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GOLPE DE ESTADO NA BOLÍVIA
Evo Morales rechaça a acusação e denuncia a perseguição política do golpismo
Redação

A acusação de terrorismo contra Evo Morales faz parte do objetivo do bloco golpista de chegar nas eleições nacionais com a proscrição do MAS ou pelo menos de suas principais figuras. A perseguição política não para. A pandemia e sua péssima administração favorecem interesses golpista, enquanto mais mortes vai deixando.

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Nesta semana, a Procuradoria Geral da República formalmente acusou Evo Morales pelos crimes de terrorismo e sedição, em um salto na campanha de perseguição política ao MAS. Quase ao mesmo tempo, também foi feita a denúncia contra Arce Catacora, candidato presidencial do MAS, pelo suposto crime de corrupção na aquisição do programa para a Gestora Público das AFPs com a evidente intenção de proscrever o MAS, ou pelo menos para os seus principais candidatos. A presidente do senado, Eva Copa, também não foi poupada de assédio judicial quando foi denunciada por ninguém menos que o Ministério da Defesa devido à recusa do senado em aprovar as promoções nas Forças Armadas e que até levou a ameaças do comandante Sergio Orellana.

A acusação contra Morales por sedição e terrorismo foi apoiada pela promotoria, com base em um áudio de novembro no qual Morales, em comunicação desde o México com o ex-líder Faustino Yucra, teria chamado para cercar as cidades e impedir a entrada de alimentos as mesmas. O áudio acima mencionado foi usado pelo governo do golpe para justificar a brutal repressão de Sacaba e Senkata e para avançar na perseguição política aos opositores do novo regime.

Por sua vez, os líderes do MAS afirmaram que a acusação é na realidade parte da perseguição política lançada contra esse partido e que o áudio teria sido manipulado.

Para além da veracidade das várias alegações sobre o áudio, a verdade é que as alegações de sedição e terrorismo não são sustentadas desde que Evo Morales deixou o governo e o país sem oferecer resistência ao golpe, o que lhe rendeu várias críticas, principalmente dos moradores de Senkata, que alegaram que "os abandonaram" nas mãos dos líderes do golpe.

Por sua vez, Arce Catacora, quando denunciado criminalmente por dois contratos para a aquisição do software da administração pública dos fundos de pensão, afirmou que as acusações são falsas e que o governo de Áñez está tentando encobrir a corrupção do atual governo e um dano econômico de quase 10 milhões de bolivianos ao paralisar, em dezembro do ano passado, o segundo contrato que exigia pagamentos anuais para a aquisição do software. Nesse sentido, ele anunciou que denunciaria na arena internacional a perseguição política que o governo está fazendo, tentando banir o MAS das próximas eleições de 6 de setembro.

Finalmente, também nos últimos dias, se conheceu a queixa criminal do Ministério da Defesa contra a presidente do Senado Eva Copa, bem como a prisão em Cochabamba de um dos candidatos a senador do MAS, juntamente com outros autoconvocados da zona sul da cidade por os bloqueios em K’ara K’ara e a distribuição de alimentos para os locais nos trópicos de Cochabamba.

Eleições nacionais mais uma vez na mira

A relutante promulgação da auto-nomeada Jeanine Áñez da lei para convocar eleições para 6 de setembro, depois de ameaças da COB (Central Obrera Boliviana) e de organizações sociais de convulsionar o país se o não se respeitasse acordo alcançado entre o Supremo Tribunal Eleitoral (TSE), o golpísmo e o MAS para a data das eleições Dessa foram o atual governo e setores da comunidade empresarial e da direita "dura" está pressionado a procurar novas maneiras que lhes permitam manter o controle do aparato estatal, contemplando a possibilidade de suspender novamente a convocação para eleições, banir o MAS da mesma ou, pelo menos, proscrever seus principais candidatos.

Com este "roteiro", o Ministro do Governo tem um papel ativo na repressão e na perseguição judicial, como evidenciado na repressão policial e militar em K’ara Ka’ra, acompanhada por aeronaves dando voando razantes sobre a população mobilizada, e que foi corajosamente rechaçado pelos moradores da zona sul de Cochabamba. A prisão de vários ativistas e a transferência ilegal de vários deles para a cidade de La Paz, não só causaram a ruptura do acordo feito semanas atrás com os vizinhos mobilizados, mas também causaram o recrudescimento do bloqueio, aumentando ainda mais a polarização política e social no país.

As acusações criminais e a perseguição política dos principais candidatos do MAS chegaram a levar um grupo de senadores democratas à frente do ex-candidato presidencial Bernie Sanders a denunciar o governo de Áñez por violar direitos civis e políticos, exigindo um processo eleitoral democrático e transparente. No mesmo sentido, o advogado de Morales, Eugenio Zaffaroni, denunciou a perseguição política e questionou a legalidade das denúncias contra seu cliente, afirmando que o que se busca é impedir a participação do MAS nas próximas eleições, buscando consolidar o novo regime golpista evitando os riscos de uma vitória do MAS nas próximas eleições.

