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HOME OFFICE
Em casa, mas sob a ditadura do patrão e dos lucros, o nada admirável mundo novo do home office
Gisele, terceirizada de banco

O home office é uma das mais novas vias de exploração planejada pelos capitalistas. Longe dos riscos a que patrões colocaram trabalhadores essenciais, dos comércios, entregadores e tantos outros, ceifando vidas em troca de seus lucros, outros milhões de trabalhadores puderam ficar longe da rua, mas não da exploração.

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A ideologia de automatização dos trabalhadores produzidas pelas propagandas dogmáticas das empresas/mídias, permitiu através do avanço tecnológico a atualização de uma forma de exploração capitalista do trabalho, originando o home office. Se ao longo de todo capitalismo houve trabalho doméstico em meio aos processos produtivos, esse se fez agora em larga escala e com a mais intensa tecnologia e usando-se desta para maior controle da produtividade. A ausência da separação entre vida pessoal-trabalho provida deste novo modelo de exploração consiste em ter os intervalos regulares interrompidos para atender demandas extras impostas pelo patrão fora do horário de expediente e sem nenhuma retribuição no salário no final do mês, e abundam relatos de demissões daqueles que se recusam a se adequar a combinação “home office” e “just-in-time”.

As fragilidades encontradas nos meios da Seguridade Social, principalmente o descaso com a saúde, evidenciou o desleixo que o governo tem com a vida da população. Muitas vidas foram tiradas e todas transformadas com esta crise econômica e sanitária e ainda seguimos sobrevivendo sem testes massivos, atendimento médico de qualidade e sequer noção do que o futuro nos reserva, gerando ansiedade em tantos. Durante um intervalo curto de tempo, sofremos grandes alterações repentinas no estilo de vida. O avanço da tecnologia incluindo o acesso remoto para atribuições de atividades corporativos não poderia passar despercebido durante este período caótico, e com ele o acesso ilimitado do patrão a quando o trabalhador “logou”, qual sua produtividade por minuto, e ainda o seu whatsapp pessoal para impor trabalho a hora que quiser, e o trabalhador ainda deveria agradecer, dizem, pois há tantos desempregados...

Segundo o IPEA, estima-se que 8,7 milhões de trabalhadores tiveram que se adequar ao trabalho remoto. Com esta nova modalidade, de certo modo, o home office trouxe consigo uma equivocada ideia de bem-estar. De fato, é considerado um alívio não ter que pegar o transporte público precário e superlotado até o trabalho cotidianamente, e no contexto da pandemia acabamos ficando mais “protegidos” que muitos trabalhadores que estão na linha de frente do combate ao convid-19 e são extremamente essenciais, como os trabalhadores da saúde, garis, etc. Seria uma maravilha para os trabalhadores desfrutar do conforto de seus lares e passar mais tempo em casa, já que em dias normais passam mais tempo na rua com colegas de trabalhos na correria do dia-a-dia ao invés da família. Contudo, a sobrecarga explícita na realidade de muitos trabalhadores que tiveram que se adaptar ao novo estilo de trabalho durante a pandemia contrariou qualquer expectativa de qualidade de vida que por sua vez foram manipuladas pelas empresas tendo como apoio a mídia para fortalecer esta propaganda enganosa.

Os intervalos regulares como almoço, no geral 1h ou 30min de descanso, são descartados no home office porque para muitos, e sobretudo as mulheres, é também tempo de cozinhar e limpar a casa, revisar a EAD dos filhos. Não há descanso e aumenta o trabalho não remunerado, seja ele o de reprodução social como nas atividades elencadas acima ou mesmo de trabalho não remunerado diretamente em benefício do capitalista. Afinal, estar em casa na concepção dos patrões é ter o funcionário à sua disposição no horário que lhe convém, até mesmo após o fim do expediente, gerando um ciclo exploratório de trabalho não remunerado. Trabalho não remunerado este que será revertido como lucro aos grandes empresários, onde o trabalhador receberá em troca somente a exaustão e descontentamento emocional e financeiro.

Abordando brevemente o contexto histórico marxista, o conceito de trabalho tem como finalidade a força exercida pelo o ser humano a fim de suprir suas necessidades imediatas que o mantém vivo (valor de uso) e outras que se desenvolvem como produto da produção das primeiras. Com as diversas modificações das relações sociais que por seu lado foram desenvolvidas na medida em que as relações econômicas se modificaram ao longo do tempo, o trabalho passa a ser um produto para produção de mercadorias e surge com ela uma significativa disputa de classes, dividindo a sociedade entre os que dominam o poder e detêm os meios de produção através da propriedade privada (capitalistas) e os que oferecem sua força de trabalhado em troca de um salário e sofrem com a exploração em prol do acúmulo de riquezas da classe dominante, os capitalistas (trabalhadores). Esta relação de interesses irreconciliáveis entre trabalhadores e patrões ocorrem de modo dialético através do conflito de classes, e mesmo no home office ele está lá presente.

