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UFRGS
Estudante negro é expulso da universidade pública por não ter acesso à internet
Redação Rio Grande do Sul

Nesta quarta-feira (22) ocorre a votação do Ensino Remoto Emergencial na UFRGS, racista e excludente. Com essa medida, uma parcela dos estudantes não poderá seguir seus estudos. Nesse contexto os indeferimentos de matrículas também seguem expulsando sumariamente estudante negros e de baixa renda da universidade pública.

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Desde de 2017 os indeferimentos de matrícula geram o cancelamento do vínculo de muitos cotistas da UFRGS. Seja por não conseguirem comprovar a renda declarada ou por não serem considerados negros por uma comissão de aferição não votada pelos estudantes e que não sabemos quais seus critérios claros de avaliação. Apesar da suspensão das atividades presenciais desde março, em meio à pandemia do coronavírus essa política da reitoria não cessou. As infinitas avaliações de documentação seguem ocorrendo, e os estudantes que eventualmente não consigam acessar as distintas etapas desse processo burocrático perdem os prazos e, assim, perdem suas vagas. É esse o caso de um estudante do Instituto de Artes que entrou em 2018 e agora foi obrigado a abrir mão de um sonho. Ele perdeu a data de avaliação da comissão de aferição por não ter acesso à internet. Isso em um mundo que sistematicamente tira o direito de sonhar de milhões de jovens negros, sobretudo com a crise capitalista. Essa situação é uma das dezenas de situações que ocorrem desde de 2017 e se aprofundam em 2018. O indeferimento de estudantes cotistas tem se tornado regra na UFRGS. Muitos desses alunos acabavam descobrindo que foram retirados da universidade quando iam almoçar ou pegar livros nas bibliotecas e seu cartão de estudante era recusado dizendo que não faziam mais parte da instituição.

Nesta quarta-feira a votação do Ensino Remoto Emergencial aprofundará ainda mais o processo de exclusão dessa camada dos estudantes. Em todo o país as universidades aderem a essa modalidade de ensino que, apesar de uma sigla distinta, carrega as principais contradições objetivas do EAD: impede que a parcela mais precária dos estudantes, maioria negros e negras, possa seguir seus estudos. Seja pela falta das condições materiais de acesso, pela falta de condições psicológicas de manter uma rotina de estudos em meio à desgraça vivida por milhares de famílias com a pandemia, adoecendo, perdendo ou reduzindo drasticamente sua renda, o ERE significa ainda mais exclusão.

O ERE é parte de um projeto de país no qual a precarização da educação superior e a restrição de seu acesso a uma pequena parcela de estudantes com melhores condições financeiras é parte estruturante. Se trata de destinar à juventude um futuro que se resume em ver sua vida desperdiçada sendo força de trabalho barata aos capitalistas. É o projeto de país que o golpe institucional vem construindo e que se aprofunda brutalmente com a eleição de Bolsonaro. Este governo de militares, fundamentalistas religiosos e liberais vê na pandemia uma oportunidade para avançar também nesse sentido.

As universidade poderiam cumprir um papel importante neste momento, dedicando todos seus recursos materiais, humanos e científicos ao combate da pandemia, como viemos desenvolvendo em distintos materiais aqui no Esquerda Diário e também nos CAs das Artes Visuais/História da Arte e do Teatro da UFRGS, onde a Faísca está junto com estudantes independentes. A decisão do ERE será tomada apesar de boa parte dos estudantes não terem acesso e não terem tido sequer a possibilidade de opinar a respeito. Viemos colocando também a necessidade um plebiscito para que o conjunto da comunidade acadêmica e, particularmente, os estudantes, pudessem ser parte de decidir seu próprio futuro.

Porém nada disso ocorre na UFRGS. A pressão pela retomada do semestre para fingir uma normalidade que não existe termina ignorando todos esses fatores. E neste caminho, a frase que dá título a esta matéria, "estudante negro é expulso da universidade pública por não ter acesso à internet", se tornará rotina na UFRGS e em todo o país. Seja por não terem conseguido acompanhar o processo do indeferimento de matrícula, seja por não conseguirem acompanhar as aulas, é esse o resultado prático da política que leva à frente a reitoria, como uma correia de transmissão da política do governo, mesmo que às vezes aparece como "critica" à Bolsonaro. Reitoria, aliás, reeleita recentemente, sem ter maioria dos votos, em um processo que vai no extremo do antidemocrático, beirando o feudal.

Essa estrutura de poder arcaica é parte do que coloca a universidade a serviço dos capitalistas atualmente. Nós da Juventude Faísca, do Esquerda Diário, do CADi e do CATC seguiremos enfrentando o ERE, mesmo após sua votação, denunciando cada caso de estudante que perderá sua matrícula, denunciando a situação de exclusão que é colocada principalmente às e aos cotistas, negros e de baixa renda. Chamamos todas e todos, assim como o DCE e os demais CAs a serem parte desta batalha.

 
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