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TRIBUNA ABERTA
Antirracismo e capitalismo podem andar juntos?
Antonia Ramos

Recentemente a filósofa Djamila Ribeiro postou um vídeo em sua conta do Instagram onde faz parceria com a empresa de mobilidade urbana 99.

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É preciso dizer que o trabalho de Djamila é sobre desnudar a estrutura racista presente no país através de seus livros. No último lançamento de sua autoria “Pequeno Manual Antirracista”, Djamila ressalta que o objetivo do livro é aprofundar a percepção dos leitores para as discriminações estruturais para que assim possam assumir a responsabilidade pela transformação de nossa sociedade.

Não seria a precarização do trabalho que essas empresas apoiam uma discriminação estrutural?

No vídeo a ideia de que os trabalhadores devem sair a trabalhar para garantir o sustento de suas famílias é defendida. Isso pensando que estamos em uma pandemia – que hoje já levou a vida de mais de 78 mil brasileiros e infectou mais de 2 milhões – e ao mesmo tempo que o governo não garante um auxílio emergencial que realmente possibilitasse aos desempregados e informais fazer uma quarentena real e nem de longe se pensou a hipótese de racionalizar a produção de forma de garantir que os trabalhadores essenciais pudessem exercer seus trabalhos com segurança. No discurso de Ribeiro, uma vez que a empresa estaria tomando medidas para proteger trabalhadores e usuários, estaria agindo com responsabilidade. Mas como sabemos, motoristas de aplicativos de mobilidade urbana não têm vínculo empregatício. Não possuem plano de saúde, nem vale alimentação. Em caso de acidente no trabalho, estão completamente descobertos.

É constitucional o Estado manter as pessoas, dar saúde, moradia, não é um favor! Isso é uma das diretrizes dentro dos Direitos Humanos. O auxílio emergencial que o Estado concedeu para os trabalhadores volta para ele.

Grandes empresas como a 99, não sustentam sozinhas a economia. A economia se sustenta se nós (a base da pirâmide social) tivermos dinheiro pra injetar no mercado. Essa ideia de que o Estado não pode por mim, é bem egoísta e capitalista.

A postura de pessoas que lutam contra o racismo e trabalham ao serviço do capitalismo é muito preocupante uma vez que influenciam a sociedade com suas opiniões e esvazia a luta contra a exploração que esse sistema causa na classe trabalhadora, esta que é em sua maioria feminina e negra.

Estamos num momento onde os trabalhadores estão se levantando em atos grevistas contra a precarização do trabalho, como vimos dia 1 de julho com os entregadores de aplicativos.

É grave uma figura tão influente apoiar uma empresa que precariza em nome do lucro, com um discurso vazio de sentido, desviando a discussão da precarização informando atitudes sanitárias, que a empresa é obrigada a tomar para responder uma demanda mundial, para incentivar os usuários a darem mais lucros aos capitalistas e perpetuar cada vez mais a precarização aos trabalhadores.

É particularmente alarmante que ao mesmo tempo em que faz propaganda para uma empresa que utiliza desse novo modelo de super exploração capitalista como são 99, Uber, Ifood, Rappi, etc, Ribeiro mantêm um silêncio sepulcral sobre a exemplar luta dos trabalhadores de App por melhores condições de trabalho, por reconhecimento de que são sim trabalhadores, considerando aqui que esta é uma categoria onde mais de 70% de seus integrantes são negros e trabalham em condições de grande precarização, sofrendo racismo cotidianamente, onde até mesmo a utilização dos banheiros nos estabelecimentos são negados pra eles por causa da cor da pele como já foi denunciado aqui no Esquerda Diário.

Voltando a pergunta inicial – antirracismo e capitalismo podem andar juntos? – na nossa perspectiva a resposta é não! E tomamos aqui a célebre frase de Malcolm X de que “não há capitalismo sem racismo”, e para sermos consequentemente antirracista e vislumbrar uma realidade onde as raças sejam superadas, é preciso uma luta ferrenha contra esse sistema de opressão e exploração.

 
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