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PRECARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO
UERJ aprova ensino remoto, que excluirá milhares de estudantes negros e pobres
Faísca UERJ

Na manhã desta quinta-feira (30) a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), pioneira na implementação das cotas raciais no país, encaminhou burocraticamente pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CSEPE) o Ensino Remoto Emergencial (ERE). Tal projeto foi aprovado sem que os estudantes pudessem decidir a respeito do tema.

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Serão excluídos desta modalidade de ensino principalmente os estudantes negros, cotistas de baixa renda, indígenas e também aqueles que, por diversos motivos, não tenham possibilidade de acompanhar as aulas. Seja por não disporem de estrutura material para estudar em suas casas, coisa que o auxilio emergencial anunciado pela reitoria não é suficiente para resolver, seja por não terem condições psicológicas de seguir seus estudos, como se não houvesse uma pandemia, com uma média de mais de mil mortos confirmados diariamente. Muitos estudantes seguem trabalhando presencialmente, outros têm casos de covid-19 na família. Por inúmeros motivos não há normalidade em meio à pandemia e a tentativa de cumprir o calendário acadêmico desconsidera essa realidade.

Em pesquisa realizada pela própria reitoria fica claro que milhares de estudantes poderão ficar pra trás com essa decisão. A UERJ tem mais de 32 mil alunos, desse total, apenas 8.257 responderam ao formulário e mesmo entre os que responderam, ou seja, que tiveram acesso a um mecanismo de pesquisa pela internet, mais de 10% não tem acesso à banda larga e mais de 30% se disseram contra o ERE. O que diriam os mais de 70% dos estudantes que nem mesmo participaram da pesquisa – muito provavelmente por não terem acesso a ela ou não ter interesse no ERE nesse cenário de nenhuma normalidade – se tivessem tido oportunidade de não apenas opinar, mas decidir por meio de um plebiscito deliberativo, que fosse realizado pelos meios necessários (SMS, ligações) para a participação da maioria?

Resultados do relatório parcial dos dados quantitativos de uma importante pesquisa sendo realizada junto aos estudantes de graduação de Serviço Social pelas professoras Paula Bonfim, Graziela Scheffer e Mônica Alencar, da Faculdade de Serviço Social (FSS), mostram dados ainda mais abrangentes. Ao responder as questões, a esmagadora maioria dos estudantes da FSS disse que o aparelho disponível para esse tipo de atividade seria o celular. Ao serem perguntados se teriam dificuldade para acompanhar atividades remotas, 51,8% dos estudantes disseram que teriam, por questões como estresse (70,3%), baixa estabilidade da internet (47,5%), dificuldade de concentração (55,9%), restrição de espaço em casa (39%), nenhuma delas solúvel com R$600,00 de auxilio ou um chip. Na mesma pesquisa 76,3% dos estudantes responderam que tiverem queda de 10 a 75% na renda familiar durante a pandemia, 60,5% disseram estar recebendo o auxílio emergencial do governo federal e do total de entrevistados pela pesquisa 40,4% são cotistas, ou seja uma parcela importante dos estudantes afetados economicamente pela crise nem mesmo terão acesso ao auxílio da reitoria, já que não são cotistas.

A universidade pública deveria e poderia estar a serviço do combate à pandemia, colocando toda sua estrutura científica, todos seus recursos humanos e materiais a serviço de salvar vidas. Isso significa colocar a universidade a serviço da classe trabalhadora e do povo, que são os que mais estão sofrendo as consequências dessa crise. A UERJ já conta com uma série de iniciativas voltadas a essa objetivo, como testagem da população, produção de insumos e de pesquisas no combate à pandemia, e poderíamos estar debatendo aprofundar nesse sentido, mas na contramão disso, a reitoria acaba de impor de maneira autoritária um calendário de um semestre em 13 semanas, virtualmente, para milhares de jovens estudantes negros, cotistas, trabalhadores, mães que já enfrentam todos os problemas imagináveis na pandemia. Nós estudantes da UERJ já sabemos o que significa um calendário ultra apertado como esse por experiências anteriores, que já foi danoso presencialmente, imagina remotamente.

Foi nesse sentido que nós da Faísca UERJ viemos batalhando na base dos cursos onde estamos para que os estudantes fossem sujeitos nesse processo, começando pelo Centro Acadêmico de Serviço Social (CASS), no qual atuamos com outros estudantes independentes, onde realizamos debates sobre precarização da educação, impulsionamos assembleia dos estudantes, reunião de articulação com outros CAs e mais uma série de debates junto aos professores do curso, como no curso de pedagogia onde também foi acolhida a proposta de exigência de um plebiscito, além da participação nas plenárias consultivas por centro chamadas pelo DCE.

Foi em nome de enfrentar o que chama de “isolamento institucional”, cedendo à chantagem dos governos e justiça, que a reitoria da UERJ levou adiante a implementação do ERE de forma absolutamente antidemocrática, onde nem mesmo o limitado Conselho Universitário (CONSUN) teve poder de voto, muito menos os estudantes, principais atingidos pela decisão. Enquanto isso, o DCE, dirigido pela UJS, LPJ e PT, foi um verdadeiro cúmplice da reitoria neste processo e serviu como seu braço direito no Movimento Estudantil buscando legitimar o ERE entre os estudantes pela via de plenárias onde não se decidiu nada, sem que tenha construído nenhum espaço de deliberação nos cursos durante todos os meses de pandemia. Essas plenárias, que inclusive tiveram boa adesão dos estudantes deveriam ter sido assembleias onde os estudantes deliberassem posições e propostas, mas o DCE tem medo da opinião dos estudantes porque sempre esteve fechado com a reitoria na implementação do ERE, como se mostrou hoje na votação unanime no CSEPE.

Sabemos que o projeto de precarização e privatização do ensino público é um dos grandes planos do governo Bolsonaro e que grandes empresas que fazem do direito à educação um negócio lucrativo, estão sedentas pelas oportunidades abertas para o mercado de EaD diante da pandemia e do “novo normal” que querem nos impor. A aceitação do ERE pelas reitorias em todo o país abre a porteira para a boiada dos ataques passar. Mas não tem descanso, seguiremos enfrentando as consequências do ERE mesmo após sua votação, denunciando cada caso de estudante prejudicado e lutando por melhores condições de permanência, visando minimizar os danos que certamente vão se apresentar, entendendo também que essa batalha é parte de nos prepararmos, junto aos trabalhadores de dentro e fora das universidades, para enfrentar os grandes ataques que querem nos impor no pós pandemia.

Leia também: UERJ: Contra o ensino remoto e a precarização, os estudantes tem que poder decidir!

 
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