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EDITORIAL MRT
Dia 07/08: Centrais Sindicais mantêm subordinação à agenda dos capitalistas e do regime golpista
Marcella Campos
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

Centrais sindicais convocam “Dia Nacional de Luta em Defesa da Vida e dos Empregos” neste dia 07 de agosto. É necessário um plano de luta para defender a vida e o emprego dos trabalhadores para que os capitalistas paguem pela crise.

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Quase 5 meses se passaram desde que o Brasil foi atingido pela pandemia mundial e a consequente crise sanitária em todo país. um absurdo clima de “normalidade” frente a um alto número de mortes que “estabilizou” no pico, o país ultrapassa 100 mil mortos pela COVID-19, e é nesse cenário que mais de 2,6 milhões de trabalhadores são jogados no desemprego e outros 17 milhões desistiram de procurar. As mortes por covid-19 ou em decorrência da pandemia e a miséria crescente no país, são responsabilidade dos capitalistas, empresários e seus governos, que estão se afundando numa das maiores crises desde 1929 e querem arrastar os trabalhadores. Bolsonaro desde o início negou tomar medidas para conter o contágio, é o principal responsável pela dimensão que a pandemia atingiu, mas também os governadores não tomaram medidas elementares como testes para toda a população, organizando uma quarentena racional, e investindo em contratação e ampliação do SUS. Todas as alas do sistema político são responsáveis por ter deixado a classe trabalhadora e a população espremidas entre a pandemia, o desemprego, a miséria e a fome.

Enquanto isso, as direções sindicais seguiram consequentes com a sua tarefa estratégica de manter a classe trabalhadora desarticulada e imóvel frente as investidas reacionárias dos governos e parlamentares contra os seus direitos e sua condição de vida. Mais do que isso, as grandes centrais sindicais do país atuam conscientemente para subordinar os trabalhadores ao programa dos capitalistas e criar as condições necessárias para a trégua entre Bolsonaro, o STF e Congresso para passar os ajustes e as contrarreformas. Em meio as disputas no regime, essas burocracias novamente se adaptam a uma dessas alas e impedem que os trabalhadores possam levantar uma política independente para dar uma saída à crise sanitária, econômica e política.

Desde que foram parte de articular a aprovação da medida provisória que reduz salários durante a pandemia as centrais sindicais seguiam em silencio absoluto e só agora anunciaram como resultado de mais uma de suas reuniões de cúpula, um dia de mobilização para o próximo dia 7 de agosto, “Dia Nacional de Luta em Defesa da Vida e dos Empregos”. O chamado unitário assinado por ampla maioria das centrais (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central, CSB, CSP-Conlutas, Intersindical, Intersindical - Instrumento de Luta, CGTB e Central Pública), defende como pauta, entre outras coisas, a manutenção do auxilio emergencial até dezembro, equipamentos de proteção sanitária para os trabalhadores e a liberação de créditos para as micro e pequenas empresas. A convocação também pede que o “Congresso Nacional derrube os vetos presidenciais que impedem a garantia dos direitos conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras e seus sindicatos, por meio da ultratividade, dos acordos e convenções coletivas de trabalho”, como se grande parte desses parlamentares não tivessem sido parte de votar e aprovar os inúmeros ajustes e ataques antioperários. Repetem a mesma estratégia adotada quando chamaram Rodrigo Maia a barrar as MPs da morte de Bolsonaro, mostrando que apostam todas as suas fichas em saídas institucionais e não na organização dos trabalhadores para derrotar esses ataques.

O chamado também inclui repúdio aos governadores e prefeitos que sigam a mesma política de Bolsonaro, reabrindo as escolas, mas se isenta de dizer que estes governadores assinam os mesmos protocolos de reabertura econômica a serviço da FIESP, da Bovespa e grandes empresários, ou que aprovam reformas previdenciárias em seus estados inclusive com repressão aos servidores, mesmo nos estados governados pelo PT.

Não é sem razão que o programa equivocado do impeachment de Bolsonaro, que na prática é “bem-vindo Mourão”, perdeu destaque nesse momento na política das grandes burocracias sindicais e no conteúdo do chamado do dia 7 de agosto, já que essa suposta jornada de mobilização convocada e organizada por fora das bases das categorias serve perfeitamente para as burocracias lavarem sua própria cara e dizendo que estão fazendo algo e aprofundar o acordo de estabilidade reacionária do regime para as eleições que se aproximam.

