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França inicia o desconfinamento com transporte abarrotado e controle policial
Juan Andrés Gallardo
Buenos Aires | @juanagallardo1

Algumas das linhas de transporte na região de Paris amanheceram lotadas, especialmente as dos bairros populares. Macron colocou 20.000 policiais nas ruas para garantir com repressão um desconfinamento caótico.

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O anúncio do desconfinamento a partir desta segunda-feira pelo governo francês já havia gerado muita desconfiança por parte da população. Principalmente nos milhões de trabalhadores precários das áreas periféricas de Paris que tiveram que se deslocar para seus trabalhos sem terem garantidas condições mínimas de segurança.

Esse cenário se tornou realidade na manhã de segunda-feira, quando milhares de pessoas tiveram que viajar abarrotadas nas linhas como 13 ou B provenientes de bairros populares das periferias como Saint-Denis ou Saint-Ouen.
Sem nenhuma possibilidade de manter o distanciamento social, e em muitas casos fazendo longas filas para conseguir mascaras gratuitas para evitar pagar 4 euros ou mais, milhares de trabalhadores, em sua maioria precários, voltam a uma “normalidade” onde correm o risco de contágio.

O governo Macron responde a esse desconfinamento descontrolado apenas com militarização das ruas para garantir a ordem e o controle policial. Os mesmos que durante o último mês e meio viveram nos bairros populares das periferias as ameaças e perseguição das forças repressivas policias, hoje tem que voltar ao trabalho sem condições de segurança e sob o controle de 20.000 mil policiais.

Transporte Abarrotado

A linha 13 do metrô, que vem da periferia parisiense de Saint-Denis, estava lotada na manhã de segunda-feira. A falta de trens e a má administração do governo geraram um atraso de aproximadamente 40 minutos, no qual um grande número de trabalhadores se juntaram, sem conseguir respeitar o distanciamento social. Os círculos que o governo havia pintado no chão das estações para que as pessoas ficassem afastadas, pareciam uma piada de mau gosto aos olhos daqueles que mais tarde viajaram praticamente empilhados dentro do metrô.

É uma linha em que a maioria dos passageiros são trabalhadores e trabalhadoras precários e o governo não teve problemas em expo-los ao contágio para aumentar os lucros dos empresários que exigiam o desconfinamento a todo custo. Isso foi feito mesmo com os trabalhadores do transporte denunciando há muito tempo a falta de preparação e a incapacidade da rede para gerenciar essa crise.

Uma imagem semelhante se viu na Gare du Nord (Estação Norte) da linha B, onde milhares de passageiros não conseguiram manter o distanciamento necessário. A maioria deles também residentes de áreas suburbanas que estão na linha de frente do desconfinamento desta segunda-feira e, portanto, de exposição à pandemia devido à negligência do governo.

A esse cenário se somou as longas filas que se formavam na frente dos postos de distribuição de máscaras. Com o aumento dos preços, foi impossível para alguns trabalhadores obtê-los antes da manha dessa segunda-feira.

A política de desconfinamento do governo, sem se importar com a segurança dos trabalhadores e trabalhadoras, foi uma demanda dos empregadores, a qual não se opuseram a maioria dos sindicatos, que longe de defender os trabalhadores se alinharam rapidamente ao discurso oficial de reabertura da economia a qualquer preço.

Controle Policial

A essa realidade se soma o controle policial disposto pelo governo para gerenciar a abertura nessas condições caóticas.

Macron e o primeiro-ministro Edouard Philippe querem fazer cumprir as medidas sanitárias que eles não podem garantir, através da repressão policial. Com o desconfinamento 20.000 policiais foram enviados para o transporte público, enquanto em Paris câmaras inteligentes são usadas para detectar o número de viajantes que não usam máscaras.

Segundo o ministro do Interior, Christophe Castaner, a missão da polícia é "impedir o mau comportamento". Ou seja, impor medidas sanitárias através da repressão nas estações, no metrô e nos trens, enquanto o governo ainda rejeita a distribuição gratuita de máscaras e não resolve estabelecer testes massivos. Os fazem contra o aconselhamento de especialistas e com o único objetivo de reviver a maquinaria econômica.

Quer dizer, os usuários de transporte público, obrigados a viajar para o trabalho com o medo de serem infectados, também terão que se adaptar à crescente presença de policiais e ao uso de câmeras de vigilância inteligentes para reconhecimento facial, com o risco de maior controle social.

Como aconteceu desde o início da pandemia, a resposta do governo é essencialmente repressiva. No entanto, nada indica que essa política possa ser imposta sem contradições para Macron. A maioria da população discorda da maneira como o governo lidou com a situação, a desconfiança no processo de desconfinamento é alta e a repressão e postura patronal já gerou durante a quarentena tanto protestos nos bairros populares como ações entre os trabalhadores para exigir não apenas condições de trabalho seguras, mas também como e o que produzir. É o caso dos funcionários da Airbus que exigiram da empresa um plano para fabricar respiradores em vez da fabricação de aviões poucos essenciais. Esses exemplos são aqueles que podem ser multiplicados diante da negligência do governo e dos empregadores, e o caos que já mostra o primeiro dia de desconfinamento na França.

 
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