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OPINIÃO
Contra Bolsonaro, o movimento antifascista precisa da unidade dos explorados e oprimidos
Pedro Cheuiche
Beatriz Maria

Em tempos de irrupção social, o termo antifascismo reaparece em jornais e discussões nas redes sociais. Precisamos da unidade dos debaixo, não a dos de cima, com setores que se fingem progressistas mas são lobos em pele de cordeiro.

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Bastante explicado pelo fato de surgirem interesses de criminalizar organizações que assim se intitulam, uma vez que essas atuam nos atos massivos antirracistas nos EUA e também no Brasil. Se o bolsonarismo na sua atuação lambe botas procura reproduzir os discursos de Trump, de repressão, os trabalhadores e movimentos sociais tem algo muito mais legítimo para se inspirar: a luta nas ruas contra a brutalidade policial e a miséria que é reservada aos trabalhadores no momento de pandemia. Como compreendemos que ambos são consequência dos interesses capitalistas, retornaremos brevemente a origem do antifascismo e como tal processo oferece reflexões para nossa organização numa orientação anticapitalista.

No início da década de 30, no contexto de fortalecimento do nazismo na Alemanha após a crise de 29, a Ação Antifascista foi criada pelo Partido Comunista Alemão (KPD). Apesar de permitir a participação de qualquer trabalhador, a criação da Ação Antifascista se dá num momento de atrito entre o Partido Comunista Alemão e o Partido Socialdemocrata da Alemanha (SPD). Enquanto o primeiro mantinha o horizonte político na revolução socialista, o segundo via a possibilidade de reformas sob o capitalismo. Mesmo com essas diferenças profundas de projeto, o momento urgia a necessidade de colaboração entre os partidos para derrotar o fascismo na Alemanha; juntos os dois partidos tiveram mais votos que o Partido Nazista nas eleições de 1933.

A recusa do partido comunista à uma Frente única dos trabalhadores que impusesse que o partido social democrata colocasse sua força em luta, visto que tinham a maioria dos trabalhadores da Alemanha, vai contra ao que era a estratégia contra o fascismo entendida por Trotski: a luta de classes. Ao invés de organizarem a massa de trabalhadores e enfrentarem o fascismo com esse conjunto, que poderia se demonstrar muito superior às forças nazistas, cada partido seguiu a seu molde um frágil enfrentamento. O SPD supôs que as instituições e polícia burguesas deteriam o nazismo, e o KPD lutou diretamente contra as milícias paramilitares nazistas, mas sendo uma minoria, dificilmente sua atuação seria efetiva.

O KPD, orientado sob a política internacional de Stalin, caracterizou o SPD como “social-fascista” e se recusou a fazer às exigências e denúncias necessárias a direção dos principais sindicatos naquele momento. Sendo o partido comunista uma minoria, não conseguiria por suas próprias frágeis forças colocar em marcha a força social para barrar o fascismo. Era necessário, pela via da manobra, arrancar das direções dos grandes batalhões da classe trabalhadora, a unidade na ação para barrar a ascensão de Hitler. Ao mesmo tempo, essa batalha pela unidade da classe trabalhadora precisa preservar a independência de classe da organização revolucionária do proletariado, que não pode misturar bandeiras com os reformistas e muito menos com a burguesia. Pelas palavras de Trotski, “golpear juntos, marchar separados”.

E essa breve exposição histórica do movimento antifascista nos mostra que, apesar de momento e lugar diferente, nossa luta contra o fascismo de Bolsonaro não será efetiva se não passar pela luta de classes, ou seja, pela frente única dos trabalhadores organizados a partir de seus lugares de trabalho.
A frente única deve ter seus sujeitos o conjunto de trabalhadores. E por isso que se ressalta o caráter anticapitalista de sua luta, a partir de uma vitória defensiva contra os ataques do governo que não protege nossas vidas, abre-se espaço para uma ofensiva a partir da qual seria possível inclusive impor uma nova constituinte livre e soberana.

Ao contrário dessa orientação, a frente ampla que é sugerida no atual cenário brasileiro, mostra a intenção da esquerda institucional em se aliar com setores golpistas e favoráveis às reformas que retiram direitos dos trabalhadores - como a reforma da previdência - para o Fora Bolsonaro. Ao invés de uma aliança sem critérios em nome de uma suposta volta a democracia - que nega que este foi apenas um conceito abstrato na vida de muitos grupos marginalizados no país, como as populações periféricas sob a brutalidade da falsa guerra às drogas -, uma frente única é a aliança concreta entre os setores de trabalhadores decidindo sua vida enquanto classe.

A frente ampla que setores da esquerda propõem sequer questiona Mourão como vice, e dá as mãos a oportunistas que na primeira oportunidade rifarão os direitos dos trabalhadores. No manifesto do "Movimento Estamos Juntos", coloca-se as diferenças entre esquerda e direita como se fossem dissociadas da realidade e pudessem ser ignoradas, quando negociar com a direita é negociar o direito a educação, saúde, moradia digna, e até mesmo, a vida. Frente aos atos contra a violência racista das forças de repressão, que são responsáveis por verdadeiro genocídio de jovens negros e pobres, quando não pelo encarceramento em massa dos mesmos, seria possível pensar numa negociação com Witzel, por exemplo para acabar com o genocídio da população negra nas favelas?

Assim, é necessário reforçar que uma frente única contra o fascismo e o capitalismo, deve ter em seu cerne a luta contra as opressões que sustentam o capitalismo.
A questão de classe em nosso país é indissociável da questão racial. A retirada de direitos, a flexibilização do trabalho, o descaso com saúde e educação públicas, entre tantas perdas para os trabalhadores em geral, atinge mais intensamente pessoas negras, uma vez que o racismo organizou a lógica capitalista em nosso país.
Por isso, contra o racismo, contra a opressão de gênero, contra a LGBTfobia, contra toda a exploração do sistema capitalista, somos antifascistas. E por isso, defendemos Fora Bolsonaro, mas não apenas. Somos Fora Bolsonaro e Mourão e a favor de uma Assembléia Constituinte organizada pela classe trabalhadora.

 
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