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PRÉ-CANDIDATURAS RIO 2020
Debate com o PSOL: o Rio precisa de uma alternativa dos trabalhadores nas eleições
Carolina Cacau
Professora da Rede Estadual no RJ e do Nossa Classe

Diante de uma crise que esmaga os trabalhadores entre o medo da doença e o desespero da fome, num Rio de Janeiro campeão em desemprego, informalidade, falência dos serviços públicos e escândalos de corrupção dos governos, que tipo de saída política pode vir das eleições deste ano? Que alternativa é preciso construir?

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A cidade do Rio de Janeiro teve a nefasta figura de Crivella como prefeito eleito desde 2016, que, sem segredo, governou para as igrejas, para seus amigos, empresários e para a milícia, além de falir a Saúde pública da cidade. Hoje Crivella busca apoio de Bolsonaro em sua campanha eleitoral. Como competidor, se coloca Eduardo Paes, candidato do regime e da Globo, que em suas gestões 2008-2016 fez reinar as empreiteiras e as imobiliárias enquanto reprimia o povo pobre nas favelas com as UPPs, nas remoções e depois ainda fez os trabalhadores “comerem o pão que o diabo a amassou” na crise de 2016.

Nenhum dos dois são alternativa, e assim também pensam centenas de milhares de cariocas e fluminenses que nas últimas eleições vieram depositando sua confiança nas candidaturas do PSOL. Diante de novas eleições em meio ao bolsonarismo precisamos debater com cada um que vota nas candidaturas da esquerda, em especial do PSOL, soluções de fundo para a crise do Rio de Janeiro, e que tipo de resposta política precisamos.

Se os capitalistas do Rio descarregaram fortemente a crise nas costas dos trabalhadores em 2016, é certo que virão com ainda mais força para cima nessa crise. Cerca de 23% da população, ou 1,5 milhão de pessoas, recebeu o auxilio emergencial de R$600, 30% dos bares e restaurantes deve fechar até o final do ano e já há toda uma nova leva de trabalhadores por conta própria que estão morando nas ruas. A classe trabalhadora carioca também sofre cada vez mais com o coronavírus, sendo Campo Grande, Bangu, Realengo e Santa Cruz, 4 dos 5 bairros com mais mortes na cidade, regiões com maioria negra. Por isso, precisamos defender um programa para que sejam os capitalistas que paguem pela crise, como um plano de obras públicas com reforma urbana radical, que exproprie o que serve para especulação e que dê moradia digna para todos, medidas que seriam financiadas com o imposto progressivo das grandes fortunas e o não pagamento da dívida pública.

A gravidade do que está colocado no Rio aprofunda ainda mais a necessidade de uma política de independência de classe dos trabalhadores. Os interesses dos capitalistas e dos trabalhadores e povo pobre se tornam ainda mais irreconciliáveis. Um exemplo se dá entre as empresas de transporte, como a concessionária do Metro e da Supervia, que estão ameaçando um lock-out patronal para agosto. Querem que jorre dinheiro público para seus cofres, a fim de enriquecer ainda mais com o que deveria ser um direito. Ou se levanta um programa de expropriação dessa máfia sob controle dos trabalhadores, ou eles aumentarão seus lucros com nosso dinheiro, cobrando tarifas altíssimas enquanto seguimos como sardinhas em lata nos transportes.

Que caminho político construir para fortalecer a construção desse programa?

No país, em pelo menos seis capitais, PSOL e PT vão se apoiar mutuamente, além de cidades importantes como Campinas. Justificam que para combater a extrema-direita, necessita-se da mais ampla unidade do campo progressista, ainda que envolva o PT, que nada fez para combater Bolsonaro desde que esse se elegeu. Como dialogamos aqui, se trata de uma política de cunho eleitoralista, que não coloca no centro o combate a extrema direita pelos trabalhadores, justamente, pois são as centrais sindicais, dirigidas pelo PT e PCdoB, o maior freio ao desenvolvimento da luta de classes em todos os últimos anos.

