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EDUCAÇÃO NA PANDEMIA
A irresponsabilidade com a Educação Pública na pandemia
Beatriz Maria

Com o número de mortos no país chegando a 100 mil, se faz presente a discussão sobre o retorno às aulas. Esta é mais uma das questões problemáticas no campo da Educação, uma vez que se mostra após quatro meses de ensino remoto precário e desigual.

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Imagem: Leonardo Fernandez Viloria/Getty Images

Entre a metade e o final de março foi estabelecido o ensino remoto na educação básica. Sem uma coordenação unificada de todo o país, o que se viu foram sistemas implantados por cada secretaria de educação de forma independente. Como uma imposição de cima pra baixo, deixando professores e famílias ao improviso, cabe reforçar o quão problemático é o fato de que um direito básico, como a educação, careça do planejamento devido para ser posto em prática, deixando de lado inclusive o debate entre os educadores e a comunidade escolar.

Desta forma, os meios variaram bastante. Houveram secretarias que optaram por plataformas virtuais, como no Estado do Rio de Janeiro, aulas pela TV, por rádio, atividades utilizando redes sociais ou inclusive mesclando esses diferentes formatos. Mesmo que algumas secretarias tenham concedido cursos e materiais digitais, com a pretensão de preparar os professores para o desafio que se colocava a frente, o sentimento de despreparo é o que prevalece em 83,4% desses profissionais, segundo pesquisa. Também não houve suporte emocional a esses profissionais que relatam cansaço, sobrecarga e ansiedade.

As questões técnicas intensificam as dificuldades, e afetam principalmente os alunos. São 39, 4 milhões de estudantes em instituições públicas, e segundo a pesquisa TIC Educação 2019, 39% dos estudantes de escolas públicas urbanas não tem computador ou tablet.
A maior parte das famílias acessa a internet por meio do celular, muitas vezes utilizando planos básicos de internet. Essas são algumas dos obstáculos que se impõem aos mais pobres, e que mais dependem das instituições públicas de ensino. Temos então, um resultado de baixa adesão ao ensino pela internet, com casos extremos, como no Piauí em que apenas 9% dos alunos acessam as aulas online. Em São Paulo e Roraima, mais da metade dos estudantes não tem acesso aos conteúdos virtuais. E as previsões para esses jovens são bastante inquietantes, uma vez que se desenha um futuro com aumento da evasão escolar: 28% pensa em não retornar à escola ao final da quarentena.

E não poderia ser diferente: os mais pobres, que têm a saúde mais afetada pela doença, ainda têm que lidar com a perda de renda e o endividamento,
e com o desemprego, que em estatísticas oficiais subiu para 13,3%. Este só não é maior por que não considera pessoas que desistiram de procurar emprego. Vemos, portanto, que o ensino remoto procurou colocar o calendário letivo a qualquer custo, desconsiderando as condições materiais e emocionais que se impõe sobre os estudantes e suas famílias nesse momento de crise sanitária e econômica.

As desigualdades que já existiam entre o ensino particular e público foram intensificadas no isolamento, e agora, o retorno inseguro às aulas presenciais tenta ser imposto assim como o ensino remoto pouco planejado, que resultou numa educação de faz-de-conta no ensino público. Essa discussão atual é permeada pelos diferentes interesses de classe, e observa-se donos de colégios particulares pressionando para esse retorno, com estados que já voltaram com aulas presenciais nesse tipo de instituição - Amazonas e Maranhão - enquanto que os professores afirmam sua posição contrária, chegando a fazer manifestações e anunciando greves. O regresso às aulas se mostra uma decisão bastante precipitada, no meio de uma pandemia que nunca chegou a ser controlada, com média de mais de mil mortos atualmente. A quarentena que se tenta flexibilizar com esse tipo de medida foi insuficiente e irracional. Até agora, não houve reconversão de indústria para produção de máscaras e respiradores, nem a fundamental medida de testagem massiva da população e a garantia de EPIs aos profissionais de saúde, como será garantida segurança de professores, alunos e funcionários?

O retorno precoce não resolverá a precariedade do ensino remoto e para além disso, pode causar mais 35 mil mortes, como mostra a pesquisa da Fiocruz.

As ingerências na educação durante a pandemia não são mero acaso e estão associadas ao fato dos governantes sempre se voltarem aos interesses das classes dominantes, e a irracionalidade é inerente a um sistema que preza pelo lucro de poucos. Essa é a lógica que muito se tenta escamotear com demagogias e falsas cisões entre governadores e presidente. Por isso, não será desses o interesse na educação de qualidade e segura, e sim dos educadores, estudantes, funcionários e família que dependem das escolas públicas. São desses grupos, organizados em conselhos e assembleias, que devem sair as decisões sobre quando voltar às aulas presenciais, e as alternativas ao ensino remoto atual.

 
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