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MANIFESTAÇÕES NOS EUA
EUA: Manifestantes precisam de espaço próprio para discutir próximos passos
Redação

Enquanto os protestos contra o brutal racismo policial escalam e unificam por trás da demanda de desfinanciamento da polícia, as massas radicalizadas necessitam ter seus próprios métodos de auto-organização para debater e planejar como seguir esse levante daqui para frente.

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Imagem: Luigi Morris

Uma assembleia democrática é um meio para as massas, desde as bases, discutirem problemas e tomarem decisões coletivas.

Os protestos que começaram com o assassinato policial de George Floyd cresceram até um levante internacional, enquanto os protestos continuam em todos os 50 estados dos EUA. Dezenas de milhares, senão centenas, vêm tomando as ruas todo o dia com diversas demonstrações. Os protestos também consolidaram uma demanda: eles clamam pelo desfinanciamento da polícia.

Todas as noites, centenas de manifestantes em cidades ao redor dos EUA quebram o toque de recolher e enfrentam a polícia. Eles mantém-se nas ruas mesmo depois das ordens de prisão e disciplinamento dos policiais assassinos foram cumpridas. Ambos os políticos Democratas e Republicanos fingiram horror e luto pela morte de George Floyd, mas também tentaram colocar as rédeas nos manifestantes seja com retórica seja com força.

Enquanto Trump se esconde em seu bunker, posa com a Bíblia para fotos, e ameaça despejar a força militar nos manifestantes, o Partido Democrata continua concedendo com a mão esquerda, e retirando com a direita para controlar e subjugar os protestos.

Além de cederem a algumas concessões, como denunciar policiais violentos, os Democratas, ambos estaduais quanto a nível federal, propuseram desfinanciar medidas e reformas policiais, a maioria das quais já estão em curso. Junto a estas concessões, prefeitos e governadores, a maioria Democratas, colocaram em ação a Guarda Nacional e liberaram violência policial massiva contra os manifestantes. Eles usam choques, gás, borracha, usam força contra os manifestantes e conduziram prisões massivas.Mais de 11 mil pessoas foram presas até agora, mais de 12 morreram, e dezenas foram seriamente feridas.

Da repressão à cooptação

Em algum nível, os Democratas também estão buscando uma forma de se localizarem na cabeça do movimento, o que só se faz possível por uma falta de liderança coordenada e falta de democracia de base.

Apesar de o desfinanciamento da polícia ter emergido como uma demanda central, ainda se mantém ambígua. Em Los Angeles, o desfinanciamento toma forma de redistribuir mesmo de 10% da LAPD (Departamento de Polícia de Los Angeles, em português), ou até U$ 150 milhões, para serviços e organizações de comunidades negras. De forma similar, em Nova York, a demanda é de desfinanciamento do Departamento de Polícia em U$ 1 bilhão, o que é apenas um sexto do orçamento operacional. A Câmara Municipal de Minneapolis votou recentemente uma resolução para dissolver o Departamento de Polícia de Minneapolis, mas qualquer decisão real neste quesito tem sido enrolada por um ano.

A emergência dessa demanda deu direção política ao movimento, mas a falta de precisão e centralização das demandas decididas por uma organização desde as bases tornam essas demandas abertas a interpretação. O vácuo permitiu aos líderes do Partido Democrata aparecerem com propostas de tímidas reformas e tentativas de cooptar o movimento. Enquanto alguns líderes, como o prefeito Bill De Blasio (Nova York), são abertamente rejeitados, outros líderes locais, mais “progressistas”, têm chamado e liderado reuniões, sugando toda a energia das ruas para campanhas eleitorais que estão a meses de distância.

É o momento para assembleias democráticas

Enquanto os protestos continuam, é visível que as massas estão se radicalizando em suas demandas e táticas. Manifestações que começaram em partes dos EUA, cresceram exponencialmente e fortaleceram-se ao redor da demanda de desfinanciamento da polícia. Em Seattle, manifestantes tomaram quarteirões inteiros, montando barricadas e postos médicos e de suprimentos.

Se vemos demonstrações ao redor do país, no entanto, manifestantes foram a comícios com horários e lugares pré-determinados, apenas para realizar que Democratas, suas organizacões co-relacionadas, ou outras figuras públicas, estão controlando o palanque e o megafone. Os milhares que comparecem a estes protestos não tem a oportunidade de dar sua opnião sobre o que está sendo dito, nem a chance de decidir para onde vão marchar.

Se os manifestantes quiserem evitar que o movimento seja cooptado e reprimido por líderes oportunistas, e se quiserem sustentar o movimento e cruzar um caminho de avanço político, precisarão de organizações democráticas. Já que em algumas cidades como Detroit e Seattle, assembleias e reuniões das cidades começaram a surgir, essa reuniões precisam se expandir para cumprir um papel central na organização dos protestos. Para sustentar e ampliar o movimento, para formular demandas, estabelecer tarefas coordenadas, assembleias massivas serão um importante passo a seguir.

