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BOLSONARO QUER NOS MANDAR PARA A MORTE
Os lucros são “essenciais”, mas nossas vidas não: Bolsonaro quer nos matar aos milhares
Fernando Pardal

Em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro reafirmou sua intenção de seguir seus planos de, enquanto corta salários, manter trabalhadores expostos e levando à possibilidade de centenas de milhares de mortes.

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“Nós temos dois problemas: o vírus e o desemprego. Não pode ser tratado de forma dissociada isso daí”. Esse pensamento, expresso por Bolsonaro em sua entrevista na Joven Pan ontem, vem sendo repetido à exaustão em seus pronunciamentos. São as palavras canalhas de um hipócrita para quem as nossas vidas não valem nada. Se nossos empregos fossem importantes para ele, porque faria uma Medida Provisória que permite acabar com nossos salários e suspender os contratos?. É essa “preocupação” de Bolsonaro, liberando demissões, que leva a casos como as 1.800 demissões da Democrata Calçados, ou as massivas demissões nas empresas de Luciano Huck.

Enquanto fala essas besteiras, a liberação de R$ 1,2 trilhão de reais pelo Banco Central para os bancos mostra com quem o presidente está realmente preocupado. Enquanto milhares de pessoas morrem, e cada dia traz um novo e trágico recorde de gente sendo exterminada pela COVID-19, muitas vezes sem sequer um diagnóstico, com centenas sendo enterrados às pressas, Bolsonaro expressa na televisão o mais asqueroso discurso, dizendo que “vai morrer gente? Vai morrer gente.”, ou que “todos iremos morrer um dia”.

O desprezo pelas nossas vidas, que Bolsonaro deixa claro ao dizer que é uma “gripezinha” essa doença que hoje já mata centenas, mas que se depender dele vai logo matar dezenas ou até centenas de milhares no Brasil, é revoltante. E não menos revoltante é o fato de que ele tenta jogar com o desespero que estamos sentido não apenas pelo medo de nos contaminarmos, mas de perdermos o trabalho e ficarmos sem o nosso sustento e de nossas famílias. É com esse medo que esse mentiroso tenta jogar ao contrapor nosso sustento à possibilidade de nos prevenirmos contra uma doença mortal.

É um jogo sujo, pois ele joga com um desespero que ele mesmo cria. Junto aos patrões que estão demitindo com base na Medida Provisória que o próprio Bolsonaro criou, há muitas outras medidas que hoje ameaçam nosso sustento e que tem as marcas das mãos do atual presidente. Desde a lei do teto de gastos que corroeu o já insuficiente orçamento para a saúde, e que hoje leva à insuficiência dos hospitais e a que trabalhadores da saúde estejam se expondo cotidianamente ao contágio sem equipamentos de saúde; passando pela lei da terceirização que deu a liberdade aos patrões de acabar com nossos direitos trabalhistas e hoje demitir e suspender contratos com muito mais facilidade; até a reforma da previdência que destrói as aposentadorias do maior grupo de risco, mais suscetível aos efeitos do Coronavírus.

É de encher de ódio ver Bolsonaro ir à Joven Pan dizer que foi à Ceilândia – cidade satélite de Brasília, uma periferia que cresceu a partir dos operários que construíram a capital – e falar que “é triste, é desesperador” ver a situação dos trabalhadores informais, que chegam a 38 milhões. Que eles “levaram uma paulada” com as medidas dos governadores. A hipocrisia de Bolsonaro é de fingir que não foi ele que ajudou a informalidade crescer de forma sem precedentes no Brasil, destruindo direitos trabalhistas, impondo sua carteira de trabalho “verde e amarela”, precarizando o trabalho desses milhões enquanto garantia a fatia de leão do orçamento para bancos e empresários. Só com a dívida pública o Brasil gasta bilhões anuamente, o suficiente para termos hoje um milhão e trezentos mil leitos de UTI a mais. Ou milhões de empregos formais, com direitos e salários dignos. Bolsonaro finge se comover com a miséria que ele ajuda a criar há décadas, primeiro como deputado, depois como presidente.

Quando Bolsonaro se refere às estatísticas de mortos pela COVID-19 – um número que hoje ainda é insignificante perto do cenário que veremos em algumas semanas, de acordo com todos os especialistas no tema – ele deixa claro o desprezo absoluto pelas vidas de todos, em particular pelas vidas dos idosos e dos que possuem alguma condição de saúde que os torna mais vulneráveis. Citando as estatísticas, Bolsonaro diz: “de zero a 30 anos, zero de óbito no Brasil”. Bolsonaro mente. Vimos, por exemplo, um jovem de 26 anos em São Paulo morto pelo Coronavírus; ou um jovem de 23 anos morto em Natal; ainda um motorista de Uber, de 25 anos (parte dos “informais” com quem Bolsonaro diz tanto se preocupar), que também morreu pela COVID-19. Enfim, os casos começam a ser noticiados aqui e ali, e em breve serão muitos e muitos. Para Bolsonaro, essas mortes são “zero”.

