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CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA E EUA
Entrevista: MRT rumo a Conferência Latino-Americana e dos Estados Unidos
Redação

O Esquerda Diário entrevistou Diana Assunção e Edison Urbano, dirigentes do MRT, sobre a Conferência Latino-americana e dos EUA, convocada pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores da Argentina, para os dias 30, 31 de julho e 1 de agosto.

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O Esquerda Diário entrevistou Diana Assunção e Edison Urbano, dirigentes do MRT, sobre a Conferência Latino-americana e dos EUA, convocada pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores da Argentina, para os dias 30, 31 de julho e 1 de agosto.

O que será a Conferência Latino-americana e dos EUA?

Diana: Os partidos da Frente de Esquerda-Unidade da Argentina (encabeçada pelo Partido de Trabajadores Socialistas e conformada também pelo Partido Obrero, a Izquierda Socialista e o Movimiento Socialista de Trabajadores) decidiram realizar uma Conferência virtual Latino-americana e dos EUA, no próximo 1º de agosto. A Conferência será precedida por três mesas-debate, que se realizarão nos dias 30 e 31 de julho. Esta Conferência retoma a iniciativa acordada no início do ano pelos partidos da Frente de Esquerda e que foi suspensa como consequência da crise pandêmica. Naquele momento, o centro da discussão eram os processos de luta de classes que atravessavam a América do Sul, com epicentro no Equador e especialmente no Chile, lugares onde vimos jornadas revolucionárias, sem esquecer que a França vivia uma importante luta grevística dos transportes contra a reforma da previdência de Macron, processo em que pudemos sentir a centralidade operária, em suas posições estratégicas, para pensar a emancipação social na nossa época. Na América do Sul vimos também processos reacionários, como o governo Bolsonaro aqui no Brasil e o golpe de Estado na Bolívia. Mesmo com o refluxo dos processos de luta cujo ápice foram o Chile e a França, não é menor a importância de tirar as lições estratégicas, que permitam atuar com o objetivo de transformar a revolta em revolução, e superar a diluição da classe trabalhadora na “cidadania em geral”, por objetivos de pressão extrema. Agora, no entanto, é impossível discutir essas lições por fora do enorme processo de luta antirracista nos EUA, que viu os maiores protestos da história do país (26 milhões de pessoas nas ruas em um mês, segundo o The New York Times) contra a polícia que assassinou George Floyd e o racismo estatal, não apenas do reacionário e xenófobo Donald Trump, mas também do Partido Democrata. Fizemos na Fração Trotskista um ato internacionalista nesse 11 de julho em solidariedade ao processo estadunidense. O apoio de massas à luta do povo negro nos Estados Unidos se conecta com o crescente descontentamento e desespero das massas, pelo efeito combinado da pandemia e uma profunda recessão. Em base a isso, as correntes da esquerda argentina retomaram a iniciativa para debater suas convergências e divergências com o objetivo de verificar as possibilidades de abrir caminho à urgente construção de partidos revolucionários a nível nacional e internacional para enfrentar a crise capitalista e seus efeitos.

Edison: Exato, e isso que Diana diz é importante para não separarmos a revolta antirracista nos EUA com os processos mais profundos da crise econômica mundial, que foi agravada pela pandemia da COVID-19. A pandemia colocou em destaque o antagonismo existente entre a saúde e a vida das e dos trabalhadores e maiorias populares, por um lado, e o sistema capitalista, por outro. Os resgates multimilionários privilegiaram o resgate do capital, deixando milhões à mercê da crise sanitária e da fome, obrigados a trabalhar sob risco de morrer pelo vírus, ou perder o emprego. O mundo caminha para uma depressão, só comparável com a posterior ao crack de 1929. A OIT já fala em 480 milhões de desempregados. O resgate aos grandes empresários, bancos e multinacionais pretende ser financiado com mais ajustes, demissões, miséria crescente, desigualdade social e desastre ambiental sem precedentes. Estamos frente a uma crise de fundo do capitalismo que finca suas raízes na grande recessão de 2008. Para nós da Fração Trotskista, da qual o MRT brasileiro faz parte junto ao PTS argentino e organizações nos Estados Unidos, no Chile, no México, na Bolívia, no Peru, na Venezuela, no Uruguai, na Costa Rica, na França, no Estado Espanhol, na Alemanha, na Itália, a Conferência é uma oportunidade para discutirmos com outras correntes da tradição trotskista a necessidade de estabelecer, além das nossas diferenças, como podemos atuar em comum nesse período para fazer com que sejam os capitalistas, e não os trabalhadores, os que paguem pela crise. Resgatando a política da Frente Única dos Trabalhadores contra as burocracias sindicais, para golpear com um só punho os ataques dos capitalistas contra os negros e os trabalhadores, acreditamos fundamental dar passos para organizar uma Conferência Internacional, que abranja as correntes da esquerda dos quatro cantos do mundo, para discutir os marcos programáticos e estratégicos da reconstrução da IV Internacional, com toda a atualidade das ideias do Leon Trótski, às vésperas do 80º aniversário de seu assassinato pela contrarrevolução stalinista.