Assembleias são meios para as bases e as massas discutirem suas questões, indo de orientações políticas para demandas, consignas e táticas, e tomarem decisões coletivas. Assembleias são não apenas para desenvolver uma análise política clara da situação atual, mas também para coordenar ações e campanhas, tanto a curto quanto a longo prazo.

Assembleias fornecem uma plataforma onde todos aqueles dispostos a falar e participar serão ouvidos e valorizados igualmente. Nenhuma pessoa isolada, grupo, ou organização política pode controlar o processo. Ao invés de ter o Partido Democrata e sua máquina controlando o palanque com sua lista de demandas pré estabelecidas, eles terão que colocar suas ideias juntamente com as de todos os outros. Como resultado, assembleias definiram sua própria agenda, e as massas irão ter a chance de endossar ou rejeitar propostas ao invés de sentirem-se obrigados a aceitá-las. Se assembleias não são automaticamente democráticas, deliberativas, combativas e anticapitalistas, elas têm o potencial para se tornarem - e normalmente se tornam - por causa da intervenção de socialistas e ativistas que conduzem para demandas radicais e expõe as armadilhas dos reformistas. Em exemplos ao redor do mundo, além disso, assembleias também organizaram sessões de estudo que proveram um necessário entendimento de fundo e uma profunda compreensão do contexto atual.

Mais importante, assembleias dão a chance para as bases das massas terem uma organização democrática. Deliberando a partir de ideias e objetivos programáticos, em debates abertos, livres, com distintas tendências políticas, uma larga gama de ideias será apresentada e uma experiência política comum começara a crescer.

Assembleias serão deliberativas a partir de cada proposta ser colocada a voto, e todos reunidos estejam aptos a votar. As massas serão capazes de tirar lições concretas de cada decisão que for fruto de um processo de debate coletivo, de voto e ação. Delegados e comitês eleitos por este processo serão imediatamente implementados e poderão ser revogados a qualquer momento se não corresponderem, dando as massas a experiência crítica em democracia direta. Os representantes de cada assembleia, além disso (territoriais, por local de trabalho, escolas e universidades), serão parte de corpos maiores que irão coordenar e dar maior coesão ao movimento.

Agora, assembleias estão surgindo como forma de organização entre as bases nos maiores epicentros do levante. Em Minneapolis, as massas forçaram o prefeito, Jacob Frey, a se mostrar durante uma assembleia, e consequentemente o expulsaram a vaias quando ele se recusou a aderir à abolição da polícia. Pela via de assembleias, as massas de Minneapolis também coordenaram seus objetivos políticos e ações. Tal processo está se desenvolvendo em Seattle, onde, por debates, discussões e coordenação, manifestantes tomaram partes da cidade no bairro de Capitol Hill, e decretaram zona autônoma. Terça a noite, pela ação coordenada, eles tomaram a Câmara Municipal, exigindo a renúncia do prefeito Jenny Durkan. Eles anunciaram uma lista de exigências que inclui não só a abolição da polícia mas também com demandas econômicas e sobre desigualdade social.

Assembleias, especialmente as que são organizadas territorialmente, terão a urgência de coordenar com outras assembleias de distintos bairros e cidades para ampliar sua influência e capacidade de ação. O mais crucial, elas terão o desafio de desenvolver e conectar-se com os locais de trabalho. Qualquer corpo de auto-organização encontrará seus próprios limites se não conseguir mobilizar a classe trabalhadora para lutar contra a classe dominante com suas posição estratégica no sistema capitalista.

Assembleias em locais de trabalho são cruciais para organizar trabalhadores para o confronto com os capitalistas

Enquanto o movimento Black Lives Matter cresce não só em tamanho, mas em visibilidade, não é segredo que o Estado, por suas representações políticas ou seu aparato de repressão armada irá fazer seu melhor para lutar em resposta. Lugares de protesto ou zonas autônomas recuperadas como as de Seattle receberão a mais violenta resposta estatal. É essencial que as bases se organizem, tanto política quanto taticamente, não só para conquistar as demandas do atual movimento, mas para lutar por mais.

Não há forma de separar a luta contra a polícia da luta contra o capitalismo. A polícia - defensores da propriedade privada - protege os interesses do estado capitalista que usa do racismo para dividir, oprimir, e matar os negros. Assembleias irão dar as massas os meios para organizar sua auto-defesa contra a polícia racista, agências de inteligência, boicotes e outras formas de forças de repressão do estado. Tal organização junto aos locais de trabalho, especialmente, podem pôr um freio na roda de produção do capitalismo e atacar a classe dominante onde mais a machuque.

Essas assembleias terão que se tornar o centro da organização de diversos setores que estão lutando e se organizando, para lançar um ataque coordenado contra o aparato do estado, e conduzir a luta, centralmente, para o coração da produção capitalista. O desenvolvimento deste primeiro passo até as assembleias que podem potencialmente se tornar organismos de auto-organização enraizados na classe trabalhadora serão fundamental para lutar contra este sistema capitalista racista.

 
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