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Professores e estudantes de SP
Caos e confusão com ensino remoto em SP mostram que EAD é problema, não solução
Redação

Nesta segunda-feira (27) o governo de São Paulo iniciou, de forma conturbada, seu programa de ensino remoto para mais de 3,5 milhões de estudantes da rede. O programa, ao mesmo tempo que exibe os problemas gerados pelo processo de precarização da educação e de outros setores da vida dos trabalhadores, confirma a impossibilidade de se fazer uma transposição mecânica do modelo de ensino presencial para o virtual e a falta de ações efetivas contra a pandemia.

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Com a chegada do novo coronavírus, as escolas, tanto privadas quanto públicas, tiveram que suspender as suas atividades durante período indeterminado. Em São Paulo, frente a crise do novo coronavírus, João Doria e Rossieli Soares optaram pela adoção do Programa de Ensino Remoto para os mais de 3,5 milhões de estudantes da rede estadual. A proposta, é disponibilizar aulas aos alunos por meio do aplicativo da Secretaria de Educação e de dois canais ligados à fundação Padre Anchieta, responsável pela administração da TV cultura.

A estreia do programa nesta última segunda-feira (27), exibiu desde já os problemas inerentes a uma tentativa de transposição mecânica de um modelo de ensino para outro, sem considerar, sobretudo, as desiguais condições de vida dos milhões de estudantes da rede estadual. Conforme os depoimentos de alguns deles à Folha, percebe-se que, além do problema de acesso e funcionamento do aplicativo que parte deles enfrentou, muitos não puderam acessar, seja por falta de condições materiais para isso, seja pela falta de informações sobre o aplicativo.

Os problemas de acesso não permitiram que os alunos pudessem acompanhar as aulas no aplicativo, ao mesmo tempo em que o chat, espaço por meio do qual os estudantes poderiam expressar suas dúvidas, não possibilitou uma sistematização das perguntas e demais interações.

Outro ponto, que se soma aos anteriores, é o fato de diversos estudantes não terem acesso às aulas em função das precárias condições de vida nas quais se encontram. O nível de desigualdade social, que se expressa no estado de São Paulo, bem como em todo país, afeta os estudantes que também estão inseridos nessa realidade, sobretudo os que estão matriculados da rede pública de ensino.

Partindo da ideia fundamental de não desconsiderar a presença dos alunos do sistema econômico, é preciso considerar que eles são igualmente afetados pelos ataques, lançados pelo governo, contra a vida da classe trabalhadora. Sendo assim, todas as reformas econômicas, promovidas principalmente desde o golpe institucional de 2016 e a ascensão da extrema-direita, precarizam a vida de milhões de estudantes que estão na rede estadual, fazendo-os ter diferentes contextos de vida que não podem ser desprezados.

A aplicação desse programa, reforça e cria barreiras no acesso à educação, uma vez que os estudantes mais pobres não conseguem acessá-la da mesma forma que os demais. Concomitantemente, também são reforçadas desigualdades formativas, posto que uma parte dos estudantes pode ter acesso ao conteúdo, enquanto outros, não. Por meio dele, escancara-se também o nível de precarização dessa área e o caminho que se abre para sua mercantilização, ao tentar-se impor uma normalidade inexistente diante do covid-19.

O nível de precarização fica nítido ao se analisar que parte do corpo docente, encontra-se sobrecarregado diante da demanda de estudantes e também pela falta de suporte por parte do governo, que apenas cobra resultados e não oferece qualquer suporte ou diálogo sobre o tema. Já a mercantilização desse setor, se dá pela atuação da iniciativa privada, de grandes empresas e fundações, envolvidas na aplicação do Programa Ensino Remoto, que estão produzindo e promovendo alguns materiais que serão utilizados, ao passo que se beneficiam da verba pública.

Quando somados os aspectos mencionados, as problemáticas de transposição de um modelo de ensino presencial para o virtual expressam-se. Criam-se ainda mais barreiras para o acesso à educação, sobretudo pela desigualdade social, ao mesmo tempo em que se reduz a possibilidade de troca qualitativa de ideias e construção de conhecimento entre educadores e educandos, possibilitadas pela interação presencial, e que existiam, ainda que de forma precária em função das condições de trabalho dos docentes, antes da pandemia.

Outro fator que potencializa os efeitos da precarização que está sendo imposta é a falta de ações por parte de Doria frente ao covid-19, o que afeta a vida dos estudantes de diferentes formas. Ao mesmo tempo que se limita à quarentena, que abarca somente uma parcela da população, não são tomadas medidas à altura para responder a essa crise, como a ampliação de leitos e disponibilização de testes massivos para lidar com a pandemia de uma forma racional.

A imobilidade das centrais sindicais e mesmo da APEOESP também se configura como um fator que agrava o contexto à medida que debilita a luta pelas verdadeiras demandas que se impõem nesse momento. No marco de não promover a organização da luta dos professores nesse contexto, a associação de professores só incita ações individuais desses profissionais, deixando-os expostos ao assédio das direções. Já as centrais sindicais, têm pautado exclusivamente a confiança no congresso para responder a essa crise (setor responsável por diversos ataques aos trabalhadores), ao mesmo tempo em que chamam setores da direita para dividirem palco no 1º de maio.

Diante desse contexto é preciso compreender que saída para essa crise não se dá pela via institucional. É preciso levantar a independência de classe, sobretudo os professores que se mostraram nesses últimos anos um pólo de oposição aos ataques do governo, sem confiança em outros setores do governo que só querem atacar a classe trabalhadora.

Para tanto, deve se pautar um programa que esteja à altura da crise, que não prejudique professores e estudantes em meio à pandemia e que exija a reestruturação do sistema de saúde sob controle dos trabalhadores, e a readequação da produção para responder às demandas imediatas da população. A saída para a crise que nos acomete, se dará somente pela classe trabalhadora e, somente com o protagonismo dela, é que a escola poderá de fato cumprir seu verdadeiro papel, rompendo com as desigualdades e a sua precarização.

 
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