A CUT, dirigida pelo PT, diz que o dia 7 será marcado por paralisações de 100 minutos nos locais de trabalho para lembrar os 100 mil mortos no país pela COVID-19, mas sequer os principais sindicatos filiados à central, como a Apeoesp, sindicato dos bancários e metalúrgicos, estão de fato convocando suas bases. Os entregadores de aplicativos são parte dos setores que estão se expondo em plena pandemia e fizeram uma importante paralisação nacional em julho, que poderia ter servido de combustível para outras categorias entrarem em cena, apoiando esses trabalhadores precários e apresentando suas próprias reivindicações, mas mais uma vez as burocracias sindicais traidoras atuaram para dividir os trabalhadores e isolar os entregadores de qualquer solidariedade de classe. Dividir e desmoralizar os trabalhadores foi o papel cumprido pelas burocracias sindicais como o Sindimoto-SP (dirigido pela UGT) e, de outra forma no Sindicato dos Metroviários de SP onde a CUT e a CTB cumpriram o mesmo papel de separação da luta dos metroviários e dos entregadores.

A estratégia das grandes centrais sindicais nesse momento é de sentar à mesa para negociar com a vida dos milhões de desempregados e atingidos pela pandemia, não somente com Maia (que inclusive já negou categoricamente a tramitação dos pedidos de impeachment de Bolsonaro), Alcolumbre e centrão, mas como também diretamente com o governo ultra reacionário de Bolsonaro/Militares, como mostrou a reunião da última semana entre as burocracias sindicais e integrantes do ministério da economia. Todo o discurso pós reunião era sinalizando como positiva a agenda tratada, envolvendo escusos acordos em relação as reformas tributarias e sindicais, por exemplo.

CUT, CTB, Força Sindical, UGT, CGT e as demais centrais burocratizadas são fiadoras da trégua eleitoral do regime e a garantia de que sigam despejando nas costas dos trabalhadores o preço da crise econômica e sanitária no país. O “fique em casa” para essas burocracias significa “fique em casa se for para resistir aos ataques”, já que todos os dias milhões de trabalhadores saem de casa sem qualquer proteção e direito a testes contra a pandemia, com medo do desemprego e da fome. Trabalham nesse momento para os interesses dos partidos da ordem e pré-candidatos em que estão ligados, como a CUT e o PT, CTB e o PCdoB, Solidariedade e Força Sindical, todos em busca da frente ampla supostamente contra Bolsonaro, mas que leva a recomposição do governo.

Organizar e construir uma vanguarda que ultrapasse os limites impostos pelas burocracias sindicais

Trótski afirmava “O partido que se opõe mecanicamente a essas aspirações da classe operária à unidade de ação será condenado, irremediavelmente, pela consciência operária” e é com essa intenção que qualquer partido que se reivindique revolucionário deve atuar, mas essa premissa está muito distante da falsa concepção de que a frente única operária se baseia na confusão de bandeiras políticas e programáticas contraditórias entre si, e não na unidade das fileiras dos trabalhadores nas bases e para a luta de classes. Trótski diz “(...) a questão da frente única, tanto por sua origem como por sua essência, não é em absoluto uma questão sobre as relações entre as frações parlamentares comunista e socialista, entre os comitês centrais de um partido e outro... O problema da frente única – apesar da divisão inevitável nessa época entre as diversas organizações políticas que se fundamentam na classe operária – surge da necessidade urgente de assegurar à classe operária a possibilidade de uma frente única na luta contra o capital.” (Trótski - Sobre a Frente Única, 1922)

É a tática da frente única operária que permite a experiência das massas com as suas direções tradicionais, e em momento de luta de classes aberta, impor que de fato levantem ações que mobilize e organize os trabalhadores, mas sem perder de vista que para essas direções mais perigoso que os ataques e ajustes dos governos, é a classe trabalhadora organizada nos seus locais de trabalho.

O que vemos na esquerda hoje são poucos exemplos na luta de classes, pouca denúncia das traições das burocracias, um embelezamento de ações “unitárias” decididas nas cúpulas sindicais que servem somente para encobrir o imobilismo, e quase nenhuma iniciativa para unir a esquerda socialista por um plano de luta combativo com os métodos da classe trabalhadora, que organize em cada local de trabalho e de estudo uma vanguarda anti-burocrática, consciente da necessidade de um programa que não se misture com os interesses burgueses por trás das direções sindicais, o que consideramos que nenhum dos partidos à esquerda do PT faz de maneira consequente.

