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Morrer de vírus ou de fome? Basta dessa discussão: não aceitemos contar os corpos
Bianca Rozalia Junius
Equipe do podcast Peão 4.0 e militante do MRT

De um lado, o boçal de nosso presidente afirmando que não passa de uma gripezinha e que “a crise econômica matará mais”. De outro, governadores que, ao não garantirem testes massivos e condições de saúde e econômicas mínimas para a população, nos orientam a morrer em nossas casas. Está com os sintomas? Fica em casa. Mas e se está confirmado? Fica em casa também. Apenas busque ajuda fora daí quando a sua garganta ou a de sua avó fecharem. É possível uma terceira via?

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Foto de Folha de São Paulo

Está com os sintomas? Fica em casa. Mas e se está confirmado? Fica em casa também. Apenas busque ajuda fora daí quando a sua garganta ou a de sua avó fecharem. Esse é o protocolo que os estados nos orientam a seguir, como a ilustrada abaixo. Xingamos o boçal do nosso presidente quando ele desrespeita as famílias dos mortos dizendo que é “apenas uma gripezinha” e quando dá voz a empresários que, de dentro dos seus carros e “vidros blindados”, querem que tudo volte ao normal. Dizemos que não, não voltará ao normal, que não seremos bucha de canhão nessa guerra. Mas ainda assim estamos sendo. Ainda assim serão milhares os mortos. Porque temos que ter claro que, mesmo que acatada, a pura e simples política do #fiqueemcasa e não saia enquanto não estiver beirando a asfixia, aceita por Doria e por um setor das mídias (que se diz contrário à negligência de Bolsonaro), é não só insuficiente, como também criminosa e seletiva da forma como está sendo conduzida.

Estamos falando de uma população mundial em que, segundo a Unicef, 40% não tem em casa acesso a água e sabão. Estamos falando de uma realidade em que milhares não têm casa e, pois é, quem não tem casa não tem como “ficar em casa”. Em que quem trabalha em serviço essencial, como os hospitais, não pode ficar em casa e a população nunca precisou tanto destes profissionais, tão negligenciados e precarizados. Em que nenhum informal/desempregado consegue viver com os 600 reais que foram aprovados, enquanto só a cesta básica está custando 517 reais em São Paulo (segundo o Dieese). Em que quem divide um cômodo com mais 5 pessoas pode até ficar em casa, e assim serão 5 mortos caso entre eles haja um infectado. É disso que estamos falando.
Enquanto as medidas dos governadores, como Doria e até mesmo os governadores petistas do nordeste, forem “tratar só dos urgentes”, construir centenas de leitos públicos em estádios enquanto milhares de leitos seguem nas mãos da iniciativa privada, fazer algumas concessões aos informais e muitas concessões para salvar bancos e empresários (sem sequer proibir as demissões!! Aplaudindo uma MP que rebaixa salários!!), seguiremos contando os corpos. Apenas 6% do pacote de trilhões que injetaram na economia irá para os trabalhadores. Doria falou que teriam 2 mil testes por dia em São Paulo. Isso, que já era insuficiente, sequer aconteceu. A Fiocruz já falou que não conseguirá garantir a tempo a quantidade de testes que foi propagandeado que teriam. Por isso não nos ludibriemos: isso é nada ainda frente ao que poderia e precisaria ser feito.

A raiz do problema está onde sempre esteve: muito para poucos, pouco para muitos. Dizem que o Brasil não tem dinheiro para bancar testes massivos para a população, como foi feito em outros países que conseguiram controlar o vírus: testar cada um que teve mínimos sintomas, que teve contato com alguém com sintomas, que estava em um mesmo ambiente, uma mesma empresa, verificar quem precisa de tratamento, garantir moradia digna e condições básicas em hotéis e até navios, não mandar as pessoas para morrerem em casa e infectarem seus parentes. Testar constantemente os médicos, enfermeiros e funcionários dos serviços essenciais que estão sendo colocados em risco. Testar, testar, testar, a própria OMS disse isso, não foi nenhum “esquerdista”. A OMS, no entanto, propagandeia esses testes massivos quase como uma realidade impossível para países da periferia do capitalismo como o nosso, ao qual só restaria essa quarentena da idade média que estamos vendo para “achatar a curva”.

Os governos ouviram o que quiseram ouvir. E Bolsonaro, no caso, não ouviu ninguém, nem quer isolar, nem quer testar, afinal é só uma “gripezinha”, o importante é que a economia siga funcionando como está: trabalhadores trabalhando com cada vez menos direitos, empresários enriquecendo e solicitando mais ataques. Não se pode negar, ele conhece bem seus empresários-amigos: sabe que com o acirramento da crise econômica, não irão titubear em colocar no olho da rua milhares de famílias para garantir a “saúde financeira” de seus bolsos sem tocar em suas propriedades, sem colocar em jogo tudo o que ganharam com anos de suor dos trabalhadores que exploraram.

O que ninguém diz é que é possível existir uma outra via que não seja “morrer em casa” ou “morrer trabalhando”. Ninguém diz porque ela toca no essencial: no bolso dos milionários. A “realidade impossível” de testagem em massa, por exemplo, é sim MUITO possível se a prioridade for a vida das pessoas e não o lucro. Apenas com uma parte dos lucros da Vale (aquela que acabou com o Rio Doce) no ano passado, seria possível comprar testes para toda a população brasileira, nem se fale então sobre o quanto conseguiremos de recursos se o governo para de pagar a fraudulenta dívida pública que compromete quase metade do orçamento estatal. Apenas com a taxação das grandes fortunas teríamos R$ 272 bilhões de reais, 24 vezes mais do que o governo destinou para o SUS nessa crise. Seria mais que possível testes massivos também se os grandes laboratórios e indústrias farmacêuticas privadas, que hoje vêm tudo como uma oportunidade de mercado, fossem tomadas para a esfera pública e controladas pelos pesquisadores e trabalhadores para que toda sua produção fosse voltada a quem precisa a preço de custo. A mesma coisa com qualquer fábrica que pudesse estar produzindo insumos necessários para este momento.

Testes massivos, pagos com as fortunas que acumularam por anos com nossa exploração, tem que ser a campanha de todos os sindicatos, de todas as organizações de esquerda. É isso que temos que exigir destes, que não podem simplesmente esperar medidas dos governadores ou se apoiarem em Dias Tofolli, do judiciário golpista, pró-reforma da previdência, aliado das forças armadas, para “controlarem” Bolsonaro, como afirma em nota o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e também ninguém menos que… a FIESP. É preciso que organizem os trabalhadores em cada serviço essencial contra a precariedade, em cada empresa que pensa nesse momento nas suas cifras e não nas vidas, em cada um dos callcenters que estão realizando paralisações em todo Brasil, cada trabalhador que está perdendo seu salário, suas férias, feriados, sua vida nas fábricas… Existe muita “puteza” por aí, o que falta é organizar o ódio e dar uma saída dos trabalhadores para a crise, organizando comissões de segurança em cada fábrica, cada hospital, em cada comunidade, para que sejamos nós a decidir o rumo que o Brasil deve tomar. Enquanto a linha das centrais sindicais for aceitar a miséria de Doria ou do judiciário, que no limite nos reservam apenas a atitude individual de cada um que tem a possibilidade ficar em sua casa, seguiremos brigando sobre se queremos morrer de fome ou de vírus sem enxergar quem são nossos verdadeiros inimigos.

 
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