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ATHLETICO PARANAENSE
Diretoria do Athletico Paranaense censura torcida antifascista
Redação

A torcida organizada do Atlhetico Paranaense, CAP Antifascista, recebeu uma notificação dizendo que deveria excluir todas as publicações antifascistas que tivessem o logo do clube.

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Foto: Júlio Carignano

Em meio à crise sanitária, econômica e política em que o Brasil se encontra, ganhou notoriedade um movimento de torcidas organizadas antifascistas, que realizaram atos contra o governo Bolsonaro e seus ataques aos trabalhadores. A torcida antifascista do clube Athletico Paranaense, o CAP Antifascista, no dia 28 de julho, foi notificada extrajudicialmente de que deveria deveria retirar todas as publicações que utilizem a marca do clube.

A justificativa dada pelo clube é de que as manifestações do CAP Antifascista podem trazer prejuízos em relação aos patrocinadores, e que o clube não pretende estar ligado às atividades dessa parte da torcida por trazerem cunho político. Entretanto, o time Athletico Paranaense tem um histórico de apoio à figuras públicas da extrema direita, como quando fez com que os jogadores do time entrassem em campo com camisetas verde e amarelas ou quando o presidente do clube, Mário Celso Petraglia, saiu em defesa de Jair Bolsonaro nas redes sociais.

A diretoria e os torcedores do Athletico não cultivam uma boa relação há algum tempo: desde altos preços nos ingressos e nos planos de associação, como o de sócio torcedor, que acabam excluindo parte mais pobre da população do acesso ao futebol até a vetos em relação às torcidas organizadas. E agora aprofundam essas divergências ao censurar uma parte da torcida que se denomina antifa, simplesmente por se colocarem contrários ao projeto político do presidente Bolsonaro, que já chegou a se referir a essas mesmas manifestações antifascistas como grupos terroristas.

Essas torcidas tem cumprido um importante papel de mobilização da classe trabalhadora nos últimos tempos, se mesclando também às manifestações antirracistas que ganharam força com os protestos nos EUA devido à morte de George Floyd. A reação da diretoria do Athletico Paranaense escancara que a extrema direita busca de todas as formas suprimir qualquer movimento que se choca com o seu projeto de ataques aos trabalhadores.

Confira a nota do CAP Antifa em resposta à notificação:

NOTA DE ESCLARECIMENTO
No dia 28 de julho de 2020, o CAP ANTIFA, movimento de torcedores criado com o objetivo de lutar em defesa da democracia, recebeu com surpresa e incredulidade uma notificação extrajudicial do Clube Athletico Paranaense, assinada por seus advogados. A nota exige a imediata “retirada de todas as publicações que façam referência às marcas do Notificante”, sob a alegação de que as “manifestações e publicações realizadas têm potencial de abalar severamente a integridade e a reputação da marca do clube”.

Qual é a pessoa, instituição ou clube que procura se afastar e silenciar deliberadamente um movimento de torcedores que tem a defesa da democracia como única e exclusiva razão de existir?

No meio de todas estas crises que vivemos em 2020, o futebol está no centro das atenções por três questões: primeiro, a questão sanitária que envolve a volta ou não aos gramados e em que condições; segundo, uma grande disputa política e financeira sobre modelos de gestão que já mudaram a configuração legal das formas de transmissão no Brasil, num cenário que agora está repleto de incertezas; por último, o uso político do futebol, algo que em si não é novidade, mas que nos últimos meses revelou para muita gente que havia um espaço de debate e ação política em grupos de torcedores que reagiram contra a ascensão do movimento autoritário patrocinado pelo discurso do governo federal.

Como não se insurgir contra ataques escancarados à democracia brasileira? Quem pode ser contra aqueles que lutam em defesa da democracia?

O mesmo Athletico que obriga jogadores a entrar de verde e amarelo, com uma faixa vergonhosa “TODOS JUNTOS PELO BRASIL”, em claro apoio ao então candidato da extrema-direita, que se apropriou de símbolos nacionais, e desrespeitando a pluralidade dos seus torcedores, quer agora censurar um movimento legítimo de torcedores ao proibir que se utilize a sigla CAP em manifestações que visam à defesa da democracia brasileira diante de um momento tão preocupante e delicado.
O mesmo Athletico, que persegue a principal Torcida Organizada do Clube pelo uso do escudo da Instituição, agora nos tem como alvos em potencial.

Compreendemos o Athletico Paranaense como um patrimônio de seus torcedores, de todas as classes sociais e não apenas da elite econômica de Curitiba e Região Metropolitana. O Clube de muitos, aos poucos foi se tornando um “bem de poucos”, com a criação de inúmeras barreiras que simplesmente impedem ou impossibilitam o acesso a milhares de torcedores da periferia e das classes menos favorecidas de sua massa de torcedores. Destaque-se que não vimos o Clube se manifestar da mesma maneira, contra outros websites, páginas de redes sociais ou quaisquer outras formas de manifestação, da mesma maneira que se manifestou contra a nossa organização. Defendemos princípios democráticos, a liberdade de organização e manifestação, a igualdade social e repudiamos qualquer tipo de discriminação de gênero, raça, cor ou credo. Portanto, quando o Clube coloca em campo um time com a camisa amarela apropriada como símbolo de um dos maiores genocidas da atualidade, não caberia uma “notificação extrajudicial” aos dirigentes cobrando explicações por tal atitude? Qual é a posição do Conselho Deliberativo? Pau que bate em Chico ignora a existência de Francisco?

É de se lamentar que a direção do nosso Clube se preocupe em reprimir seus torcedores, ao invés de dar ouvidos ao clamor das ruas que hoje, infelizmente, estão banhadas com o sangue de milhares de pessoas. A quem de fato o Clube quer proteger? A marca ou a política permanente e sistemática de exclusão do povo pobre dos seus espaços? A marca ou o governo genocida encastelado no poder em nosso país?

A marca do Athletico Paranaense deveria ser um bem coletivo. Ela antecede a existência desses dirigentes atuais que aí estão e só existe graças a paixão de muitos. Ela também pertence aos torcedores pobres, favelados, às crianças da periferia, aos excluídos, da mesma forma que pertence àqueles que podem frequentar os jogos. Ela pertence a nós. Ela pertence à massa que vibra nas arquibancadas e também à que exige justiça nas ruas.

É preciso resgatar o caráter de cultura popular que tornou o futebol tão importante no Brasil. O grande historiador Eric Hobsbawm observou, que “o futebol carrega o conflito essencial da globalização”, porque expõe seu grande paradoxo: quer ser entidade transnacional do capitalismo, mas a matéria prima é feita da paixão e da fidelidade local dos torcedores com uma equipe. Para quem quiser entender a dimensão política e social do futebol brasileiro basta imaginar como seria a paisagem cultural do país sem o futebol e tudo que ele dá para as pessoas, coisas como a tradição, o ritual, o espetáculo dramático, o senso corporativo, de identidade, a hierarquia, a lealdade, um espaço para dar vazão ao espírito combativo, um dos poucos espaços no meio do grande mercado que é nossa vida que a arte e a beleza ainda são valorizadas. A atual gestão do clube Athletico Paranaense pode até tentar, mas não se pode jamais tirar o futebol do povo, um povo que está mais sofrido do que nunca.

 
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