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"Atacam nossos salários e até o final, as nossas vidas", diz trabalhador do Burguer King na Argentina
Marie Castañeda
Estudante de Ciências Sociais na UFRN

O Esquerda Diário conversou com Felipe, trabalhador precarizado do Burguer King na Argentina há quase três anos e estudantes de artes visuais, sobre os ataques patronais que a categoria de trabalhadores de comida rápida estão sofrendo durante a pandemia e sua consequente organização e coordenação a nível nacional. Publicamos abaixo seu relato.

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"Sou trabalhador do Burguer King há quase três anos, mas nem todos que trabalham comigo são estudantes, muitos são mães e pais e até mesmo chefes de família. Desde a segunda quinzena de março vínhamos sendo alertados que nossos salários seriam reduzidos, impactados pela decisão de fechar na quarentena obrigatória. Mas quando começou a quarentena as gerências haviam garantido que todos receberiam o salário integral, mas no dia do pagamento descobrimos que nosso salário havia sido rebaixado em 30%. Alguns não receberam nada porque lhes foi feito um desconto duplo, um pelas férias e um pela quarentena. Alguns receberam 50% do salário, aí decidimos que teríamos que nos organizar, por uma questão de necessidade, inclusive buscamos nossos gerentes e nos bloquearam no whatsapp. Criamos um grupo nosso e começaram a se somar setores de todo o país, porque é um ataque de conjunto, nacional. Inclusive podemos dizer que foi um ataque coordenado porque foi simultâneo em muitas empresas de comida rápida e decidimos que deveríamos nos unificar, inclusive porque estamos filiados em um mesmo sindicato.

Fizemos o que podíamos para visibilizar a luta, com twittaços que atingiram os trending topics na Argentina vários dias seguidos, com #McEstafa e #Pandemiasonlosempresarios. Alguns canais de TV abriram espaço para que nós fizéssemos denúncias, mas não podemos mostrar nossas caras porque nos perseguem muito nas empresas, estamos atuando quase clandestinamente. Quando buscamos o sindicato para que nos apoiasse, o sindicato disse que deveríamos mandar telegramas com assinaturas pessoais. O sindicato não nos protege e não vai garantir que não nos demitam quando acabe o decreto de Alberto Fernández que já se demonstrou insuficiente, já que as demissões acontecem com aprovação do Ministério do Trabalho. Fizemos tanta pressão pelas redes sociais que conquistamos que o Sindicato realizasse uma negociação com o Ministério do Trabalho, onde negociaram que distribuiriam na segunda quinzena de março, mas tivemos a indignante notícia de que o restante da negociação começou com um pacto de que os salários serão rebaixados a partir de abril, porque a empresa ameaçava dizendo que, se não se abaixassem os salários, seriam demissões e suspensões. Essa negociação foi um ataque e uma ameaça aos nossos direitos trabalhistas, e até final às nossas vidas porque muitos de nós, sem este trabalho, estamos em um contexto de quarentena onde é impossível conseguir emprego e nos encontramos em uma situação de vulnerabilidade total.

Nós do PTS, organização da qual sou militante, assim como Nico del Caño (deputado nacional) estamos batalhando para tecer uma grande rede de solidariedade de trabalhadores precarizados em todo o país, para colocar de pé uma defesa do nossos trabalhos, dos nossos salários e até o final das nossas vidas, porque o primeiro ataque realizado ao salários no nosso país foi aos jovens trabalhadores da comida rápida, que ao total somos ao redor de 25 mil em todo o país. E não estamos sozinhos, porque vemos muitos setores afetados pelas decisões dos empresários, com a garantia de Alberto Fernández que não disse nem uma palavra sobre a nossa situação. Quero agradecer por fazerem essa entrevista, e desde já dizer que precisamos nos coordenar e ter esse contato para nos prepararmos para o que vem. Então muito obrigada ao Esquerda Diário do Brasil que me deu este espaço, um forte abraço!"

A experiência dos trabalhadores da comida rápida na Argentina se insere em um contexto onde com o agravamento da crise econômica pela crise da pandemia do coronavírus, faz com que a OIT [Organização Internacional do Trabalho] preveja mais de 1 bilhão de desempregados em todo o mundo, enquanto os governos resgatam empresários e patrões.

Do outro lado do Oceano Atlântico, os trabalhadores da Telepizza no Estado Espanhol, tão precarizados quanto os de comida rápida da Argentina deram um forte exemplo de resistência contra a repressão patronal e as condições de trabalho insalubres, sem absolutamente nenhuma medida de segurança sanitária às quais eram submetidos, com o governo espanhol buscando enriquecer os patrões oferecendo a comida pobre em nutrientes e rica em gorduras para a população. Fizeram paralisações, conquistaram suas demandas de segurança e agora defendem que todas as redes de comida rápida sejam colocadas sob controle dos trabalhadores, para que passem a oferecer alimentação saudável aos setores mais afetados pela crise da pandemia.

Neste 1º de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, fortalecemos a luta para que a crise seja paga pelos capitalistas e não pela classe trabalhadora. Como twittam os trabalhadores argentinos #Pandemiasonlosempresarios, ou seja, a pandemia são os empresários, que lucram com as penúrias da classe trabalhadora. Que a força criativa da juventude precarizada se expanda e possamos colocar um fim a toda miséria, exploração e opressão.

 
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