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Brasília: 60 anos de contradição
Pedro V
Comitê Esquerda Diário DF/GO
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Todo aniversário de Brasília é a mesma lenga-lenga “levar a capital do país para uma região central”, “Dom Bosco sonhou”, “entre os graus 15 e 20”, “Juscelino Kubitschek”, “o arquiteto e urbanista Lúcio Costa”, “ partiu do traçado de dois eixos cruzando-se em ângulo reto”, “Oscar Niemeyer pra lá e pra cá”, e tantos outros fatos históricos realizados pelos “notáveis”. O fato é que em 21 de abril de 1960, Brasília surgia. Uma cidade que nascia com formas totalmente inovadoras. Diferente de tudo que já se tinha visto. A data de seu nascimento não foi coincidência. Tentava reforçar o simbolismo republicano fazendo uma homenagem à Tiradentes que teve sua morte no mesmo dia em 1792. Estas histórias são sempre contadas, insistentemente, mas poucos se lembram das história dos trabalhadores daqui…

Só na construção da capital cerca de 80 mil pessoas foram para o cerrado brasileiro trabalhar na exaustiva construção de Brasília. Em sua maioria nordestinos e nortistas, vinham atraídos pela ideia de uma nova vida. Foram apelidados de “candangos”, e apesar de homenageados com uma das estátuas mais emblemáticas da cidade, suas condições de vida permaneceram precárias durante e depois da construção. E, todos os outros pobres vindos nos últimos 60 anos também descobriram que esta é uma terra que mostrava a mesma cara feia do capitalismo, e que lhes oferecia a mesma miséria que já conheciam tão bem. Mas, talvez, com um véu ideológico muito mais atroz: a forte lógica meritocrática dos concursos públicos que, em Brasília, pesa algumas toneladas a mais.

Se quisermos fazer justiça aos trabalhadores que construíram esta cidade, devemos contar a história do ponto de vista deles. Contar, por exemplo, que para segurar os operários no canteiro de obras do aeroporto comercial, e impedir que saíssem para se divertir em cidades vizinhas (Luziânia, Anápolis e Planaltina), o responsável pela higiene deixava de ferver os talheres usados no acampamento nas sextas-feiras. Sem a limpeza necessária, os restos de laticínios se convertiam em ácido butanoico, devido à ação bacteriana, e provocavam fortes dores de barriga podendo causar uma irritação gastrointestinal severa com náuseas, vômitos e possíveis queimaduras.…

Ou contar, por exemplo, o depoimento de W.P.S. durante a construção de brasília "Aqui tinha que ser igual porco: comer, trabalhar e dormir […] o ânimo era o melhor possível, o pessoal animado, todo mundo atrás do seu eldorado, não é?"...

Ou ainda contar, sobre os relatos não oficiais, que sobram, de que corpos de trabalhadores foram concretados durante as obras no Congresso Nacional, Esplanada e Torre de TV.

Contar que era proibido ao “candango” construir suas próprias casas em alvenaria, para que, depois de construída a cidade, partissem e nunca mais retornassem.

Ou contar da vez que a Guarda Especial de Brasília(GEB), foi chamada para reprimir o protestos na construtora Pacheco Fernades e depois de expulsos pelos trabalhadores voltaram à noite ao acampamento com metralhadoras, entrando nos alojamentos e disparando contra os trabalhadores que dormiam em beliches. Várias fontes declaram que houve nove mortos e 60 feridos, o que até hoje é negado pela Novacap.

Foi uma cidade feita em apenas três anos...É claro que isso custaria a vida de trabalhadores. De lá até aqui são 60 anos de contradição e luta de classes que dariam mais de um livro. No entanto, a mídia burguesa ainda insiste em nos contar, todos os anos, as mesmas histórias açucaradas que parecem ter saído das confeitarias das elites brasileiras.

Neste sentido, a memória dos oprimidos e explorados é a sua arma fundamental. Saber onde estamos e como a classe trabalhadora resistiu e tentou superar o passado de exploração é uma tarefa muito importante, uma vez que atualmente também vivemos a realidade do abuso e da mais-valia.

Em Brasília as diferenças sociais são gritantes, a classe trabalhadora das Satélites e do Entorno é esmagada pelo tenebroso binômio subemprego/desemprego, pelo transporte público precário e sempre lotado, pela violência na periferia que deixa marcas, pelo feminicídio que no DF é sempre alto, pelo seu singular apartheid sócio-espacial, pela desesperança crônica na vida que lota bares e igrejas. No entanto existem aqueles que ousam dizer que há esperança revolucionária e socialista para a classe trabalhadora brasiliense. Nesses 60 anos de brasília queremos dizer:

O futuro desta cidade não será decidido pelos engravatados, mas sim pelo povo trabalhador que com o suor de seu trabalho e luta ergueram e continuarão erguendo a bandeira da esperança no cerrado brasileiro!

Parabéns ao povo trabalhador de Brasília!

 
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