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ORIENTE MÉDIO
Novas manifestações no Líbano contra os bancos e o governo
Salvador Soler

Este domingo as ruas do Líbano se encheram de manifestações contra os bancos e o governo, que não deixam de arruinar milhares de famílias em uma crise econômica que se aprofunda com a pandemia de Coronavírus.

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Desde terça-feira, 21, o Líbano voltou a ser cenário de protestos contra o governo sob gritos de “Zaura!” (revolução em árabe). Manifestantes por todo o país romperam as ordens de bloqueio decorrentes da pandemia para protestar em frente ao Banco Central libanês em Beirute e várias cidades, logo que a moeda do país, a Lira, entrou em queda livre.

As manifestações prévias à quarentena obrigatória na ex-colônia francesa tinham como eixo central as condições de precariedade nas quais vivem grande parte da população. 90% dos 7 milhões de habitantes do líbano não consegue cobrir o custo de vida familiar e sobrevive com as remessas que enviam os familiares do exterior em dólares; sem mencionar os milhares de palestinos que vivem nos campos de refugiados que dependem do trabalho diário para comer, ou as mulheres migrantes, a maioria etíopes, que dependem do sistema Kafala (sistema para empregar imigrantes em condições análogas à escravidão). A pandemia permitiu ao governo refrear as manifestações opositoras, mas não solucionar a situação.

Veja também: Na “linha de frente” para que os capitalistas paguem pela crise pandêmica e suas brutais consequências

Até uma semana atrás, o dinheiro enviado do exterior ao Líbano em forma de remessas podia ser retirado em dólares, mas desde 21 de abril todas as transferências deveriam ser retiradas em moeda local sob a “taxa de mercado” de acordo com a circular do Banco Central Libanês. Isto empurrou o tipo de câmbio “não oficial” a quase se triplicar, de 1.507 liras libanesas por dólar para mais de 3.600 liras por dólar, alcançando sua máxima histórica, com uma inflação de 27% e uma queda de 50% da moeda, Além disso, essa medida se aplicará também ao preço dos produtos básicos como comida ou medicamentos, apertando a situação de milhares de famílias.

Por conta dessa situação, multidões romperam a quarentena para se enfileirarem frente aos bancos e as empresas de transferência de dinheiro como Western Union e Money Gram, tratando de retirar seus dólares no último dia antes do comunicado do Banco Central, transformando a situação em uma manifetsação de fato, onde houve enfrentamentos com a polícia.

As ruas de Beirute voltaram a estar inundadas de pessoas se manifestando contra a piora das condições econômicas e sociais no país, levantando as bandeiras vermelhas com o cedro verde no centro. Também a Praça dos Mártires, o lugar no qual começou em outubro o levatamento contra a classe dominante que governa desde o fim da guerra civil em 1990, foi rodeada por uma caravana de carros que partiu para percorrer a cidade com canções e bandeiras em protesto.

Nesse domingo, 26, houve manifestações em Beirute, Trípole, Chekka, Zalka, Saaldiyat, onde levantaram barricadas para bloquear a ponte de Palma, situada entre Trípole e Beirute e queimaram pneus no local. Durante a noite de domingo, dois bancos foram atacados com molotovs pelo ódio que geram entre a população que vê nessas instituições os responsáveis pela situação econômica (A principal atividade econômica do país são movimentações financeiras, especulação e a lavagem de dinheiro do mundo árabe). Em Sidon, os manifestantes confrontaram a polícia do lado de fora da sede do Banco Central.

Enquanto isso, a Human Rights Watch advertiu que centenas de milhares de libaneses podem passar fome se o governo não fornecer um programa de ajuda robusto para aliviar a situação. Um programa de assistência em dinheiro, que prometia um pagamento único de 400.000 liras para os mais necessitados, nunca se concretizou, deixando centenas de milhares passando fome. Os funcionários do governo ainda enfrentam dificuldades para tentar chegar a um acordo sobre um plano de resgate financeiro que possa apoiar os programas de assistência social. Em março, foi a primeira vez na história do Líbano que decumpriram um pagamento aos credores da dívida, deixando o país em uma posição difícil para negociar novos financiamentos.

É uma situação semelhante à qual está a grande maioria dos países que estão enfrentando bloqueios econômicos ou crises de dívida, enquanto enfrentam a pandemia sem recursos. Mas os problemas estruturais do Líbano não caíram do céu, durante anos foi governado por uma casta de líderes dos diferentes partidos religiosos enfrentados na guerra civil terminada em 1991 que distribuiu o poder e, portanto, também os negócios e os lucros. Hoje, a iniciativa está nas mãos dos xiitas do Hezbollah e Amal, juntamente com seus aliados, o Movimento Patriótico Livre, a principal força cristã do país, que organizou a assistência social durante a pandemia, enquanto anteriormente reprimiam os protestos desde outubro. Resta saber se eles responderão da mesma maneira novamente.

As manifestações de outubro, sob o grito de ’fora todos’, começaram devido à situação econômica crítica devido ao financiamento do país que tem o maior índice de endividamento do mundo (90 bilhões de dólares, 170% do seu PIB) ), onde o governo da época havia tomado uma medida para restringir a extração de dólares. Além de afogar a população com impostos absurdos, como sobre chamadas do Whatsapp. Antes das medidas de bloqueio serem impostas, o Banco Mundial estimou que 40% dos habitantes libaneses vivem na pobreza e milhares perderam seus empregos (pelo menos 200.000 desde outubro) e estimam que o número aumentará devido à crise econômica.

A volta às ruas por parte dos manifestantes, desafiando as medidas restritivas de prevenção à propagação do vírus, sugere que a luta de classes será o centro da cena rapidamente. Como o demonstra uma ativista que participou dos protestos domingo: “sabemos que estamos vivendo no momento uma pandemia de Coronavírus, mas a fome pode ser tão ruim quanto o Coronavírus”.

Tradução - Ricardo Bergamaschi

 
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