, ou seja, é um enorme plano de destruição dos serviços e espaços públicos em São Paulo, com Doria e Bruno Covas de mãos dadas em torno de um mesmo programa neoliberal.

Bruno Covas: a continuidade do trabalho sujo do PSDB

Pois bem, é dessa política de barbáries sociais listadas acima que Bruno Covas é a continuidade. Para o PSDB, esse processo eleitoral servirá para reavivar com força o partido, que saiu das eleições de 2018 fortemente debilitado. Se os tucanos conseguem sair fortalecidos dessas eleições municipais, com grande vantagem na principal capital do país, se verão com muito mais forças para enfrentar Bolsonaro em 2022 com a figura do Doria. Isso não é um detalhe para o partido que viu sua principal figura, Geraldo Alckmin, apelando audiência em programas de TV falando sobre acupuntura. O partido que parecia em frangalhos não morreu, ao contrário, busca se manter firme, crescer e representar o “bastião” da direita opositora a Bolsonaro, e busca se fortalecer como alternativa mais confiável para os capitalistas e os patrões em 2022.

O PSDB tem o mesmo projeto do conjunto da direita e dos atores institucionais do regime brasileiro, carcomido e degradado por autoritarismos, que é preservar lucros capitalistas e das patronais para poder então descarregar a crise sanitária e econômica nas costas da classe trabalhadora. Eles diferem em como exatamente fazer isso, divergem em quem sairá mais ou menos fortalecido. Mas no fundo, nenhum desses programas está em função dos nossos interesses. É por isso que se colocar contra a extrema-direita ou a direita sem denunciar o conjunto do regime apenas serve para fortalecê-lo, como faz o PT.

Superar o PT para lutar contra essa realidade

O PT, visto como histórico opositor do PSDB, já demonstrou durante seus 13 anos de gestão do capitalismo brasileiro que não foi capaz de enfrentar os interesses da burguesia. Ao contrário, fez de tudo para conciliar todos os interesses, como se isso fosse possível. Particularmente em momentos de crise econômica, se coloca ainda mais forte a impossibilidade de “governar para todos”.

Hoje, com um regime político degradado, o grande sonho do PT é buscar seu lugar ao sol para estar melhor preparado para 2022. Nem questiona mais a reforma trabalhista, a da previdência, as MPs da redução salarial, seus governos se comprometem com a lei de responsabilidade fiscal, que destroem quaisquer perspectivas de solução dos problemas, políticas essas todas apoiadas ou diretamente levadas adiante também pelo PSDB. O PT deixou tudo passar sem mover suas bases nos sindicatos para lutar contra. Permitiu passar toda a boiada, uma atrás da outra, tudo isso enquanto buscava “dialogar” com os atores do golpe. Tudo isso por não querer se enfrentar com um regime do qual o próprio partido tem interesse em voltar a ser parte.

Não há outro caminho senão a luta para enfrentar essa realidade. A fome, o desemprego, a falta de moradias, a precarização do trabalho, ou mesmo o racismo, o machismo, toda essa situação que nos impõe precisa ser enfrentada, e não será com uma ou outra lei que será possível reverter essa situação. Precisamos resgatar o nosso método histórico de conquistas, que é a luta de classes, temos que nos organizar, por mais distante que pareça agora qualquer perspectiva de luta. A mobilização de todos trabalhadores e trabalhadoras em seus locais de estudo e trabalho, superando os entraves das burocracias sindicais, somente assim será possível rearticular mobilizações e erguer uma perspectiva de luta, com greves, manifestações. E, pra isso, nós precisamos superar essa estratégia falida do PT e construir um partido revolucionário nessa perspectiva da nossa classe, a classe trabalhadora.

São Paulo precisa de uma profunda reforma urbana, que ataque o desemprego a partir de um enorme plano de obras públicas que gere novos postos de trabalho e que criem novas moradias. Precisamos acabar com o trabalho precário, começando pela revogação da reforma trabalhista, que autoriza todo o tipo de regime intermitente, pejotizado, e sem direitos. É preciso acabar com a terceirização efetivando todos esses trabalhadores sem concurso público. Precisamos combater a desigualdade salarial entre homens e mulheres, brancos e negros. Um programa como esse deve questionar o coração do problema, que hoje passa também pela dívida pública nacional, que suga todas as riquezas nacionais.

Ou seja, precisamos lutar contra a extrema-direita, contra Bolsonaro mas também contra Mourão e isso só pode se dar numa luta também contra o Congresso Nacional, o STF e todo o regime carcomido. Precisamos através da nossa luta levantar uma nova Constituinte em que não mudemos apenas um jogador, mais sim todas as regras do jogo, onde o povo possa decidir os rumos do país.

 
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