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MANIFESTAÇÕES CONTRA O RACISMO
Black Lives Matter: o que veio antes de Minneapolis?
Celeste Murillo
Argentina | @rompe_teclas

As imagens dos protestos em Minneapolis e outras cidades dos Estados Unidos recorrem as telas de todo o mundo. O assassinato de George Floyd voltou a confirmar que o racismo é institucional. Black Lives Matter, No Justice No Peace e outras consignas marcaram o nascimento de uma nova geração.

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Black Lives Matter

Em fevereiro de 2012, Trayvon Martin foi assassinado. Tinha 17 anos e era negro, foi morto por um vigilante, George Zimmerman. Quando o absolveram em 2013, explodiram protestos em várias cidades dos Estados Unidos e se instalou nas redes sociais a consigna Black Lives Matter (vidas negras importam). Assim nascia o grito que marcaria uma geração.

Em 2013 Barack Obama havia inaugurado sua segunda presidência. A chegada do primeiro presidente negro à Casa Branca foi um acontecimento de enorme peso simbólico. Obama se transformou no emblema das aspirações da comunidade negra, filha da escravidão e presa da violência e da discriminação racial.

I Can’t Breathe

Em 17 de julho de 2014, um policial assassinou a Eric Garner. Tinha 43 anos, era negro e foi asfixiado por um policial a paisana. Garner era asmático e, como ficou registrado em um vídeo que percorreu o mundo, ele disse "I can’t breathe" (não consigo respirar) inúmeras vezes ao oficial Daniel Pantaleo que o enforcou. Sua morte gerou protestos em Nova York porém a explosão veio quando a Justiça determinou que não havia provas suficientes para condenar ao policial que asfixiou a Garner.

Hands up, don’t shoot

Em agosto de 2014, um policial branco assassinou a Michael Brown, um jovem negro de 18 anos da cidade de Ferguson, Estados Unidos. No dia seguinte e durante dez dias consecutivos, familiares, amigos e habitantes da cidade se manifestaram exigindo justiça. O que poderia ser passado despercebido como mais um ato de brutalidade policial, fez estourar a raiva da juventude negra. A consigna "Hand’s up, don’t shot" (mãos ao alto, não dispare) se transformou no símbolo dos protestos de Ferguson.

no mesmo ano que assassinaram Brown e absolveram a seu assassino completou-se 50 anos da Lei de Direitos Civis (que pôs fim a segregação racial legal). Porém, nesse mesmo 1964, apenas uns dias depois da votação, estourou no Harlem (Nova York) uma grande revolta negra em resposta ao assassinato de um jovem pelas mãos da polícia. Uma recordação de que talvez nenhuma lei por si só acabará com o racismo. Quase como u rastro temporal, no mesmo ano do 50º aniversário, o assassinato de Michael Brown reabre o debate sobre a ilusão de uma sociedade pós-racial.

Os assassinatos não foram os primeiros nem os últimos. O assassinato de Freddie Gray em 2015, o massacre de Charleston, as execuções de Alton Sterling e Philando Castile em 2016 deixou em evidência que a brutalidade policial seguia tendo um viés racista. Ser negro nos Estados Unidos é motivo suficiente para morrer pelas mãos da polícia. Uma pessoa negra tem 3 vezes mais probabilidade de ser assassinada pelo polícia que uma branca. Além do mais, menos de 1 em cada 3 vítimas negras da brutalidade policial foram sequer suspeitas de um crime ou estavam armados (informações do Mapping Police Violence). Ainda que a comunidade negra supera apenas 13% da população, os homens negros entre 15 e 34 anos representam 15% dos assassinados pelas mãos de efetivos policiais (MPV).

No justice, No peace

"Sem justiça não haverá paz" marca o momento decisivo: os protestos contra o racismo não serão momentâneos, emergiu um movimento que denuncia a violência policial mas que também questiona os múltiplos aspectos da discriminação. Absolução após absolução dos policiais que assassinaram a Michael Brown, Eric Garner ou Trayvon Martin voltaram a encher as ruas de protestos contra a impunidade e confirmou as suspeitas de quem saiu às ruas: o racismo segue vivo.

Poucas pessoas poderiam imaginar que o episódio mais recente da luta contra o racismo dos Estados Unidos se desenvolveria sob o governo do primeiro negro. Localizado na "era pós-direitos civis", o surgimento do movimento Black Lives Matter pode ser lido sob o esgotamento progressivo da política de ampliação de direitos civis. A persistência do racismo e da desigualdade abriu o caminho para uma nova onda de descontentamento.

Como outros movimentos políticos nos Estados Unidos, as eleições de 2016 representaram um desafio. A campanha eleitoral reabriu muitos debates sobre a relação entre o movimento negro e o Partido Democrata. O peso desse partido na comunidade negra, desde o movimento de direitos civis até hoje conseguiu, não sem contradições, canalizar a insatisfação, debilitando e marginalizando aos setores radicalizados.

Voltar às ruas em um mundo distinto

O assassinato de George Floyd é somente mais um dos casos de violência policial racista contra a comunidade negra. Os nomes de Ahmed arbery, Breonna Taylor e Sean Read são menos conhecidos porém suas histórias são similares a de George Floyd. O afastamento e a prisão do policial que assassinou a George Floyd não teve o efeito esperado de acalmar os protestos. A celeridade com a qual atuaram as autoridades mostra o temor de que as jornadas de protestos se estendam e aprofundem, bem como a necessidade do governador democrata de Minnesota, Tim Walz, de distanciar-se das declarações incendiárias de Trump. Ocorreu o contrário, se mantiveram pela quarta noite consecutiva e se estenderam a todo o país.

O racismo explícito de Donald Trump não faz mais que exacerbar os ânimos. Durante a semana, o presidente encorajou as milícias brancas que desfilam armados até os dentes em distintas cidades a que enfrentem diretamente os manifestantes e ameaçou reprimir os protestos.

Não se pode esquecer que republicanos e democratas atuam com o calendário eleitoral na cabeça. É o que explica também a reaparição de Barack Obama na cena pública. Não é a primeira vez que Obama se mostra compreensivo com os protestos, em 2013 havia dito que Trayvon Martin poderia ser seu filho ou ele mesmo. No entanto, Obama e o partido Democrata sempre evitaram qualquer questionamento ao racismo, intimamente ligado com o próprio caráter racista do Estado estadunidense.

O espírito dos protestos de Ferguson e Baltimore está no ar. É sentido nas consignas e os cantos que acompanham os protestos, nos símbolos que voltam às ruas. A juventude negra está cansada de assédio e da violência policial. ainda que muitos dos problemas são os mesmos, desta vez o cenário é muito diferente. Governa Donald Trump e o país caminha para uma das piores crises econômicas e sociais, marcadas pela incerteza da pandemia de COVD-19.

Os protestos de Minneapolis encontram eco especialmente na juventude, mas também entre trabalhadores e trabalhadoras, entre milhões de novos desempregados e quem vivem a discriminação e a opressão. Encontrar e construir novas alianças pode ser o salto decisivo para tornar realidade o grito que volta a inflamar as ruas: sem justiça não haverá paz.

 
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