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OPRESSÕES
InterUnesp retorna a Araraquara, cidade em que promoveu o “Rodeio das Gordas” em 2010
Beatriz Gonçalves
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O evento universitário InterUnesp retorna a cidade de Araraquara. No evento promovido em 2010 na cidade ocorreu o “Rodeio das Gordas”, demarcando seu caráter opressões. Estudantes da UNESP Araraquara promovem festa “StoneWall Inn” dias antes do evento com temática de combate as opressões e liberdade sexual e de gênero.

Em janeiro deste ano sai nos meios de comunicação das Universidades Estaduais Paulistas a noticia que o InterUnesp irá acontecer no campus de Araraquara, do qual eu faço parte. Muitos gritos de alegria e posts declarando o orgulho de ser unespiano e de receber o Inter novamente na cidade que é “um tesão” ecoaram durante o ano inteiro, desde quando todos passam a saber da noticia, quando os shows e atrações são anunciadas e agora, quando o evento está prestes a acontecer.

O evento citado é um campeonato esportivo com festas e shows que ocorre todos os anos, concentrando pessoas dos diversos campi da UNESP em uma cidade sede. Neste evento, os estudantes ficam acampados, participam dos jogos ou não e assistem a shows e festas com bebidas open bar (onde se bebe o quanto desejar ou conseguir). Esta caracterização se parece muito com as diversas festas que estão presentes nos calendários das universidades (aquelas que incitam a violência de gênero e sexualidade, que reitera a lógica do trote onde o “veterano” manda e o “bixo” obedece, etc), exceto por uma particularidade.

O InterUnesp 2015, como os demais, já merecia uma nota por possuir as características acima citadas, mas merece especialmente um texto pelo passado que possui no campus de Araraquara. Lembremos do ano de 2010 em que esta cidade sediou tal evento e que em todos os jornais se divulgou a noticia de que estudantes haviam feito o Rodeio das Gordas alegando ser uma simples “brincadeira”, da qual a “diversão” era subir em mulheres que estavam no evento (tidas como gordas) e permanecer em cima delas o maior tempo possível, o que assemelhava os atos a um rodeio.

Devemos relembrar tais fatos, pois este evento não deve ser um local onde se apartam as discussões de gênero e sexualidade. Muitas estudantes sinceras compram um convite e ao se deparar com outras meninas “pagando peitão” (mostrar os seios a “pedido” do público), passam a naturalizar tal situação. Não podemos agir da mesma maneira que nossa REItoria age com esses e tantos outros assédios, onde os autores do Rodeio das Gordas foram punidos na justiça a pagar uma determinada quantia em dinheiro e dentro da instituição ficaram apenas com três dias de suspensão no inicio do ano letivo, o que não prejudicou em nada a vida acadêmica destes criminosos.

A não punição dos estudantes envolvidos no Rodeio das Gordas nos leva a questionar as recentes punições feitas ao movimento estudantil desta mesma instituição elitista. Os estudantes que se puseram em luta para barrar o PIMESP (projeto racista) em 2013 receberam 60 dias de suspensão, perdendo bolsas e comprometendo um semestre inteiro; os estudantes do campus de Araraquara, que ocuparam a diretoria por permanência estudantil em 2014, receberam expulsão que depois de grande manifestação do movimento estudantil se torna suspensão de 6 meses que comprometeria o ano inteiro (leia sobre o caso aqui). Comparando tais penalidades vemos claramente a quem a UNESP serve, e de antemão respondo que ela não serve as mulheres e LGBTs oprimidos dia a dia, não serve as negras e negros que querem entrar na universidade e não serve aos filhos de trabalhadores que pedem por permanência estudantil.

Devemos exigir uma punição aos estupradores que vivem dentro das universidades públicas para que eles não retornem à instituição e suas vítimas precisem conviver com eles; uma universidade que trate das opressões de gênero, cor e sexualidade, onde tenhamos aulas obrigatórias e espaços onde possamos nos formar e debater, para que atos como o Rodeio das Gordas não se tornem naturais aos olhos dos espectadores e das próprias vítimas.

Tenhamos em mente que um Rodeio das Gordas é apenas um exemplo do que já ocorreu e que o presente não se fará igual. Duvido que tenhamos mais um “rodeio” em Araraquara ou em outro InterUnesp. Mas ainda teremos, seja no Inter ou em qualquer outra festa ou espaço que reproduza a mesma lógica, meninas sendo humilhadas, assediadas e estupradas e que não podemos naturalizar tais ações, aqui ou em qualquer lugar do qual estejamos.

É necessário que tenhamos festas e espaços onde nossos corpos possam ter liberdade de ser, onde nossa sexualidade não seja tratada como piada ou na lógica binária (exemplos como festas do “troca”, Gay Sapatão, etc). Devemos ter em mente exemplo como Stonewall Inn – bar dos Estados Unidos que deu origem aos movimentos de libertação gay e luta pelos direitos LGBTs no fim da década de 1960 – e criar espaços onde a socialização dos jovens não seja baseada em opressões de gênero e sexualidade que, atualmente, reina nas festas universitárias.
Venha na festa: https://www.facebook.com/events/1657133961193398/

 
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