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SAÚDE
Profissionais da saúde: um grupo de risco negligenciado
Gabriel Girão

Na linha de frente do enfrentamento à pandemia e responsáveis por salvar milhares de vida, os trabalhadores da saúde também são um dos grupos mais vulneráveis ao Covid-19.

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Anunciado por Bolsonaro como uma “gripezinha”, a pandemia de coronavírus tem feitos estragos pelo mundo. Enfrentando sistemas de saúde públicos precarizados por anos de políticas neoliberais e uma população extenuada pelas mazelas que o capitalismo impõe, a doença já infectou mais de um 1 milhão e matou mais de 50 mil em 3 meses – só nos números oficiais, e todos sabemos que há uma evidente subnotificação.

Se a desgraça não é maior, isso é graças aos trabalhadores de saúde que estão diariamente dando seu sangue e suor para conter os estragos da pandemia. No entanto pouco se fala como esses profissionais são um dos principais grupos de risco. Devido ao fato que estão em constante contato com pacientes de Covid-19, esses trabalhadores se contaminam com o vírus diversas vezes. Isso faz com que, diferente da maioria dos pacientes, os profissionais que são contaminados tenham uma grande carga viral rapidamente, o que pode acelerar o agravamento da doença. Junta se a isso o fato que os trabalhadores estão expostos a rotinas estressantes e exaustivas, deixando seu sistema imune muito mais debilitado e exposto a patologias.

Além dos problemas “físicos” os psicológicos não deixam nada a desejar. Na Itália, onde a situação da pandemia é mais crítica, há relatos de enfermeiras que se suicidaram a descobrir que tinham contraído coronavírus. Qualquer um que esteja minimante a par da situação interna dos hospitais nos países atingidos pela pandemia sabe como está o clima.

Essa situação se expressa nos números. Segunda-feira, no Estado Espanhol, 14% dos infectados confirmados eram profissionais de saúde. Nesse mesmo dia a Itália contava 6,4mil profissionais infectados (cerca de 7,5% dos casos) e só de médicos, os óbitos estavam em 51. Caso mais emblemático é do médico chinês que descobriu o coronavírus, Li Wenliang, que foi vitimado pela doença. No Brasil, centenas de trabalhadores da saúde já foram afastados por suspeita da doença, e dentro dos hospitais muitos profissionais já se preparam ver seus colegas e até eles mesmos adoecerem. Há inclusive hospitais fazendo escala de trabalho com essa previsão.

A situação é agravada pela falta de recursos. Os equipamentos de proteção são escassos e aos profissionais de saúde não são fornecidos testes frequentes, o que os deixa em uma situação perigosa e os torna potenciais vetores do vírus para a população. Além disso, estão sobrecarregados devido à falta de profissionais nos hospitais, o que os obriga a exercer extensas e estressante jornadas. E vemos essa situação desde países subdesenvolvidos até na Europa e nos EUA, onde em Nova York as enfermeiras tiveram que realizar um protesto para denunciar as condições que estavam submetidas.

Evidentemente, a situação dos trabalhadores mais precarizados é pior. No Brasil, onde impera a terceirização, esse é o setor mais exposto. Devido à escassez dos EPI’s, os terceirizados são os “últimos da fila” para receber os equipamentos. Além de que frequentemente a esses trabalhadores não são reconhecidos os mesmos direitos que aos outros trabalhadores da saúde, como por exemplo adicional insalubridade e os direitos a licença remunerada em caso de doença são limitados. Muito inclusive não tem nem acesso ao mínimo de instrução sobre como lidar com o Covid-19. Fora casos mais gritantes como no Rio de Janeiro, onde a terceirização atingiu níveis inauditos com o sistema de OS, onde os trabalhadores não estão nem sequer recebendo.

Ver também: Frente à pandemia, iguais direitos e condições a todos trabalhadores da saúde!

A burguesia e seus políticos já mostraram que mesmo na pandemia sua prioridade é o lucro

A crise do coronavírus, ainda que recente, já mostrou evidenciou várias coisas. Primeiro que a destruição dos sistemas e saúde pelo neoliberalismo deixou esses sistemas totalmente despreparados para lidar com uma pandemia (e não se pode dizer que era uma surpresa, pois muitos cientistas já vinham alertando sobre essa possibilidade). Segundo, evidenciou que a classe trabalhadora é a classe que realmente produz. Não a toa muitas empresas querem manter seus trabalhadores ativos mesmo com recomendações de isolamento social, temendo que isso afete seus lucros. Além disso, o combate à pandemia só é possível graças aos trabalhadores da saúde e de outros serviços essenciais. Porém, também mostrou como mesmo numa pandemia, a prioridade da burguesia ainda é manter seus lucros.

