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FMI
FMI aproveita crise do coronavírus para estender sua influência e aumentar submissão de países subdesenvolvidos
Gabriel Girão

Órgão afirmou que expandiu sua capacidade de crédito para 1 trilhão de dólares disponíveis e que quase 80 países – a maioria de “baixa renda” – já teriam pedido empréstimo desde que estourou a crise do coronavírus.

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O FMI é um nome bem conhecido para nós latino americanos. Esse órgão imperialista, criado em 1944 no Acordo de Breton Woods, teve um papel vital na consolidação dos EUA como potência imperialista hegemônica após a segunda guerra mundial.

Na América Latina, ficou particularmente evidente o papel de ingerência a partir do Consenso de Washington, onde o receituário neoliberal, responsável por destruir os serviços públicos como os sistemas de saúd, foi criado. Ainda que diante de suas consequências catastróficas o Consenso tenha sido “reformulado”, o receituário neoliberal continua a ser aplicado. Caso mais evidente no Brasil é a Lei do Teto de Gastos, que só em 2019 tirou 9 bilhões do SUS.

Talvez no Brasil o nome do FMI não nos impacte tanto pelo fato que o último empréstimo contraído tenha sido em 2002. No entanto, olhando para o nosso vizinho Equador, que está numa situação crítica com cadáveres pela rua, veremos que os protestos ano passado foram justamente em rechaço a uma medida do FMI que aumentava os preços de combustíveis. Desde 2018 a Argentina vem aplicando a uma série de ajustes frutos da imposições do FMI ao empréstimo que Macri contraiu e que, longe de solucionar qualquer problema da Argentina, apenas serviu pros investidores continuarem fazendo a “bicicleta financeira”. A lista de mazelas que os empréstimos do FMI trazem aos países subdesenvolvidos é ampla e extensa, sendo motivo de ódio dos povos oprimidos pelo imperialismo mundo a fora.

Entretanto, no meio da crise do coronavírus, o órgão resolveu se postular como “grande salvador” dos países subdesenvolvidos. Anunciou que está mudando seu mecanismo de empréstimo para garantir 1 trilhão de dólares disponível em empréstimos aos países mais pobres. Isso teria levado com que 80 países, em maioria de baixa renda, pedisse empréstimos emergências ao fundo. Também postergou o pagamento da dívida dos países na AIF (Associação Internacional de Fomento), que reúne 76 países dos mais pobres. Porém, fez questão de frisar que a medida apenas suspendia o pagamento e não cancelava a dívida.
Além disso, diferentemente de seu receituário normal de corte de gastos, o FMI tem receitado um grande investimento estatal, e inclusive sigerindo investimento em saúde e em medidas assistencialistas aos mais pobres. Porém, longe de se tratar de um “giro humanitário” do FMI, os interesses dessa instituição são diametralmente oposto dos interesses da classe trabalhadora e das maiorias populares.

Quais são as reais intenções do FMI?

O FMI sabe muito bem o que acontece quando os países resolvem seguir as riscas seus planos. Inúmeras revoltas e levantamentos ocorreram em vários países como resposta a implementação do receituário do FMI. Num momento de uma grave crise sanitária que percorre o mundo e que se prevê uma crise econômica pior que a de 2008 e (inclusive alguns apontam que a crise poderia ser pior até que a de 1929), muitos analistas e governos burgueses tem começado a expressar uma preocupação com a “revolta social” que poderia acompanhar essas crises. Exemplos moleculares disso já são sentidos em países como a Índia. Inclusive, durante mais de uma vez na história os países que recorreram ao FMI tiveram que renegociar e alongar o prazo de seus empréstimos pois as dívidas são praticamente impagáveis. Longe de qualquer humanitarismo, essa ação do FMI é apenas uma forma de tentar salvar a pele do capitalismo. No entanto, como o próprio fundo afirma, as dívidas vão ser apenas adiadas, não canceladas, de modo que a partir de ano que vem os países endividados terão esse fator a mais pra lidar na esteira da crise econômica que fatalmente se perdurará até lá.

Tampouco é uma exclusividade do FMI a alteração no receituário econômico, publicada em um blog dedicado a debater as respostas necessárias a crise do coronavírus, que vale tanto para os países que tiveram a cobrança do empréstimo postergada como os que vão pegar empréstimos agora. Todos os analistas e governantes neoliberais, que até ontem defendiam e aplicavam ataques e ajustes aos trabalhadores mundo a fora, agora mudam seu discurso e falam sobre a necessidade de investimento estatal. Ainda que recomendem investimentos em saúde (para que a economia possa voltar o mais rápido possível) e gastos sociais (para tentar diminuir as revoltas sociais e evitar uma retração muito grande da demanda), colocam claramente que a prioridade é salvar o sistema bancário. Usam como exemplo os pacotes de resgaste que foram realizados em 2008, cuja boa parte dos recursos terminaram parando nas mãos dos banqueiros ou servindo para que as empresas renegociassem sua dívida. A tendência é a mesma com os pacotes ainda maiores que estão sendo aprovados pelos países na crise atual.