Como um instrumento utilizado pela burguesia para assegurar seu poder, surge o Estado que ao proclamar a falsa ideologia de igualdade entre as classes perante a lei, reprime os trabalhadores que questionam as desigualdades socais a fim de garantir os interesses exclusivamente capitalistas. A forma desigual na distribuição de valores no final do mês, refletida no contra-cheque de todos os trabalhadores independente da sua nacionalidade é fruto de um processo injusto em que o patrão paga um salário drasticamente inferior à proporção da força e tempo de trabalho exercida na produção das mercadorias que por sua vez não são pagas aos trabalhadores, o salário é equivalente a quanto custa reproduzir outro trabalhador e não quanto seu trabalho agrega às mercadorias. Assim os empresários se apropriam deste valor, gerando assim o capital excedente em detrimento da vida dos trabalhadores que clamam por uma vida minimamente digna. Esta diferença entre o valor da mercadoria e a remuneração financeira é denominado por Karl Marx como mais-valia onde expressa o processo de exploração da mão de obra assalariada.

Contudo, em tempos de pandemia, um novo meio exploratório em execução, o home office, traz os gastos que no geral seriam da responsabilidade das empresas, como internet, cadeira ergométrica, luz, higiene, água e etc para o trabalhador vulgo "colaborador". Além disso, não existe mais intervalos para descanso e descontração. Por passar mais tempo em casa, as tarefas domésticas, como a faxina e preparo das comidas, tendem a dobrar, colocando principalmente as mulheres trabalhadores a esta dupla jornada de trabalho e as mães trabalhadoras que além de arcar com o trabalho doméstico e corporativo, são impostas pelo patriarcado a serem as principais responsáveis pela criação dos filhos. Tarefas que no geral seriam incorporadas no âmbito da empresa por outros empregados, passam a ser de exclusividade única de uma pessoa intensificando ainda mais a exploração do trabalhador.

A intensificação da jornada de trabalho imposta aos trabalhadores de home office foi estrategicamente pensada com um viés da Reforma Trabalhista aprovada em 2017 por Michel Temer (ex-presidente). A implementação deste novo modelo de trabalho precário durante a pandemia serviu para muitos empresários como uma espécie de teste, já que a Reforma Trabalhista não foi executada de imediato após sua aprovação. Caso nada seja feito para barrar este ataque, como consequência, certamente o home office será permanente em alguns setores após o período de quarentena, pois ao transferir gastos como aluguel do imóvel, luz, internet, higiene e etc para seus empregados, os patrões notaram o efeito positivo em seus bolsos. Não satisfeitos com o dinheiro que já roubam, os capitalistas encontraram um novo meio para empurrar sua crise nas costas dos trabalhadores, aproveitando-se do momento em que a classe trabalhadora está mais desunida fisicamente e desamparada pelos sindicatos que nada fizeram até agora para repreender tais injúrias. Uma vez que enquanto a classe trabalhadora sofre, os representantes das centrais sindicais acionaram o modo quarentena, preocupados consigo mesmos e somente com os seus, sem mobilizar ou apoiar os trabalhadores, deixando-os vulneráveis ao assédio dos patrões.

As MPs 927 e 936 criadas e aprovadas pelo desgoverno de Bolsonaro durante a pandemia, com o objetivo de empurrar a crise nas costas dos trabalhadores, autorizam a redução e cortes de salários, demissões em massa e propagação de bancos de horas, alteram períodos de férias, leis de segurança do trabalho e suspensões temporárias de contrato, caracterizando um novo tipo de demissão. Devido ao distanciamento social, na qual trabalhadores se vêem desunidos, sem suas rotinas diárias de convívio social, os patrões tiram aproveito para explorar ainda mais, realizando até mesmo negociações individuais, colocando o trabalhador contra a parede para aceitar o acordo que mais favorece sua retenção de lucro. Com o alto índice de desemprego que chega a ser similar a maior crise histórica capitalista, com a quebra da bolsa de valores de NY (1929), amplificou a postura predatória e exploratória do patrão ao ter um trabalhador preocupado em manter a sobrevivência de sua família, mesmo tendo que ser submetido a exploração e a escravidão moderna que tem formas muito mais dramáticas nos aplicativos na rua mas também pode ter na produtividade do aplicativo em casa.

