O Ministro da Justiça e da Segurança Pública, André Mendonça, anunciou ontem, terça-feira, que determinará que a Polícia Federal investigue o jornalista da Folha de S.Paulo, Hélio Schwartsman, que escreveu em sua coluna um artigo intitulado “Por que torço para que Bolsonaro morra” após a notícia de que Bolsonaro contraiu a COVID-19. A decisão do ministro vai diretamente contra a liberdade de imprensa e de opinião, escancarando como os Ministros de Bolsonaro e as instituições desse regime estão diretamente ligados aos interesses dos governos e da casta dominante cujas ideias e ações se materializam na postura repugnante do presidente.

No entanto, essa decisão é ainda mais arbitrária quando levamos em consideração que Jair Bolsonaro vem relativizando o impacto dessa doença e as milhares de mortes por todo o país desde o início da pandemia, com respostas como “e daí?!”
quando questionado sobre as mortes. Isso demonstra que Bolsonaro ignora as mortes e a realidade de crescimento exorbitante nos números da pandemia, cujo controle parece estar ainda muito distante, apesar da reabertura do comércio e a “normalização” das mortes por distintos governos. Essa normalização demonstra que os governos e os empresários colocam os lucros acima das vidas das dezenas de milhares de cidadão mortos. Segundo os dados do Ministério da Saúde, o Brasil bateu 68.055 mortes, e o número de 1.716.16 infectados em todo o país, sendo somente ontem, 08/07, 1.187 óbitos, isso sem levar em consideração a realidade de subnotificação.

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Frente a essa realidade, é difícil compreender porque soa de forma tão absurda para o Ministro que um jornalista se expresse criticamente em relação ao governo, relativizando, por consequência, sua morte, assim como Bolsonaro relativiza diariamente os milhares de óbitos em nosso país desde que passamos a viver a pandemia do coronavírus. Pelo contrário, ninguém foi poupado dos incontáveis discursos obscurantistas em torno da pandemia e outras ações igualmente desprezíveis, como [a reprodução de uma tradição da supremacia branca dos EUA na mesma semana em que cresciam as manifestações por justiça a George Floyd e contra a violência policial, reascendendo o grito de black lives matter (vidas negras importam) em todo o mundo->http://www.esquerdadiario.com.br/Bolsonaro-bebe-copo-de-leite-em-lives-imitando-racismo-da-extrema-direita-americana.

Bolsonaro, que sempre ignorou o luto de milhares de famílias por todo país, rapidamente mobiliza a justiça para se blindar do mesmo tratamento que sempre proferiu contra as maiores vítimas da COVID-19 no Brasil: o povo pobre negro e periférico, que luta para sobreviver a espera de um auxílio cada vez mais inacessível e de uma saída para essa doença, produto da sociedade capitalista que nos condena diariamente.

É exatamente por tudo isso, mas também pela liberdade de imprensa e de opinião – direito que Bolsonaro sempre atacou, apesar de usufruí-lo muitas vezes irrompendo o direito de existência dos setores oprimidos nas manifestações machistas, racistas, xenófobas que promoveu –, que nós do Esquerda Diário nos manifestamos em repúdio a decisão do Ministro André Mendonça de censurar e perseguir politicamente as críticas expostas pelo jornalista Hélio Schwartsman. Basta da interferência da justiça burguesa e dos interesses dessa classe no direito de opinar e divergir dos jornalistas e dos cidadãos em geral. Não aceitamos essa interferência, que é resquício direto das práticas ditatoriais que se mostram vivas até hoje em práticas como essa.