Por seu lado, a Câmara de Indústria e Comércio, CAINCO, e as organizações empresariais, juntamente com o grupo de Camacho, ACREDITE, pediram a suspensão das eleições novamente devido ao crescimento geométrico de infecções acompanhadas pelo colapso do sistema de saúde, afirmando que "a saúde vem em primeiro lugar" e alertando para um "desastre" se a data da eleição for mantida.

Denunciam que o colapso sanitário é conscientemente incentivado

Diante dessa situação de crise política, a pandemia e o colapso do sistema de saúde, com a explosão de infecções, mortes em residências, nos trabalhos, às portas de hospitais e vias públicas, começaram a se espalhar nas redes sociais e de alguns dirigentes sindicais e do MAS, a opinião de que isso estava sendo conscientemente provocado com o objetivo de justificar o adiamento indefinido das eleições.

O tão renomado "comitê científico" que assessora a presidente Jeanine Áñez está mudando as projeções na data em que a Bolívia atingirá o pico de infecções, afirmando que agora prevêem essa data para o final de agosto e o início de setembro. Inicialmente, foi declarado que esse colapso ocorreria no início de maio, conseguindo adiar as eleições para agosto, depois determinaram que seriam julho e agosto, conseguindo adiar as eleições para 6 de setembro e agora, novamente, há pressão por um novo adiamento de as mesmas.

A recusa em realizar testes maciços quando ainda era possível evitar o contágio da comunidade, a falta de provisão de instrumentos de biossegurança para o pessoal de saúde e que já está se traduzindo em paralisações e mobilizações do setor com a a morte de quase 80 trabalhadores da saúde, alimentam a especulação de uma possível instrumentalização consciente do desastre sanitário para alcançar os objetivos políticos de impedir a possibilidade de uma vitória eleitoral para o MAS. Os atos embaraçosos de corrupção que estão sendo descobertos na aquisição de respiradores, bem como a dramática falta de unidades de terapia intensiva, leitos hospitalares, respiradores, entre outros, têm se traduzido em um aumento nas mortes por falta de assistência médica e colapso dos centros hospitalares.

O governo, e particularmente os ministros do governo, Arturo Murillo e os ministros da Defesa, Fernando López, ou o ministro das Obras Públicas, Iván Arias, têm responsabilizado a população por essa explosão de contágios, por "não respeitar a quarentena", esquecendo que já faz mais de 100 dias e se tornou insustentável para a maioria trabalhadora e os setores populares mais pobres que não têm mais nada para comer.

O governo golpista tenta com isso fugir de sua própria responsabilidade, consciente ou negligentemente, pela gestão desastrosa da crise da saúde e que está causando a morte, fundamentalmente de trabalhadores, povos indígenas e setores populares, enquanto o setor privado de saúde continua realizando negociações suculentas com tratamento de casos de COVID-19.

A profunda crise de saúde combinada com a crise econômica, política e social lançada dificulta a previsão do resultado da atual disputa política e do próprio processo eleitoral, uma vez que a repressão e a perseguição política se tornaram o chave para a agenda do governo enquanto usa a pandemia discursivamente para permanecer a frente do poder do estado.

Desde a LOR-CI (organização irmã do MRT na Bolívia), repudiamos a perseguição política do MAS, o que não significa dar nenhum apoio político a este partido, não o fizemos antes tampouco agora agora. Desde o início de seu governo, denunciamos que o pacto constitucional de 2009 e que inaugurou o Estado Plurinacional, assinado pelo MAS e representantes da direita regional agrupados na chamada "meia-lua", permitiu o fortalecimento do empresariado, do agronegócio e da direita racista, que finalmente deu seu golpe de Estado em novembro do ano passado. Também destacamos sua responsabilidade por entregar a essa direita as bandeiras democráticas com suas medidas autoritárias, como o referendo do 21F. Hoje foi o próprio MAS que, como consequência de sua negociação sistemática com a direita, envernizou o regime de Áñez com legalidade.

O palco está aberto e até 6 de setembro muitas coisas podem acontecer. Desde LOR-CI, acreditamos que serão os trabalhadores que começaram a resistir aos ataques ao emprego, salários e, como mostra K’ara K’ara, as condições de vida de amplos setores populares que terão a última palavra sobre como a crise política em curso é resolvida. Isso dependerá em grande parte de como os sinais de resistência que vários setores anunciam para os próximos dias e semanas serão generalizados e eficazes.

 
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