Como aprofundamos nessa análise, essa medida de Celso de Mello obriga que os generais Heleno, Ramos e Braga Netto, que ocupam postos centrais do governo, venham a depor sobre as acusações de que Bolsonaro estaria tentando intervir na PF com a troca de seu diretor-geral, motivo pelo qual Moro justificou a sua renuncia ao cargo de Ministro da Justiça e de Segurança Pública. O prazo é de 20 dias para cumprimento das diligências, e está prevista a condução coercitiva desses militares caso se recusem a dar seus depoimentos.
A troca de diretor-geral da PF por parte de Bolsonaro, tirando Valeixo para nomear o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, foi acusada por Moro como tentativa do presidente interferir em investigações, obter informações secretas, a respeito de casos envolvendo ele e sua família. Neste sábado, Moro depôs na sede da superintendência da PF em Curitiba e citou ter se reunido com esses três generais sobre as conversas que teve com o presidente sobre a troca de comando da PF. Com isso, Moro colocou os 3 militares como testemunhas de suas acusações, o que permitiu à PGR convoca-los a prestar seus esclarecimentos sobre o caso, criando uma situação, no mínimo, espinhosa entre esses generais com Bolsonaro.
Celso de Mello tendo acatado o pedido da PGR coloca uma ala do STF, dos procuradores do MPF, Moro e a imprensa, em um mesmo bloco que ataca a principal aliança Bolsonaro e os militares. Depois da saída de Moro, essa aliança se fortaleceu como nunca, se tornando a principal pilastra que sustenta o atual governo. Os militares, que vinham de um protagonismo crescente no governo, comandando seus principais ministérios, com Braga Netto chefiando as ações sobre a pandemia do coronavírus, passaram a articular a mais torpe e fisiológica venda de cargos do governo para o Centrão, na tentativa de rearticular uma base política no Congresso e dificultar qualquer possibilidade de impeachment.
Com essa medida, o STF busca aprofundar o seu papel de árbitro sobre o governo, disputando o protagonismo com o alto comando do Exército, tomando para si o controle e o cronômetro da crise política. A decisão de Celso de Mello autoriza inclusive a gravação e divulgação desses depoimentos, obrigando os militares a tornarem públicos os seus posicionamentos diante dessa crise. Um constrangimento ainda maior, que não agrada o conjunto do alto comando militar por ter que prestar contar publicamente do seu comprometimento com Bolsonaro.
Cabe ainda verificar a unicidade do próprio STF, da PGR e de setores do Congresso nessa ofensiva, que certamente encontra vozes dissonantes de como exercer esse enfrentamento. Toffoli, presidente do STF, é um dos que se colocam em função de uma postura mais dialogada, como ficou expressa na sua autorização de que o Ministério da Defesa, do general Azevedo, divulgasse uma nota louvando o reacionário golpe militar de 64.
Além disso, hoje às 16h, haverá uma Live do Esquerda Diário com tema: "Os impactos do depoimento de Sérgio Moro"
Você pode assistir à essa análise, acompanhedo o Link do EDaoVivo: https://www.youtube.com/esquerdadiario?fbclid=IwAR0KiwmK-thOc0UzN1Mlk4g6A9aeivrK08PA3noCbivAfPuTj-jOTC7IigY
Apesar da disputa, sabemos que ambas as forças atuam contra as nossas vidas quando se trata de atacar os trabalhadores e legitimar processos sangrentos como a ditadura militar. Não é das mãos de Moro, Celso de Mello, Toffoli, Gilmar, Mendes, da Globo que se pode confiar numa resposta contra o autoritarismo de Bolsonaro, de Mourão e dos militares.
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