E no Brasil o MRT participará das mesas de debate junto à esquerda?

Diana: Sim, o MRT participará da mesa sobre América Latina e na plenária final da Conferência. Os desafios são enormes a nível mundial, por isso convidamos a esquerda que se reivindica classista, o movimento operário combativo, a juventude que se rebela, o ativismo feminista e ambiental, e a intelectualidade engajada, a conhecerem as discussões desta Conferência para debater quais as bases necessárias para lutar sob as bandeiras da independência de classe, por governos de trabalhadores e pela unidade socialista da América latina. No Brasil, queremos discutir abertamente com a esquerda brasileira que reivindica o trotskismo essa necessidade. Debatemos não somente com as correntes que no Brasil fazem parte das organizações que integram a FIT como a CST (ligada a Izquierda Socialista), Alternativa Socialista (ligada ao MST argentino) com quem vamos conversar, como também entramos em contato com outras organizações da esquerda brasileira como o PSTU, o MES e correntes do Bloco de Esquerda Radical do PSOL para apresentar a convocatória da Conferência da Frente de Esquerda, e debatendo seu conteúdo discutir a importância da participação nessa iniciativa internacional. Vamos transmitir esses debates na Rede Internacional de diários La Izquierda Diário, impulsionado pela Fração Trotskista, editado em 14 países e em 8 idiomas.

Edison: Sim, consideramos de primeira ordem essa iniciativa de chamado às correntes da esquerda que reivindicam o trotskismo para serem parte dessa discussão. Aqui no Brasil temos o desafio de superar a fragmentação da esquerda sobre bases de princípio do socialismo, e preparar a construção de um partido revolucionário dos trabalhadores que supere o PT e suas burocracias, grandes obstáculos para enfrentar a extrema direita e o regime golpista. Não é um objetivo simples, mas é prioritário se o objetivo de destruir o capitalismo não é mera palavra ao vento. Além disso, essa Conferência tem o mérito de aproximar nossos debates, num ano eleitoral, dos métodos e do programa da Frente de Esquerda argentina. É uma frente de independência de classes, com um programa para que os capitalistas paguem pela crise e que defende abertamente um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo, com um forte trabalho militante no movimento operário, no de mulheres e na juventude argentinas. É o principal exemplo de uma frente política independente no mundo, que enfrenta todas as variantes patronais, inclusive as ditas “progressistas” (como o peronismo/kirchnerismo argentino), que com Alberto Fernández aplica ajustes contra a população trabalhadora para pagar a dívida pública. No Brasil estamos assistindo ao surgimento de Frentes Amplas de todo tipo, que em nome de “enfrentar Bolsonaro” buscam subordinar os trabalhadores ao programa da direita golpista; ou mesmo frentes “para enfrentar o fascismo” com partidos como o PT, que administraram o capitalismo brasileiro durante 13 anos e são responsáveis por termos chegado até aqui. O PSOL está realizando alianças com o PT, sem falar em partidos burgueses como o PDT e PSB. Tanto maior é a importância de uma Conferência convocada pela Frente de Esquerda em nosso país vizinho, já que no Brasil esse exemplo de independência de classe e parlamentarismo revolucionário é chave.

A situação brasileira será um dos debates importantes na Conferência.

Diana: Sim, por isso também seguiremos debatendo qual a saída política pra crise no Brasil que em nossa visão não pode ser a de buscar saídas por dentro deste regime do golpe institucional como a maioria da esquerda defende com o impeachment ou até mesmo novas eleições, é preciso lutar para derrubar Bolsonaro e Mourão mas não para mudar apenas os jogadores e sim as regras do jogo portanto impondo com a força da mobilização uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana com a auto-organização das massas pra fazer valer a soberania popular. Neste processo nós defenderemos a necessidade de se avançar pra lutar por um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

 
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