Também não podemos deixar de lado a questão geopolítica. Se no momento anterior à pandemia víamos uma maior competição entre as potências, que se traduzia na guerra comercial entre China e Estados Unidos, vimos essa competição aumentar durante a crise. Enquanto Trump e seu capacho na presidência do país tupiniquim falavam de “vírus chinês”, a burocracia do PCCh tenta se relocalizar após o desgaste inicial da pandemia, tenta agora surfar no aparente sucesso em combater a epidemia internamente e tentando se colocar como grande protagonista mundial no combate a pandemia, processo que no entanto está repleto de contradições como mostramos aqui. Essa competição também se expressa na corrida pela vacina. E a tendência, com o agravamento da situação econômica, é aumentar cada vez mais essas tensões. Portanto, cumpre um papel estratégico aos Estados Unidos manter o maior número de países sob a tutela do FMI, órgão no qual tem poder preponderante.

Como ficará a situação dos países endividados após a pandemia

Se atualmente os países subdesenvolvidos se encontram em situações muito piores para enfrentar a pandemia, grande parte disso se deve a devastação e espoliação imperialista da qual o FMI participou ativamente. Seus empréstimos, longe de resolver os problemas dos países, servem para criar render rios de dinheiros aos credores e submeterem os países aos seus desmandos, enquanto aos países devedores sobram dívidas impagáveis e mazelas sociais. Não será diferente dessa vez.

Até agora, segundo o FMI, 80 países já solicitaram empréstimos de emergência, que será avaliados – a maioria países de baixa renda segundo o próprio órgão. Uma vez passada a pandemia, a crise econômica persistirá. E a dívida também. Portanto, teremos países com uma economia mais debilitada e imersos em dívidas intermináveis. E com a crise econômica assolando o mundo, teremos credores cada vez mais vorazes para assegurar seus lucros. Portanto longe de resolver qualquer problema estrutural, o FMI apenas agravará a situação econômica e social dos países mais pobres no marco do que talvez seja a maior crise econômica mundial desde 1929.

Frente à sanha imperialista, os trabalhadores precisam levantar o internacionalismo de classe

Com a pandemia do coronavírus, vimosas uma aceleração das tendências recessivas e de maior enfrentamento das potências, que já eram sentidas antes da crise. Enquanto Trump insiste em falar de “vírus chinês”, vemos como todo o discurso da União Europeia cai pelo chão com cada burguesia nacional buscando salvar-se primeiro e com a Itália e Espanha sendo relegada à sua própria sorte. Os analistas burgueses cada vez mais se desesperam com a dificuldade de que as grandes potências deem uma resposta coordenada à crise. Nos últimos dias também vimos a agressiva política dos EUA de interceptar as comprar de insumos médicos chineses destinados a outros países. Também

Ao mesmo tempo os países imperialistas se aproveitam para aumentar sua espoliação. Vimos como os EUA bombardearam o Iraque em plena pandemia. Não apenas isso como mantém suas criminosas sanções econômica mundo a fora, como no caso do embargo sobre Cuba e dassanções sobre o Irã e Venezuela. Esse último, vem sofrendo nos últimos dias reiteradas provocações do governo americano. Também vemos como os países europeus não abrem mão de sua espoliação sobre a África. Nesse marco se inscreve também essa nova rodadas de empréstimos do FMI.

Com o avanço da crise econômica veremos como as burguesias de cada potência buscarão primeiro descarregar a conta em seus respectivos proletários e depois na exploração mais intensa dos países mais pobres. As disputas internacionais e ao aumento da exploração imperialista pela burguesia, é necessário que a classe trabalhadora responda com a solidariedade internacional de classe. Enquanto cada vez mais cresce a dificuldade de coordenação das classes dominantes das grandes potências – fato lamentado por analistas e por órgãos internacionais, os trabalhadores precisam responder coordenando um movimento internacional rechaçando o FMI, repudiando o pagamento das dívidas e exigindo seu imediato cancelamento.

Enquanto em alguns países os próprios governos e empresas implementam a reconversão da produção em insumos médicos para combater o coronavírus, fazem isso de forma limitada e buscando manter seu lucro e seus interesses nacionais. Frente a isso também cabe aos trabalhadores tomar a frente desse processo exigindo a reconversão sob controle operário, controlando não apenas as condições em que os insumos serão produzidos mas também o destino da produção priorizando os países mais pobres e onde a pandemia está no estado mais crítico.

Não será da mão do imperialismo que poderá sair nenhuma solução para a crise sanitária e econômica instalada, da qual eles mesmos são responsáveis. O imperativo colocado por Rosa Luxemburgo de socialismo ou barbárie é cada vez mais palpável, ao mesmo tempo que a famosa frase de Marx “Trabalhadores do mundo, uni-vos” é uma necessidade cada vez maior.

Ver também: Coronavírus: o internacionalismo de classe como antídoto frente à crise

 
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