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VIDAS NEGRAS IMPORTAM
300 moradores do Guarapes e apoiadores gritam por Justiça ao Gabriel em Natal-RN
Redação Esquerda Diário Nordeste

300 moradores do bairro Guarapes, na Zona Oeste de Natal, realizaram forte e comovente manifestação por justiça para Geovane Gabriel hoje.

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“Eu só quero justiça” foram palavras ditas pelo seu pai no carro de som, à caminho de fecharem a BR 101, enquanto Quem Matou Gabriel seguia nos Trending Topics nacionais em uma campanha que envolveu as principais personalidades da capital potiguar. Após semanas nas quais a fúria negra estadounidense por justiça para George Floyd se alastrou por todo o globo com manifestações de milhares na Grã Bretanha, na França, Austrália, a indignação tomou as ruas da capital potiguar também, com cartazes que questionavam quem matou Gabriel e que as vidas negras importam.

Geovane Gabriel era um jovem negro de 18 anos que pedalava do Bairro Guararapes até Parnamirim para ver a namorada quinzenalmente, e nunca mais voltou na última sexta-feira, quando foi visto por testemunhas, que não quiseram se identificar, sendo abordado pela polícia militar já em Parnamirim. No dia seguinte, com a recusa da polícia em procurá-lo, familiares e amigos iniciaram buscas nos arredores da casa da namorada, encontrando os chinelos próximos e dias depois encontrando suas roupas e uma bicicleta queimadas em um matagal. Hoje a noite, foi confirmado que o corpo encontrado ontem em um matagal em São José do Mipibu era mesmo de Geovane Gabriel, com marcas de tiros e tortura.

Na manifestação, ficou marcada a exigência de que se faça justiça por Geovane Gabriel, em um estado onde nove a cada dez homicídios arrancam vidas negras. De acordo com um estudo do OBVIO, Observatório da Violência do Rio Grande do Norte, as vítimas de homicídio no estado, “entre 2011 e 2018, cerca de 93% delas eram homens, 85% eram pretas ou pardas, 49% tinham entre 18 e 29 anos.”

Bolsonaro e Mourão tem mãos encharcadas de sangue, levam adiante discursos de ódio e encorajam os setores mais reacionários, seja defendendo motins policiais como ocorreu no começo do ano no Ceará, seja promovendo mortes em massa pela COVID-19 sem nem ao menos garantir testagem massivas. Com letalidade superior entre negras e negros, garantem a manutenção e o aumento dos lucros capitalistas descarregando condições de vida cada vez mais precárias nas costas da população trabalhadora e pobre, majoritariamente negra, enquanto saúdam os porões da Ditadura Militar, daonde a nossa polícia aprendeu as torturas e assassinatos que se voltam contra os negros, ou a repressão aos trabalhadores.

Ao passo que afirmar a responsabilidade de Witzel frente ao assassinato de João Pedro e Ágatha, ou de Dória no caso de Guilherme e outros milhares de jovens negros, não podemos deixar de apontar a responsabilidade da governadora Fátima Bezerra (PT) por fortalecer a policia que matou Gabriel. Assim como em todos os outros estados, a polícia militar é de responsabilidade do governo do estado, assim como suas ações. Mas já não podíamos, e hoje podemos menos ainda, agir como se estivéssemos em um mundo onde haveria se comprovado que a polícia civil mereceria qualquer grau de confiança da classe trabalhadora, da juventude negra, afinal, o nome de George Floyd ecoa em gritos pelo mundo após ser asfixiado por uma polícia não necessariamente militarizada, mas igualmente mortífera pela sua função social.

Frente à dor e raiva sentidas pelo assassinato de Gabriel, é preciso transformar a luta por justiça em uma luta que não semeie ilusões. Por isso é necessário manter em mente o que foi a repressão da Força Nacional de Segurança às obras do PAC durante o governo do PT, a repressão dura às manifestações contra a copa do mundo, a aprovação da Lei Antiterrorista e a invasão militar no Haiti, ou até mesmo a repressão à manifestação antiracista e antifascista em Fortaleza na semana passada, quando a PM de Camilo Santana não permitiu sequer que houvesse concentração. Não é possível seguir acreditando em discursos bonitos que não condizem com a realidade, o que se prova com ainda mais força frente aos lucros intactos dos capitalistas, enquanto dezenas morrem todos os dias pela COVID 19 no RN.

Agora, Fátima Bezerra nos fala para confiar na Polícia Civil, enquanto suas diferentes secretarias buscam canalizar a indignação sentida com lives e repercussão do caso. Mas é possível confiar em uma instituição, que apesar de desmilitarizada, cumpre precisamente a mesma função social de defesa intransigente da propriedade privada e garantia “da ordem”? Nós acreditamos que não. Não é a toa que a exigência de abolição da polícia ganhe força enquanto vemos cada vez mais vidas negras ceifadas em meio a uma depressão econômica que se aproxima. Vejam abaixo vídeo de Letícia Parks em debate com Gregório Duvivier sobre a possibilidade ou não de reforma da polícia.

Caso a família e os moradores não tivessem se organizado para iniciar as buscas, provavelmente ainda não teriam notícias do paradeiro de Geovane Gabriel, por isso defendemos que seja realizada uma investigação independente, composta pelo movimento negro e movimentos sociais, com acesso a recursos financeiros e de dados para junto aos parlamentares da esquerda, que possa acompanhar e fiscalizar rigorosamente a investigação do Estado e impor que encontre e puna os responsáveis pela sua morte. Só assim teremos conseguir justiça.

Qual futuro esse regime reserva à juventude negra e trabalhadora? No caso da juventude potiguar, esta chegou 36% de desemprego em abril, atingida pelos projetos pautados por Bolsonaro, Mourão, com o apoio de Rodrigo Maia na Presidência da Câmara dos Deputados e o aval do ultra privilegiado STF para atacar os direitos dos trabalhadores. Fica evidente que quem deve decidir o rumo do país são justamente aqueles que mais pagam pela crise, os trabalhadores, a juventude negra e pobre, as mulheres, LGBTs, e não este regime podre. Por isso defendemos uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, para definirmos os rumos do país e fazermos justiça para Gabriel e cada uma das vítimas da violência estatal, e abrir caminho para por um fim a todas as polícias fortalecendo a auto-organização em cada bairro, local de trabalho e estudo.

 
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