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CORONAVÍRUS
Colapso hospitalar no Peru: Idosos já não são admitidos em terapia intensiva
Cecilia Quiroz

Com 94.933 casos confirmados de Covid-19 e os hospitais de Lima incapazes de receber mais pacientes infectados, o Peru atravessa uma profunda crise sanitária leva médicos em hospitais públicos a serem forçados a decidir quem pode usar os leitos de UTI (terapia intensiva) e quem não.

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Segundo as denúncias dos médicos e as declarações do presidente da Sociedade de Medicina Intensiva, Dr. Jesús Valverde, hoje os médicos se veem obrigados, pelas circunstâncias críticas em que o sistema de saúde se encontra, a decidir quais pacientes tem permissão para ter acesso a unidades de terapia intensiva (UTI) e quais não. Isso levou a priorizar aqueles que têm uma maior chance de viver - como os jovens, por exemplo - resultando em serem forçados a deixar os adultos mais velhos à própria sorte, negando o direito fundamental à vida para esse importante setor da população.

Esse dilema dramático que os médicos peruanos são forçados a enfrentar - devido aos poucos leitos de UTI disponíveis, à falta de respiradores artificiais e à falta de infraestrutura hospitalar - não é, em nenhum caso, sua responsabilidade, mas do governo que, 6 meses após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o Covid-19 como uma pandemia mundial e após dois meses de quarentena, não conseguiu implementar uma política séria para dotar de melhor infraestrutura os hospitais, nem implementar testes em massa que permitam realmente conhecer o número de infectados e realizar seu consequente isolamento e devido cuidado. A isto se soma que desde o executivo não se prontificaram a fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) às e aos trabalhadores da saúde e dar respostas a outras necessidades urgentes de quem está na linha de frente.

Foto: Diario Gestión

Tudo isso ocorre porque a atenção do governo, no curso da quarentena, tem se concentrado em criar condições jurídicas e políticas para que os grandes empresários possam obter o maior benefício possível, às custas da dor e da morte do povo trabalhador, que é o que tem se contaminado massivamente neste último período de propagação do vírus. Por esse motivo, recentemente foi anunciado o resgate do Banco Central de Reserva (BCR) ao sistema de aposentadorias e pensões privadas (AFP). Essa medida se une à chamada "suspensão perfeita", que legaliza as demissões em massa, ao resgate de 30.000 milhões para os bancos e o subsídio das folhas de pagamento dos empresários na primeira etapa da quarentena.

Isso não pode continuar assim, principalmente quando vemos que diariamente se multiplicam as denúncias de infecções, mortes e falta de atenção à população infectada, ao pessoal médico, enfermeiras, enfermeiros e outros setores ligados ao sistema de saúde, assim como a trabalhadores de outras áreas, como os serviços, que, devido à necessidade de ter um salário para subsistir, são obrigados a saírem para trabalhar. Por isso, devemos exigir que todos os trabalhadores do setor da saúde realizem testes periódicos e gratuitos, porque estão na primeira linha do combate à pandemia.

Todos que trabalham em setores essenciais, como produção, distribuição e vendas de alimentos, supermercados, farmácias, transporte, serviços de limpeza, telecomunicações e funerárias, também devem ter essa possibilidade. Da mesma forma, testes moleculares gratuitos devem estar disponíveis para todos aqueles que apresentam um único sintoma de coronavírus ou que tiveram contato com pessoas já diagnosticadas como portadoras do vírus. Tudo isso na perspectiva de estender os testes para toda a população.

Diante do colapso dos hospitais e o subfinanciamento do sistema de saúde, é urgente que as clínicas privadas sejam declaradas de utilidade pública e, portanto, se tornem parte do sistema de saúde pública juntamente com os hospitais particulares do MINSA e ESSALUD. E para que funcionem adequadamente e priorizem a vida das pessoas como um todo, devem estar sob o controle de seus trabalhadores e de comitês de usuários organizados democraticamente, para enfrentar os interesses encobertos dos grandes empresários e consórcios privados que lucram com a saúde, como tem acontecido com as grandes cadeias farmacêuticas que, devido à disseminação dos infectados, aumentaram bastante o custo dos medicamentos básicos, com a conivência e cumplicidade de políticos e funcionários governamentais e de instituições como o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INDECOPI do Peru), que tem preferido se fazerem de cegos.

Para gerar os recursos financeiros que nos permitam cobrir as necessidades da infraestrutura médica, um imposto progressivo deve ser implementado o quanto antes sobre os lucros de grandes empresários, o qual deverá partir da abertura de seus livros contábeis e da quebra do sigilo bancário, para que todos possamos saber quanto realmente esses setores ganham através de suas empresas, bancos e AFPs e quanto eles contribuem para o Estado através de seus impostos. Da mesma forma, devemos discutir a necessidade de nacionalizar nossos recursos naturais, como os recursos da mineração, por exemplo, e colocá-los sob o controle dos trabalhadores e do povo organizado. Somente dessa maneira teremos recursos suficientes para nos equipar com um sistema de saúde pública de qualidade e ao alcance das grandes maiorias.

Cecília Quiroz é dirigente da Corrente Socialista das e dos Trabalhadores (CST) e editora do La Izquierda Diario Peru

 
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