Em tempos de pandemia vemos a tecnologia avançar em prol do lucro dos capitalistas, ao mesmo tempo em que amigos e familiares infectados pelo coronavírus lutam para sobreviver com a ausência de respiradores, leitos, EPIs e amparo médico devido a precarização dos hospitais públicos, tendo o SUS fragilizado por conta da falta de investimento e os recorrentes ataques que sofreu e sofre, onde muitos trabalhadores não sobreviveram, somando-se aproximadamente a 80 mil mortes no Brasil sem mencionar as estimativas de subnotificação, colocando o país no segundo lugar com maior número de infectados e mortos, ficando atrás somente dos Estados Unidos. Tanto Bolsonaro quanto Trump desde o início da pandemia foram imprudentes, sendo irresponsáveis ao ponto de debocharem das mortes por covid-19. Mas também é verdade que os governadores discursavam diferente, mas juntos de Bolsonaro impuseram aberturas sem testes, sem qualquer medida para salvar vidas. Diante disso, infelizmente, não é surpresa alguma o alto índice de infectados.

A automatização disseminada pelo home office é só mais uma utopia para os capitalistas e não para os trabalhadores, pois nada mais é do que qualquer outro trabalho alienante, sendo favorável somente para conter a fúria dos trabalhadores em suas casas individualmente, onde os empresários utilizam a pandemia e o isolamento social para explorar seus funcionários a fim de garantir o acúmulo de riquezas e lucrar sob as condições precárias em que a classe trabalhadora se encontra na atual conjuntura.

Portanto, reivindicamos respostas das centrais sindicais para garantir as condições da CLT e acordos coletivos para os trabalhadores de home office, como jornadas fixas de horário, equipamentos para realizar o trabalho, tirando a despesa extra mensal das costas dos trabalhadores, pois este já recebe uma remuneração injusta que mal garante a sua sobrevivência e de sua família, ainda mais os terceirizados, quem dirá arcar com despesas extras que deveriam ser da responsabilidade exclusiva de seus empregadores. Não é prudente, é servil aos patrões, que as centrais sindicais ignorem o momento de calamidade em que os trabalhadores estão sendo expostos a demissões em massa e redução de salários com a desculpa demagógica de "salvar empregos" através da MP936. Esta crise não é nossa, é dos capitalistas.

É de suma importância que os trabalhadores se unifiquem para contra-atacar e resistir aos ataques mencionados ao longo deste texto. É preciso lutar pela unidade da classe trabalhadora, entre efetivos, terceirizados e precários para lutarmos contra os ataques e assegurar seus direitos, organizando todos os trabalhadores e trabalhadoras de cada setor, para além das fronteiras corporativas, à erguerem uma saída em prol de vidas e não de lucros aos grandes capitais. E assim impor as centrais sindicais que cessem com a paralisia diante dos ataques.

Nossa luta também deve avançar na perspectiva anticapitalista e pelo fim deste sistema escasso que é o capitalismo, que diante da pandemia significa escancara que não está preocupado com vidas.

Para impedir mais ataques à classe trabalhadora na atual conjuntura é fundamental a auto-organização dos trabalhadores e a formação de reuniões, sejam elas virtuais ou presenciais, para planejar e organizar medidas a fim de garantir condições sanitárias, exigindo medidas dos sindicatos e impondo que as Centrais rompam com sua trégua e apoiem os trabalhadores na luta por melhores condições de vida, visto que este é seu papel principal.

Para que vidas sejam salvas, é essencial garantir uma renda emergencial de no mínimo R$2mil que era a média salarial do país antes da pandemia para que ninguém tenha que escolher entre se expor ao vírus ou à fome, é necessária a iniciativa de testes massivos para se ter o controle daqueles que estão contaminados, a fim de tratar a doença desde seu início para que sejam evitadas mortes em massa, tendo ampliação de leitos, respiradores, laboratórios para os doentes e prestação de subsídios no setor da saúde pública, unificando o setor da saúde privada junto com o público para o combate à pandemia. Assumamos o controle da nossa produção para o combate ao covid-19 e enfrentamento à qualquer injúria à nossa classe, revertendo os recursos a serem investidos à favor dos interesses exclusivamente dos trabalhadores e não à uma minoria parasitária que aprecia do bom e do melhor em detrimento de vidas.

 
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