Ele segue o discurso dizendo que “de 30 a 39, 3,3% de óbito”, e complementa: “e mesmo assim, se você for pesquisar, esse 3,3% é gente que tinha algum problema de saúde”. Ou seja, para Bolsonaro, essas pessoas são descartáveis. Se você tem algum problema de saúde que o torne vulnerável, o problema é seu. Inclusive, sabemos que a maioria dos que desenvolvem tais problemas são justamente os trabalhadores, que tem condições de vida mais precárias graças à rotina da exploração capitalista, às péssimas condições de alimentação, moradia etc. Vimos em São Paulo a morte de um homem 33 anos pela COVID-19. De dentro do Palácio do Planalto, tendo sido testado duas vezes para saber se estava contaminado (enquanto entre os trabalhadores já vemos centenas morrerem sem o direito a um teste), Bolsonaro se sente muito tranquilo em desprezar a possibilidade de contágio das pessoas. Para ele, são números. Para nós, são nossas vidas, as de nossos familiares, amigos, colegas.

A demagogia de Bolsonaro usa argumentos verdadeiros, como o de que o desemprego leva à subnutrição, que debilita o organismo e o torna mais suscetível à doença. Mas, para ele, isso é o que justifica que tenhamos que seguir sendo explorados e submetidos à possibilidade de contaminar os idosos que moram conosco, pois, como ele mesmo afirma, na maioria das vezes quem reside com os idosos são seus filhos e netos. Ou seja, ele quer nos chantagear, ao lado dos patrões, como sempre fazem os capitalistas: ou você se submete às condições absurdas da exploração, ou te privamos do direito de viver. Nem por um momento, é claro, esse defensor dos ricos pensaria em propõe, por exemplo, que os trabalhadores possam ficar em casa, que tenham acesso a testes massivos, que os contaminados tenham locais seguros e salubres de recuperação, como hotéis de luxo, e que tudo isso seja pago pelos bilionários que enriqueceram ao custo de nosso suor. Como apontaram entidades, seria possível arrecadar imediatamente R$ 100 bilhões com impostos às grandes fortunas.

Para Bolsonaro, é melhor nos deixar morrer como moscas, dizendo que “só os fracos, velhos e doentes” morrem de uma “gripezinha”, do que pensar em tocar nessas fortunas para salvar milhares de vidas. Ele diz que 90% das pessoas tinham acima de 60 anos e “uma ou mais doenças graves”. Para além da mentira descarada, supondo que isso fosse verdade, o que Bolsonaro diz com todas as letras é: essas vidas não me importam; o que me importa são os lucros. Para defendê-lo, matarei quantos idosos for necessário.

É claro, pois para ele, por trás do seu rídiculo discurso de que é um “ex-atleta”, “imune” à doença, há seus inúmeros privilégios que o previnem. Ele não precisa dirigir um carro ou pedalar uma bicicleta dez, doze horas por dia; nem se espremer em gigantescas salas com 500 baias de atendimento de telemarketing; nem amargar duas, quatro horas por dia em transportes lotados, sem nenhuma proteção. Se ele ficar doente, terá todos os melhores médicos e hospitais a seus dispor. Se precisar, nunca lhe faltará um respirador ou um leito na UTI. Terá os melhores cuidados para se recuperar, e está preservado dentro de seu palácio presidencial. É de lá que ele dá suas ordens para nos matar: sigam trabalhando, ou, sejam demitidos em massa, tenham seus salários suspensos.

Bolsonaro reafirma sua chantagem: “entre morrer de vírus, que é uma pequena minoria que vai morrer, e uma parcela maior que poderá morrer de fome, de depressão, de suicídio, de problemas psiquiátricos, entre outros, é uma diferença muito grande, e eu como chefe de Estado tenho que decidir”. É abominável: olhemos para os EUA, Itália, Equador e vejamos o futuro que Bolsonaro quer para nós. Mortes aos milhares, tudo em nome de manter a “normalidade” que ele quer. Ou a espada sobre nossas cabeças: desemprego, miséria. É com essa ameaça que Bolsonaro quer dizer: voltem ao trabalho ou morram. Não aceitemos! Temos que nos organizar para dizer que todas as demissões, suspensões de contrato, reduções de salário têm que ser proibidas. Que todos os autônomos e quem tiver seu sustento comprometido deve ter a garantia de um salário-quarentena de R$ 2.000. Que tenhamos testes massivos para podermos saber quem está contaminado, com o confisco de hotéis, resorts e SPAs para centros de recuperação dos contaminados, e a construção massiva de leitos de UTI para os casos graves. Que tudo isso seja pago com os lucros dos capitalistas, os abomináveis “amigos de Bolsonaro” que estão por trás de seu discurso de morte.

 
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