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MINAS GERAIS
O discurso de Patrus Ananias e a crise do PT
Flavia Valle
Professora, Minas Gerais
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O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, afirmou em entrevista para o jornal “O Tempo”, publicada em 16 de fevereiro, que “a essência do PT permanece” após 35 anos de sua fundação, que ataques como a restrição do seguro desemprego não desrespeitam as conquistas históricas da classe trabalhadora, e mostrou como sua concepção de democracia serve apenas para manter a classe trabalhadora e o povo reféns dos acordos do PT com conservadores de todo tipo. (Ler entrevista em: http://www.otempo.com.br/capa/polí...

Patrus, um dos fundadores do PT e que buscou reorganizar o partido em Minas Gerais, é a cara mineira da ala lulista dentro do partido, que nos bastidores tem Lula como a “mãe dos empresários e dos bancos” e para o grande público aparece como o “pai dos pobres”. (Ler mais no artigo de Iuri Tonelo: http://www.palavraoperaria.org/O-di...

Patrus esteve à frente da política petista de candidatura própria do PT para as eleições municipais de Belo Horizonte em 2012, que levou ao rompimento da aliança deste partido em relação ao PSDB e do PSB de Márcio Lacerda na prefeitura da cidade. Esse movimento gerava ilusões em simpatizantes do PT de que este partido poderia mudar, aproximando-se dos movimentos sociais, fazendo já naquele momento o chamado que Lula faz hoje frente à crise do partido: recuperar a militância de base e sua articulação com os movimentos sociais para poder continuar governando para os ricos.

Patrus Ananias, ao afirmar na entrevista que “a essência do PT permanece”, sequer cita toda a crise do escândalo de corrupção da Petrobrás, de ter se transformado num partido de gabinete e o descrédito de amplas camadas da juventude e da classe operária nesse partido. A afirmação do ministro sobre “a essência do PT que permanece” só pode ser a da conciliação de classes. Nesse sentido, sim, a essência do PT é a mesma, mas hoje tem que responder a um problema estratégico que é o de que para governar tem que passar a atacar e retirar mais direitos sem ter muitas concessões em contrapartida. Ou seja, o papel de “contenção do movimento de massas” cumprido pelo chamado “lulismo” nos últimos anos passou a estar questionado desde as jornadas de junho de 2013.

Quando questionado sobre as dificuldades do PT com o presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, ou em relação aos setores da oposição de direita ao PT que alardeiam a necessidade de um impeachment de Dilma, Patrus afirma então que os “conflitos” não devem ser temidos e que “a democracia é conflitiva”: “Há formas políticas diferenciadas, os interesses, as diferentes visões de mundo (...) Havendo essa transparência no processo democrático, esse conflito respeitoso, que se coloque sempre no campo da democracia pacífica, do respeito das ideias diferentes. Se o Congresso caminhar nesse sentido acho que está tudo bem”. Para essa concepção de democracia Patrus também tem que esconder que os principais “conflitos” advém de das contradições de uma sociedade dividida em classes sociais. E o PT deixa claro com o atual plano de ajustes de Dilma que governa a favor dos interesses da burguesia e não dos trabalhadores.

Por isso Patrus também não diz em sua entrevista que nesse momento os objetivos estratégicos do governo passam por tentar impor ataques aos trabalhadores e ao povo. Como transparece na opinião do ministro sobre os pacotes de ajuste de Dilma, que atacam o seguro desemprego: “Não senti que configure nenhum desrespeito às conquistas históricas da classe trabalhadora”. E seguiu afirmando que ainda existem muitos privilégios trabalhistas no Brasil. Para fazer essa afirmação o ministro só pode esconder que o Brasil é o país da rotatividade e com essa medida pularia para 8 milhões os trabalhadores que não teriam esse direito (e não privilégio) garantido, a maioria jovens e mulheres.

Assim, na estratégia de “unificar todos”, dialogando com conservadores de toda laia e buscando apoio de direções burocráticas do movimento de massas, como as da CUT, CTB, UNE, MST, Força Sindical etc., Patrus não diz que os “atores políticos” para ele são os políticos corruptos, o PT e partidos burgueses, os empresários, os bancos, a burocracia sindical, a burocracia estudantil e as direções governistas dos movimentos sociais. Na harmonia política de Patrus e de Lula a classe operária não é protagonista, e sim coadjuvante. Assim, quando Patrus diz sobre a necessidade de “respeitar os conflitos”, seu objetivo visa esses “atores políticos” de uma peça em que há cada vez maior descrédito no PT e em que a tendência é aparecer cada vez mais ações independentes e radicalizadas da classe trabalhadora. Como em 2014 a greve dos garis do RJ, metrô de SP, trabalhadores da USP e esse ano a importante greve dos professores e servidores do Paraná que com greve unificada e ações radicalizadas conquistaram uma primeira vitória barrando a votação do pacote de ajustes do governo de Beto Richa do PSDB.

Patrus e Lula apostam num novo fôlego de contenção do movimento de massas visando dialogar também com as direções dos movimentos sindicais e sociais para conter as novas mobilizações, greves e lutas. Porém, ao estar questionado o papel de contenção dos conflitos sociais que cumpriu o chamado lulismo no último período, já está colocada a necessidade de tirar lições da luta de classes e apostar nas saídas independentes da classe operária e da juventude. As saídas de Patrus e Lula são saídas conjunturais para uma crise estratégica do projeto petista. E isso abre uma nova possibilidade da classe operária e da juventude poderem superar sua última direção histórica, desta vez buscando tirar lições da luta de classes e orientada na perspectiva da revolução social e do socialismo.

 
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