A CSP-Conlutas, dirigida pelo PSTU, em relação ao próximo dia 7, mais uma vez se adapta a convocatória das centrais traidoras e pinta de vermelho e convocando acriticamente a data. Nem ao menos combate seriamente a tradição corporativista e divisionista que as burocracias sindicais impõem ao movimento operário, já que não batalha para que os sindicatos incorporem e organizem os milhões de desempregados do país em suas fileiras. A adaptação ao “fique em casa” absoluto e a ausência de críticas e denuncia dos setores da esquerda as burocracias sindicais tira de perspectiva a necessidade de organizar a vanguarda em assembleias, comissões e reuniões de base nas categorias, que busque avançar com a consciência e programa dos trabalhadores. Assembleias, que em meio à pandemia podem ser pela internet, incluindo os que estão licenciados ou suspensos, que transformem o lamento dos trabalhadores pelas mortes de seus irmãos de classe em medidas que parem as mortes, podem organizar e votar representantes para Comitês de higiene e saúde, com plenos poderes de controlar e exigir tudo que tenha a ver com a saúde das e dos empregados, como testes massivos, por exemplo. Esse tipo de auto-organização dos trabalhadores pela base é fundamental para obrigar as burocracias sindicais a saírem do imobilismo e impulsionarem uma Frente Única dos trabalhadores, como detalharemos mais à frente.

Também é tarefa dos parlamentares do PSOL romper com a diplomacia com as burocracias sindicais e chamem os trabalhadores a superar as burocracias sindicais que canalizam toda a expectativa em alternativas eleitorais sem independência de classe. Infelizmente, o PSOL se localiza parecido com o PT em relação as Frentes compostas por setores da burguesia, aderindo a elas com figuras do partido como Guilherme Boulos, Marcelo Freixo e Áurea Carolina, sendo da linha defendida pelo PCdoB de Flávio Dino, de dar peso para aliança com burgueses “democratas”, inclusive nas eleições. Lamentavelmente, no caso da “Somos 70%” e “Direitos Já”, contou até com a adesão de setores que se reivindicam trotskistas como o MES, através de Fernanda Melchionna.

Para estes setores da esquerda, PSOL e o PSTU, viemos propondo uma Coordenação dos que lutam com a perspectiva do "Fora Bolsonaro e Mourão", que surgisse como um polo de referência na base das grandes centrais sindicais e seus sindicatos, com um programa para que os capitalistas paguem pela crise e que supere as políticas que levam a um governo Mourão ou ao fortalecimento do STF, como é o impeachment, uma saída completamente funcional aos agentes que hoje sustentam a política de Bolsonaro, demagogicamente chamada de “genocida” pelas direções tradicionais do movimento operário.

Com 100 mil mortos milhões de desempregados no país e contrarreformas que tiram os direitos elementares dos postos de trabalho e impõem regimes de trabalhos cada vez mais precários e degradantes, as mesas de negociações das burocracias sindicais com o Congresso e com o governo Bolsonaro só podem levar a recomposição da estabilidade política do regime para seguir as intenções eleitorais dos partidos do regime e das próprias direções sindicais.

Uma tarefa fundamental das centrais sindicais é unificar os trabalhadores – empregados e desempregados, funcionalismo público e precários, os que estão na quarentena e os que estão saindo para trabalhar – contra os ataques. Deveriam ter colocado toda sua força para cercar de solidariedade e propor medidas práticas de apoio à paralisação dos entregadores de apps unificando essa luta à dos metroviários de SP. Coordenando medidas contra as milhares de demissões na LATAM e dos terceirizados vem sofrendo nacionalmente, unindo os 35 mil professores de SP que estão sem receber seus salários à luta pela renda básica de R$2 mil. Também teria sido fundamental colocar todos os milhares de sindicatos que existem no país a serviço de apoiar a greve dos trabalhadores da Renault no Paraná que lutaram por uma semana sozinhos contra as centenas de demissões para transformar esta numa luta nacional contra as demissões e o desemprego. E unificar com a luta dos trabalhadores dos Correios que já anunciaram uma greve nacional para o dia 18 de julho, apontando como objetivo a batalha pela revogação da reforma trabalhista e da previdência assim como da MP 936.

Entramos numa conjuntura eleitoral com enorme politização entre os trabalhadores e a juventude. Os partidos de esquerda, como PSOL e PSTU, devem colocar suas candidaturas a serviço de levar a milhares de trabalhadores esse programa e a necessidade de unificação da nossa classe, batalhando para superar a divisão e passividade imposta pelas burocracias sindicais, sem fazer nenhuma aliança com o PT e outros partidos de conciliação de classes ou diretamente representantes da burguesia. E dessa forma, a esquerda poderia contribuir para desenvolver e fortalecer as mobilizações extraparlamentares construindo uma força independente dos trabalhadores para lutar pelo Fora Bolsonaro e Mourão, e também contra os militares, sem nenhuma ilusão nas instituições desta democracia do golpe. Avançando na luta para mudar as regras do jogo e não só os jogadores, através de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana abrindo caminho para uma verdadeira soberania popular que possa debater os grandes problemas das massas trabalhadoras, em uma perspectiva de acelerar a experiência dos trabalhadores com essa democracia degradada, apontando a necessidade da luta por um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

 
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