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POLÍCIA RACISTA
Cerca de 95% dos brasileiros sabe que a polícia é racista
Redação

A pesquisa “Periferia, racismo e violência” realizada pelo Datafavela, parceria entre a Cufa (Central Única da Favela) e o Instituto Locomotiva, foi divulgada hoje pela manhã e aponta que apenas 5% dos brasileiros ainda possuem a ilusão que a polícia não é uma instituição racista. Entre os 95% que consideram a corporação racista, 52% acreditam que ela é muito racista, número que sobe para 60% entre negros.

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Foto de Carl de Souza/AFP

Ainda segundo os dados divulgados pela Folha, a relação de confiança com a polícia possui nítidas diferenças de raça e de classe. Se na periferia metade das pessoas sentem medo só de ver a polícia, essa estatística cai para 23% quando se trata das classes mais altas; se entre negros a frase “a polícia é perigoso para pessoas como eu” é cotidiana para 54%, entre brancos só faz sentido para 17%. Esse resultado aponta para a realidade de que se o medo da farda tem cor e localização geográfica, é porque o gatilho do fardado dispara sempre mirando essa cor e essa localização geográfica.

A pesquisa ainda aponta que 4 em cada 10 brasileiros que moram na periferia já sofreram algum tipo de violência policial, mas que mesmo dentro desse recorte de classe, a questão da raça fica evidente, pois os homens negros seguem sendo maioria. Há ainda outros dados alarmantes mostrando como ser negro e ser pobre trazem consigo uma carga de medo aprendido desde a infância: 56% dos negros (pretos e pardos, segundo autodeclaração) possuem medo de interagir com a polícia em situações cotidianas e o número sobe para 67% quando se trata apenas de pretos; 69% dos que já sofreram violência policial física desenvolveram traumas e sentem medo de passar por delegacias, barreiras policiais ou mesmo ver policiais perto de casa.

O resultado desse estudo mostra que no Brasil, assim como massivamente nos EUA, a polícia racista está sendo questionada amplamente pela população, que enxerga cada vez mais o racismo estrutural dessa instituição que não faz nenhuma questão de escondê-lo, com seus cotidianos - e sempre impunes - assassinatos de negros e negras, inclusive crianças, à luz do dia. O racismo é tão intrínseco na corporação que o secretário-executivo da Polícia Militar de SP, coronel Alvaro Batista Camilo, ao comentar a pesquisa tentando argumentar que a polícia não seria racista, usa uma justificativa completamente racista, dizendo que as abordagens são feitas conforme atitudes suspeitas e não características físicas e que “A abordagem da polícia é a mesma sempre. Mas veja como o abordado reage nos jardins e na periferia”, culpabilizando assim inclusive as crianças negras assassinadas brincando por terem sido assassinadas enquanto brincavam. Sabe-se muito bem o que são essas atitudes suspeitas: um negro com um guarda-chuva nas mãos, um negro em um carro caro, uma criança negra brincando com um celular, um negro sendo negro. A reação do abordado costuma ser morrer após o tiro que veio antes da pergunta.

Nos EUA, a luta antirracista contra a violência policial vem tomando contornos históricos, com esse questionamento aos assassinatos policiais racistas se aprofundando em uma luta que pede a expulsão dos sindicatos policiais das centrais sindicais e o desfinanciamento e inclusive abolição da polícia. A classe trabalhadora, a população mais pobre e periférica que lá, assim como aqui, sabe o que é a abordagem policial na periferia, organizou ações operárias em apoio à luta contra o racismo e levantando essas demandas. No Brasil, o maior país negro fora da África e que possui a polícia mais assassina do mundo, essa compreensão da ampla maioria da população sobre o caráter racista da polícia precisa ganhar as proporções mais profundas e levar ao questionamento à polícia em si, às forças repressivas e ao racismo estrutural do Estado.

Porém nem mesmo a esquerda brasileira se dispõe a dar esse passo profundo em diálogo com o sentimento amplo da população, preferindo se dirigir aos próprios policiais a escutar os trabalhadores, jovens e negros em seu ódio ao racismo e violência policial. Como disse André Barbieri em artigo no Ideias de Esquerda “Ao invés de exigir que nem mais um centavo do dinheiro público vá para o orçamento policial, organizações da esquerda brasileira tradicionalmente defendem seus motins por melhores condições materiais; ao invés de exigir a imediata expulsão da polícia de nossos sindicatos, incentiva-se uma espécie de “sindicalização” da polícia, tratando-a como parte da classe trabalhadora.”, referindo-se a organizações como PSTU e MES/PSOL, e continua “Naturalmente não nos referimos ao PT quando falamos do tratamento que a polícia recebe da esquerda. O PT é parte orgânica desse regime político que atende aos interesses dos capitalistas, que precisam de suas forças repressivas para a defesa de sua propriedade.”

Veja também: Nos EUA massas questionam a polícia, no Brasil Luciana Genro do MES/PSOL e PSTU debatem direitos dos racistas fardados

A evidência nesse momento de que apenas 5% da população brasileira ainda possui a ilusão de que a polícia não é racista sem dúvidas expressa como a luta antirracista nos EUA toma ares globais e influencia diretamente o pensamento do trabalhador no Brasil. Aqueles que lutam pela derrubada do capitalismo e a construção de um novo mundo, os socialistas, devem também se inspirar nas conclusões da classe trabalhadora em luta, que impõe o debate aberto sobre a necessidade do fim da polícia, deixando de reconhecer os policiais como trabalhadores, assim como do fim do estado capitalista, que tem no racismo um de seus pilares de sustentação. A força da revolta negra no coração do capitalismo mostra justamente como a luta negra é inseparável da luta de classes, e lutar pelo fim do racismo não pode ser apenas questionando a violência policial, mas essa instituição em si e o Estado ao qual ela serve.

Pensando justamente na tarefa dos revolucionários de levantarem com toda a força essa batalha e na necessidade de resgatar o mais avançado da estratégia socialista internacional para encarar os desafios que nos estão colocados hoje, que passa por unir a classe trabalhadora, entre negros e brancos, homens e mulheres, mas também com o conjunto dos oprimidos, assim como unir nossa classe internacionalmente, sem fronteiras, que convidamos todas e todos que se incendiaram com a fúria negra nos EUA a participarem do Ato Internacional Simultâneo Contra o racismo, a violência policial e para que não sejam os trabalhadores e oprimidos que paguem pela crise. Esse ato é uma iniciativa da Fração Trotskista, que impulsiona a rede internacional de diários La Izquierda Diario, da qual fazemos parte, e ocorrerá no próximo sábado dia 11 de julho às 15h pelo Facebook e Youtube, com militantes dos EUA que estão nas ruas contra o racismo, da França, que lutam em defesa dos imigrantes, brasileiros, que estão lutando contra a violência das balas da polícia e o racismo bolsonarista, e contará com saudações de revolucionários da Grã Bretanha, Alemanha, Chile e Bolívia.

Saiba mais: [EDITORIAL DO MRT] Rumo ao Ato Internacional Simultâneo: lutar contra o racismo e a violência policial em todo o mundo e recuperar o legado socialista

 
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