Por um lado, vemos os setores mais negacionistas como Bolsonaro e os empresários no seu entorno, que negam a gravidade da doença como forma de pressionar a que se suspenda as medidas de restrições e possam voltar a explorar os trabalhadores e obter seus lucros a custa da saúde deles. Apesar de fazerem demagogia com a situação dos setores mais precarizados, alguns mostram seu real interesse, como o dono da Madero que disse que seu lucro é mais importante que ou 7 mil mortes

Por outro lado, vemos os governadores aliados ao congresso que defendem as medidas de restrição. Apesar de reivindicarem que se apoiam “na ciência” e “na recomendação das autoridades da saúde” estes governadores não fornecem nem mesmo o mínimo que a OMS recomenda, que são os testes em massa. Além disso, tanto os governadores quanto prefeitos mantêm condições de trabalho precária nos respectivos hospitais que administram. Também foram estes prefeitos e governadores os responsáveis por implementar políticas neoliberais em seus estados e municípios, que deixaram saúde pública em estado de calamidade na pandemia. O que falar então de Rodrigo Maia e de outros agentes do golpe institucional que aprovou o teto de gastos e outras medidas de ajuste fiscal que removeram bilhões da saúde.

Apesar de suas divergências, há pontos que os unificam. Enquanto cedem bilhões aos empresários e banqueiros, permitem que os patrões reduzam os salários dos trabalhadores com a chamada MP da morte, que foi proposta pela equipe econômica de Bolsonaro e foi aplaudida por Dória e agora recebeu sua nova versão.

Frente à sanha capitalista, é necessário uma resposta dos trabalhadores

Fica evidente como a única resposta que a burguesia tem a dar é aumentar ainda mais o padecimento das massas trabalhadoras e populares. Inclusive, uma crise que seria totalmente evitável caso a sanha de lucro não fosse a predominante em todos os campos. Não é de hoje que epidemiologistas avisam sobre a possibilidade de uma pandemia como a atual. A SARS, a MERS e a grupe suína foram avisos contundentes sobre isso, que entraram num ouvido e saíram pelo outro.

E a culpa não foi dos cientistas. A SARS e a MERS são inclusive parentes do coronavírus e estavam sendo estudados remédio e vacinas para essas doenças e que, caso tivessem avançando, poderiam colocar a humanidade mais preparada para combater essa pandemia. No entanto, muitas dessas pesquisas, como não provinham lucro instantâneo, foram descontinuadas ou tiveram seu financiamento cortado.

O que falar então do fato de que desde janeiro já se mostrava a gravidade que a coronavírus poderia tomar e os governos de todo o mundo simplesmente ignoraram para não “estressar” os mercados financeiros, dando um giro repentino pra situação de pânico hoje.

Fica claro como a burguesia não é capaz de dar uma resposta à crise que seja favorável às grandes massas trabalhadoras. Não podemos de forma alguma naturalizar essa situação, principalmente a calamidade dos sistemas de saúde e a situação que os trabalhadores estão expostos. Frente as distintas respostas da burguesia, que visam cada uma a sua maneira descarregar a crise nas coisas dos trabalhadores, é necessário que os trabalhadores da saúde respondam urgentemente com um programa de emergência.

Pela imediata disponibilização de EPI’s e instruções sobre prevenção ao coronavírus a todos os trabalhadores da saúde! Que se instalem comissões de higiene e saúde para que os trabalhadores controlem as medidas!

Por testes massivos regulares aos trabalhadores da saúde! Licença remunerada e garantia de benefícios a todos os trabalhadores do grupo de risco ou que sejam testados positivos com Covid-19 ou que apresentarem sintomas!

Pela contratação imediata de todos os terceirizados sem necessidade de concurso! Pelo fim da terceirização!

Contratação de trabalhadores e estudantes da saúde nos últimos anos desempregados já! É um absurdo que em um país com 11 milhões de desempregados (número que tende a aumentar nessa crise) os trabalhadores da saúde tenham que ser submetidos à jornadas extenuantes! Os trabalhadores necessitam estar em condições físicas em mentais para fornecer o atendimento adequado! Pela redução da carga horária dos trabalhadores sem a redução do salário!

Basta de lucrarem com a nossa desgraça. Pelo não pagamento da dívida pública e pela taxação de grandes fortunas, que esses recursos sejam usados no combate à pandemia!

Fora Bolsonaro, militares e os golpistas! Por um gabinete de emergência composto por trabalhadores da saúde, especialistas sanitários, sindicatos e demais organizações operárias e populares para dar conta das respostas emergenciais à crise atual!

 
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