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GREVE
Comunicado da Petrobras é provocação contra a greve dos petroleiros
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi
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Passada uma semana da greve dos petroleiros a Petrobras emitiu um longo comunicado enviado a toda força de trabalho. Rapidamente os grupos de whatsapp se animaram com o que parecia ser um chamado à negociação, porém não se trata disto, sequer uma agenda de negociações aparece no comunicado.

Em nossa visão, trata-se de duas hipóteses não completamente excludentes: a empresa reconhece a força do movimento e com uma prática anti-sindical quer enfraquecer o mesmo para, em melhores condições negociar, ou por outro lado levar à cabo algumas ameaças contidas no comunicado para gerar um endurecimento no tratamento dos grevistas.

Destrinchando o comunicado: primeiro o elogio aos pelegos

O comunicado começa com os falsos números da empresa sobre a queda na produção, depois passa a um longo elogio a suas equipes de contingência (em geral chefes ou pelegos e mercenários, com honrosas exceções). Em seu elogio dos grupos de contingência não menciona o acidente que seus operadores de improviso causaram em uma unidade no Ceará, a LUBNOR, no mesmo dia de hoje. No seu elogio também não mencionam os riscos a saúde, segurança e meio ambiente que estas equipes despreparadas ou subdimensionadas ocasionam e estão fartamente denunciadas e documentadas pelos sindicatos.

Feito o elogio daqueles que estão em seu bolso, a empresa passou a enumerar que teve negociações com os sindicatos ligados a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), novamente menosprezando a mesma se referindo a esta federação como "cinco sindicatos".

Em meio a este paragrafo sobre a FNP a empresa afirma "as reuniões foram suspensas porque os cinco sindicatos, mesmo estando em negociação com a companhia, mantiveram bloqueio de caminhões na Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba (UTGCA). A Companhia reiterou a necessidade de interrupção dessa mobilização, mas a situação permanece a mesma."

Em reiterados comunicados o sindicato local nega que esteja realizando algum bloqueio violento como alega a empresa. Ao contrário, a empresa que tem desrespeitado os trabalhadores e rasgado o acordo coletivo.

Primeiro registrou como "falta não justificada", ou seja afetando direito a férias e 13o, o dia de paralisação realizado em julho. Sempre o ponto dos grevistas é registrado como "greve" e objeto de negociação no final dos acordos coletivos, este ano a empresa inovou, descobrindo milhares de operários "faltantes" na mesma data. Distribuiu advertências no Terminal de Cabiúnas por ocasião da mesma paralisação e agora em meio às negociações do acordo coletivo resolveu, unilateralmente, alterar a forma de pagamento do trabalho realizado pelos trabalhadores de turno em feriados. Há relatos de operadores que recebiam de uma maneira por mais de 30 anos, e "agora" a empresa descobriu que estava pagando mais que a lei exigia e cortou em até 50% os rendimentos nos feriados.

Ou seja, por trás de um discurso contra os "excessos" a empresa visa enfraquecer os trabalhadores do seu legítimo exercício do direito de greve.

Privatização é algo sagrado, não está em discussão

Feita esta ameaça a FNP e conjunto dos sindicatos, uma vez que há bloqueios e outras medidas legais, legítimas e constitucionais que os trabalhadores estão adotando em todo o pais, de que persistindo a greve e seus métodos de luta não haveria negociação, a empresa em seu comunicado passou a abordar suas negociações com a Federação Única dos Petroleiros (FUP). Na passagem onde afirma não poder tratar de temas "que não são de sua alçada". Os gestores da Petrobras querem fazer os petroleiros acreditarem que o Plano de Negócios (PNG) da empresa que prevê 57 bilhões de dólares de "desinvestimento" não é algo da alçada da empresa. Como não? Virou lei? Seria um decreto presidencial? Um mandamento divino?

Evidentemente este projeto privatista de vender um terço da empresa até 2017 é um plano do governo Dilma, em comum acordo com PMDB e PSDB, que podem divergir em alguns temas sobre o pré-sal e lei de partilha, mas juntos compactuam da venda da Petrobras. Os gestores estão se escondendo de sua responsabilidade ao se negar a discutir estes temas. O plano de negócio é ou não aprovado por eles? Se é porque não pode ser discutido com os grevistas?

