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DIA DAS MÃES
Mães da linha de frente: “Espero que no próximo dia das mães tenhamos superado o capitalismo que é um vírus muito maior que se aproveita para lucrar em cima das vidas das pessoas”
Marília Rocha
diretora de base do Sindicato dos Metroviários de SP e parte do grupo de mulheres Pão e Rosas

Neste dia das mães em meio a pandemia do novo coronavírus e o isolamento social, reproduzimos o relato de algumas mães trabalhadoras da linha de frente do combate ao coronavírus. Com a palavra Marília Rocha, operadora de trem da linha Azul e diretora do Sindicato dos Metroviários, mãe de dois.

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Falam em feliz dia das mães. Mas, para as mães metroviárias e trabalhadoras esse dia não tem nada de feliz.

Eu no momento estou dispensada do trabalho por estar amamentando meu bebê, mas demoraram mais de duas semanas para me dispensarem e nesse período seguia trabalhando com medo de transmitir o vírus para meu filho e me revezando muitas vezes, chegando à noite do trabalho e ficando sem dormir para cuidar do bebê para o meu companheiro poder ir trabalhar.

Agora fui dispensada, mas a situação está longe de ser boa. Meu companheiro continua e trabalhando então o receio de trazer o vírus para casa se mantém. Fora que o meu salário foi cortado em quase 40%. Muito dos que foram dispensados ou que estão trabalhando home office estão na mesma situação. Enquanto isso as contas só aumentam.

Isso sem falar nas intermináveis tarefas domésticas que temos que dar conta sozinhas enquanto cuidamos das crianças. Para quem tem crianças maiores, ainda tiveram que praticamente se transformar em tutor de aulas de ensino a distância.

As outras mães metroviárias não estão em situação melhor. As que estão trabalhando não tem com quem deixar as crianças e ficam com medo de levar o vírus para casa. Outras, pior ainda, estão sem poder sequer ver seus filhos. Por estarem na linha de frente junto aos companheiros tiveram que deixar os filhos com algum outro cuidador e estão desde o princípio da pandemia sem vê-los.

A situação das trabalhadoras terceirizadas no metrô é alarmante. Nem as lactantes ou as do grupo de risco foram dispensadas, algumas tiveram as férias adiantadas e ao voltar foram demitidas, outras diretamente demitidas por pertencerem ao grupo de risco. Um escândalo!

Mães que convivem diariamente com a violência doméstica que aumentou e não tem para onde, nem como fugir, ou que veem seus filhos e filhas violentados.

No Metrô, como nos outros serviços, seguem trabalhando sem EPI adequado e sem testes para essas trabalhadoras e trabalhadores que estão na linha de frente.

A situação que já era difícil para as mães trabalhadoras, principalmente as mais pobres e precárias, agora na pandemia ficou ainda pior.

Por isso esse dia das mães, que antes já era uma data simbólica criada para reforçar o papel da mulher em ser submissa e dona de casa, ou ressaltar a mulher como "guerreira" que dá conta de tudo para romantizar a dupla e tripla jornada de trabalho a que estamos submetidas, hoje, mais do que nunca, não tem nada de feliz. Espero que no próximo dia das mães não somente tenhamos superado o coronavírus, mas sim o capitalismo que é um vírus muito maior que se aproveita de todas as situações para lucrar em cima das vidas das pessoas.

 
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