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Entrevista com Sofia Scasserra: teletrabalho e direitos trabalhistas
La Izquierda Diario

O debate sobre o teletrabalho já está na agenda. A economista e pesquisadora Sofía Scasserra conversou com o programa de rádio argentino “El Círculo Rojo” sobre os direitos trabalhistas que estão em jogo.

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Sofia Scasserra é uma economista, professora e pesquisadora do Instituto Mundo do Trabalho Julio Godio da UNTREF (Universidade Nacional de Tres de Febrero). Ela é autora do livro “Cuando el jefe se tomó el buque. El algoritmo toma el control” (Quando o chefe pegou o navio. O algoritmo toma o controle) e é colunista de “Feas, Sucias y Malas”, transmitido pela Rádio Gráfica, rádio argentina. Também é assessora em questões de comércio econômico e internacional da Secretaria de Assuntos Internacionais, FAECYS.

Confira trechos da entrevista traduzida:

Hoje, o que se chama teletrabalho ou trabalho remoto é colocado como tema, embora sua prática não seja tão difundida. Como era o teletrabalho em nosso país (Argentina) e no mundo antes da pandemia? O quanto o teletrabalho avançou com a quarentena? Isso abre caminho para maior terceirização e flexibilidade?

"O teletrabalho era uma tendência que já vinha crescendo globalmente, mas de maneira muito tímida. Muitas empresas preferiam não optar por esse tipo de modalidade, porque toda a questão do trabalho em equipe é perdida".

"Outras indústrias vinham o adotando fortemente, e aqui nessa região houve bastante resistência, principalmente devido a alguns padrões culturais, aquela fantasia que existe de que o trabalhador que trabalha em casa, na verdade, assiste filmes no Netflix e resolve os problemas do trabalho em dez minutos e o resto do tempo ele não faz nada. E tem a questão dos empregadores de quererem controlar, de quererem estar em cima, mas a pandemia nos levou a essa experiência massiva em nível global, do que chamam de teletrabalho".

O que vivemos hoje não é a imagem que temos do teletrabalho?

"A imagem que o teletrabalho exemplifica é com uma janela panorâmica, uma sala branca, papéis, uma xícara de café fumegante, um computador do modelo mais moderno, um escritório bem arrumado e um sorriso digno de um anúncio de pasta de dentes da pessoa que está la sentada e tranquila. E se ela é uma mulher, está com as unhas pintadas, porque obviamente teve tempo de sobra para pintar a unhas, mas a realidade está muito longe disso".

"Normalmente as casas são bastante bagunçadas. A mulher, em especial, que está em teletrabalho, o faz na perspectiva de se encarregar da economia produtiva e reprodutiva, da carga de ter filhos em casa. Geralmente não têm uma mesa ou um ambiente adequado para isso, papéis que se juntam, campainhas e telefones que não param de tocar, em uma demanda constante de trabalho e de vida privada. A vida fica bastante bagunçada. Existe um tipo de relação entre o público e o privado, entre o trabalho e a vida pessoal, em que o trabalhador não consegue distinguir o que é trabalho e o que não é".

Do que se trata o direito de desconectar?

"O direito de desconectar é um novo direito trabalhista que devem conquistar as trabalhadoras e os trabalhadores da Argentina e do mundo. Em alguns países esse direito já foi conquistado, mas na maioria ainda é uma dívida pendente".

"Há uma overdose de hiperconectividade e existem abusos, por parte do empregador e mesmo dos colegas de trabalho, do tempo do trabalhador para aumentar a produtividade. Isso gera uma sobrecarga na saúde mental do trabalhador, na síndrome do ‘esgotamento’ ou do ‘cérebro frito’".

"Na Alemanha e na França, o direito de desconectar já está estabelecido por lei, e o que é feito é negociar dentro de cada ramo. Estabelecer regras para o ‘jogo’, pelo que eles podem entrar em contato com você e pelo que não podem. Se a empresa entrar em contato com você fora dessas regras, elas terão que pagar um extra".

"Isso tem um efeito ’tranquilizador’. Isso faz o empregador se perguntar: esta mensagem é relevante? Preciso enviar?" Isso é fundamental, principalmente para as mulheres, porque são usadas como uma agenda: "Lembre-me que na próxima semana ...". Você pode acertar os olhos do chefe, mas isso tem a ver com saúde, porque você pensa que no dia seguinte você deve responder e é isso que deseja evitar. O problema não é só técnico".

Quais outros direitos trabalhistas 4.0 devem ser debatidos?

"Acredito que o direito à proteção dos dados dos trabalhadores é essencial. Com a presença da tecnologia no local de trabalho, algo acontece, o que não é tão presente aqui, que as relações de trabalho são ’algoritmos’. Quando diretamente seu chefe é transformado em um algoritmo. Isso implica que a empresa maneje uma grande quantidade de dados sobre os trabalhadores, sem mencionar prédios inteligentes que podem saber quantos minutos você passou no banheiro, dados sobre a vida privada do trabalhador. E muitas vezes esses dados são vendidos pelas empresas".

"O trabalhador deveria estar ciente de que o está sendo monitorado e de que tipo de informação a empresa está manejando".

"Há também a questão da infraestrutura, que é diz respeito a tecnologia com a qual você trabalha, as medidas de saúde e segurança, sem mencionar os aplicativos, quem fornece o capacete ou a mochila. Agora você precisa arrumar um emprego, colocar os meios e também colocar as condições de saúde e segurança".

"E mais do que um novo direito, é uma prática saudável, acho que toda vez que uma nova tecnologia é introduzida no trabalho, é preciso negociar como será a transição com o sindicato, a organização que representa os trabalhadores".

"Se vamos negociar uma nova tecnologia e isso vai tornar os trabalhadores mais produtivos. Os trabalhadores vão ganhar mais por esse aumento de produtividade? Isso é algo que também não é discutido".

 
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