Os petroleiros são responsáveis pela crise do país e da empresa? Cadê a Lava-Jato?

Em outra passagem digna de nota a Petrobras faz longa excursão sobre suas dificuldades financeiras oriundas do endividamento, cotação do real, preço do petróleo e dificuldades da economia nacional e internacional. Em determinada ocasião concita os petroleiros a se responsabilizarem dizendo "é importante que todos avaliem os impactos que essa greve pode causar à sociedade brasileira em um momento de crise".

A crise econômica e crise política do país seriam culpa dos petroleiros. Porque em tantos parágrafos não aparece, sequer uma vez a palavra corrupção? Lava-Jato? Os petroleiros não criaram esta crise, não são responsáveis pela roubalheira, nem pela crise política. Porém, agora os funcionários de Dilma no mando da empresa querem que paguemos esta conta. Este discurso para ganhar apoio social contra a greve dos petroleiros também pode ser interpretado como um chamado de um setor do governismo (a direção da empresa) para que outro setor (o sindicalismo da FUP) se centralize e priorize a estabilidade do governo e não a justa luta dos petroleiros por seus direitos e contra a destruição da empresa.

Pressão antissindical e ameaças contra o movimento de greve

Depois de desqualificar as negociações sobre a privatização que motiva todos petroleiros do país a estarem em greve, bem como a retirada de direitos na proposta de Acordo Coletivo feita pela empresa, a empresa conclui seu comunicado com um discurso antissindical para tentar fazer os sindicatos e os trabalhadores recuarem das medidas de luta que estão adotando em legítimo exercício de seu direito de greve, e ao mesmo tempo abre espaço a um tom de ameaça sobre os trabalhadores, ela diz:

a empresa não concorda que, durante o processo de negociação, haja o acirramento de movimentos grevistas, inclusive com ocupação de suas instalações e controle de produção. A Petrobras, mais uma vez, pede a reflexão dos empregados e seus representantes e reafirma seu interesse de concluir o ACT 2015 em mesa de negociação.

Ou seja, para a Petrobras, sucatear e vender um terço de suas instalações não seria causa para nenhum acirramento, cortar direitos, não repor os salários de acordo com a inflação não seria nenhum acirramento, criar faltas não justificadas, mas sim o exercício de um direito constitucional.

Este comunicado da Petrobras visa enfraquecer o movimento, tentar dividir os grevistas em "grevistas bons e ordeiros" e "grevistas maus" e sob justificativa da suposta existência de uns não negociar com os outros se todos não suspenderem suas medidas de luta não haveria negociação, quer enfraquecer o movimento para negociar em melhores condições (para ela e o governo) ou ainda abrir caminho para a empresa entrar na justiça pedindo o dissidio coletivo, ma interpretação possível da ameaça "concluir em mesa de negociação".

Querendo que recuemos da greve a empresa a empresa adota uma série de práticas e discursos antissindicais, preparando-se para momentos mais duros, ou para amedrontar e tentar conter a greve mais forte desde 1995.

Cenário da greve e necessidade de avançar na organização pela base

Com estas ameaças e pressão para recuarmos não será uma surpresa se nos próximos dias a categoria for surpreendida por uma onda de advertências, suspensões e outras medidas contra os trabalhadores para aumentar a pressão para que recuemos de legítimos métodos de luta. Com um comunicado como este a empresa anuncia que tentará dobrar os ânimos da categoria, seja pela via de recuarmos após seu comunicado ou a partir de ela adotar mais práticas contra os grevistas.

A Federação Única dos Petroleiros que hesitou em entrar na greve se manterá na mesma? Manterá as medidas de mobilização que tem tomado, ou irá esvaziá-las para mostrar que está aberta a negociar com quem está nos atacando e privatizando, para defender seu governo?

A única segurança que nós petroleiros temos de que nossa greve não será traída é tomando mais e mais seus rumos em nossas mãos, constituindo comandos de greve em cada local e um comando nacional único eleito pelas bases. Contra a pressão da empresa é preciso adotar medidas mais e mais enérgicas para derrotar a privatização e garantir os direitos de todos petroleiros.

 
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