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Espanha: “Não há reforma possível para a União Europeia do capital”
Marie Castañeda
Estudante de Ciências Sociais na UFRN

Santiago Lupe, historiador e diretor da seção espanhola da rede internacional La Izquierda Diario, acabou de falar no Ato 1º de Maio: 14 países, uma só voz, sobre a reposta da União Europeia frente à pandemia e a crise econômica, a atuação criminosa do governo espanhol do PSOE, a brava luta dos trabalhadores da Telepizza e a necessidade de erguer um partido unificado da esquerda revolucionária, para “construir sobre as ruínas das democracias dos ricos verdadeiras repúblicas de trabalhadores e trabalhadoras”.

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O Estado Espanhol já foi o epicentro da pandemia do coronavírus, onde com a subnotificação e a não aplicação dos testes massivos, uma política comum entre os Estados ao redor do mundo, as péssimas condições do sistema de saúde após anos de ataques fizeram muito mais de 30 mil vítimas, como de acordo com as estatísticas oficiais. Quando seu sistema de saúde colapsava junto ao da Itália, os principais Estados da União Europeia proibiram a exportação de respiradores e outros insumos médicos, demonstrando o verdadeiro sentido de existência da mesma, com seus Estados sendo “verdadeiros conselhos de administração de seus respectivos capitalistas”, como definiu Santiago.

Situou a crise dentro do cenário da região após o Brexit e a capitalização pela extrema-direita de fortes tendências nacionalistas, como consequências dos ataques implementados pela Troika, que não são em absoluto uma alternativa para responder às penúrias classe trabalhadora. Com o Estado Espanhol encarcerando estrangeiros em centros de internação e permitindo com que morram aos milhares no Mar Mediterrâneo.

Ao questionamento que muitos devem ter sobre como a Espanha chegou ao colapso dos seus hospitais e necrotérios, Santiago não deixou dúvidas: “O governo atuou tarde, não fez testes massivos e ainda hoje não está fazendo, e nos oculta o número real de mortos, mas calcula-se que superam em muito os 30 mil. Não foi apenas uma crise sanitária, estamos vivendo um verdadeiro crime social. Um crime social pelo qual são responsáveis os governos do Partido Popular e do Partido Socialista que privatizaram setores inteiros da saúde e dos lares de idosos, e que reduziram o orçamento da saúde em 20 bilhões de euros na última década. Um crime social pelo qual também é responsável o chamado governo “progressista” do PSOE e do Unidas Podemos, junto com todos os governos autônomos. Durante todo este tempo, não adotaram medidas essenciais como a intervenção efetiva sem indenização da saúde privada, que concentrava milhares de leitos de UTI ociosos no pior momento do colapso, e tampouco se interveio nas empresas, nas indústrias que poderiam ter sido reconvertidas para fabricar os equipamentos de proteção ou os respiradores que faltavam nos hospitais".

Como noticiamos aqui no diário, ao passo que o Estado Espanhol gastava 8,4 bilhões de euros em investidas militares, 4 bilhões eram colocados à disposição do enfrentamento à pandemia. As ruas foram militarizadas, as forças armadas e a política fortalecidas.

Santiago também alertou para as intenções do governo em querer “aproveitar esta situação para fortalecer sua posição frente à Catalunha e às aspirações democráticas de seu povo em sua luta pela autodeterminação, que em outubro do ano passado protagonizou várias jornadas de protestos e combates nas ruas que questionaram novamente a legitimidade do regime de 78.” Situação na qual o próprio Podemos, quando ainda não era parte do governo espanhol, se colocou ao lado da monarquia, demonstrando sua falência já então.

Os resgates bilionários aos empresários e capitalistas, que já chegaram a 1 bilhão de euros, contrastam com os efeitos da crise econômica na população, com 4 milhões de suspensões e 1 milhão a mais de desempregados, assim como 1 milhão e meio de autônomos também desempregados e pequenos produtores que faliram. Estes mesmos resgates são garantidos pela dívida pública, o que implicará em novos ataques às condições de vida.

Estes ataques são implementados pelo PSOE, com o Podemos como vice “porque assumiram fazer parte de nada menos que um governo da quarta potência imperialista europeia, ou seja, serem advogados das multinacionais espanholas que saqueiam as riquezas de outros povos irmãos na América Latina e em outros continentes. Decidiram ser parte, ser um partido mais leal à Sua Majestade, prestando homenagem à reacionária instituição monárquica que em meio a esta crise voltou a tornar públicos mais casos de corrupção. A Coroa veio tomando os milhões e milhões que hoje resultam cruciais para a saúde pública.” Assim como o Izquierda Unida, próxima ao Partido Comunista, que faz parte deste governo.

Santiago também relatou o forte exemplo dos trabalhadores de Telepizza, que responsabilizaram o governo pela sua cumplicidade com as empresas, sendo obrigados a trabalharem sem nem mesmo as medidas mínimas de proteção contra o contágio. Eles realizaram paralisações contra a repressão da empresas e avançaram para debater que estas empresas de comida rápida deveriam ser postas sob controle dos próprios trabalhadores, para em vez de produzir comida danosa, passasse a garantir alimentação de qualidade para os mais afetados pela crise.

Defendeu então a necessidade de construir uma esquerda revolucionária e da classe operária, para combater qualquer ilusão na administração do Estado capitalista, que possa deter a patronal e os mercados financeiros. Defendeu a construção de “Uma esquerda da classe trabalhadora, das mulheres, da juventude, independente de todos os partidos patronais, que levante um programa para que a crise seja paga pelos capitalistas".

Também colocou as iniciativas da Corrente Revolucionária de Trabalhadores e Trabalhadoras (CRT), organização irmã do MRT no Estado Espanhol e impulsionadora do La Izquierda Diario, para batalhar por uma atuação em comum com outros grupos da esquerda revolucionária, em torno de um mesmo programa para avançar nos debates para a construção de um partido unificado da esquerda revolucionária. Citou a organização Anticapitalistas, que rompeu recentemente com o Podemos e à Candidatura de Unidade Popular (CUP) da esquerda independentista catalã a uma ruptura definitiva com toda ilusão na administração do Estado burguês ou na burguesia independentista catalã.

E concluiu: “Ou os capitalistas nos impõem seu programa para salvar seu Estado, para salvar suas empresas, para salvar seus lucros, ou a partir da classe trabalhadora e do povo os impomos o nosso, com base na expropriação dos expropriadores, para construir sobre as ruínas das democracias dos ricos verdadeiras repúblicas de trabalhadores e trabalhadoras".

 
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