Aqui no Rio, Renata Souza é pré-candidata à prefeitura pelo PSOL. Uma mulher, negra e da Maré, que poderia se colocar aqui à serviço das aspirações antirracistas e contra os capitalistas e sua polícia. Mas tudo parece apontar para outro caminho. Na contramão do movimento antirracista nos Estados Unidos que defendeu abolir a polícia, Renata Souza segue a política proposta originalmente por Freixo, levada também à frente por e Tarcísio nas últimas eleições, de que a polícia é disputável e poderia ser ganha para estar ao lado do povo e da classe trabalhadora. Querem negar que a polícia não existe para zelar pela segurança das pessoas, mas pela propriedade privada dos grandes capitalistas. A live da pré-candidata do PSOL com Ibis Pereira, policial que defende essa mesma posição, é uma demonstração disso.

A indicação de que a candidatura do PSOL para 2020 seguirá esse caminho se dá em meio a um momento em que a polícia se demonstrou novamente sanguinária no Rio. Mesmo em meio a pandemia, que teve 120 operações policiais, entre abril e maio, com 129 assassinatos por violência policial só em maio. Foram vítimas da violência policial João Pedro e mais tantos jovens negros. Isso sem falar na imbricação entre essa instituição e a milícia. Desde a derrota em 2016 para Crivella, Freixo adapta seu programa em nome de dialogar com o centro conservador. Não à toa para ele a vitória de Bolsonaro é explicada pela “ausência de resposta da esquerda ao tema da segurança pública”, e não pela ação dos golpistas, grande parte deles com quem hoje assina “manifestos pela democracia”, e acordos e imobilismo imposto pelo PT, que desde o golpe negociou com seus algozes ao invés de se apoiar na mobilização dos trabalhadores. Renata Souza até o momento parece não indicar uma via distinta dessa.

A candidatura de Renata Souza nasceu da desistência de Freixo por conta dos acenos ao PT. Foi definida sem sequer ter sido debatida democraticamente em seu partido. Partindo da mesma lógica que está fazendo o partido se diluir nacionalmente, Freixo desistiu de sua candidatura, que seria forte no Rio de Janeiro hoje, pois a Frente Ampla eleitoral do PT, PCdoB e PSOL, com partidos burgueses, como PDT, PSB e REDE não se deu. Renata Souza será a candidata, e a princípio não partirá dessas alianças. Mas por outro lado, não termina de romper com a mesma lógica.

Isso se expressa, por exemplo, na reunião de Renata Souza com figuras como Clarissa Garotinho (PROS), Glória Heloíza (PSC), Martha Rocha (PDT) e Cristiane Brasil (PTB), prometendo uma campanha “sem baixaria” da qual deve sair uma carta assinada por todas, partindo de uma mesma lógica da frente ampla, que dissolve as ideias independentes com burguesias que se dizem democráticas. São as mulheres negras as que pagarão pela crise, e todas essas irão descarregar a crise nas costas das trabalhadoras, caso vençam.

A força social imensa que se demonstrou nas outras eleições do PSOL no Rio de Janeiro pode ser base para construir uma alternativa política revolucionária, que deve ter independência de classe e estratégia na luta de classes. Isso passa por fortalecer as lutas dos entregadores, que estão paralisando novamente hoje (25), a luta dos trabalhadores da saúde, que votaram greve nos últimos dias, unificando as lutas e combatendo as burocracias sindicais que freiam o desenvolvimento da luta de classes com um programa para que os capitalistas paguem pela crise.

Isso passa, necessariamente, pela defesa do Fora Bolsonaro e Mourão, através da ação independente da classe trabalhadora e do povo. Isso nada tem a ver com fortalecer uma estratégia de unidade com os golpistas de ontem, para tirar Bolsonaro preservando Mourão, um general reacionário. É preciso tirar conclusões de que é urgente mudar as regras do jogo e não somente os jogadores desse regime político decadente. O povo precisa decidir. Por isso, é preciso abrir caminho para uma assembleia constituinte livre e soberana, que faça com que os capitalistas paguem pela crise, e possa abrir caminho para uma saída que favoreça não os exploradores, mas ampla maioria explorada.

 
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