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FRENTE POVO SEM MEDO
Uma Frente pra deixar Dilma e o PT sem medo
MRT - Movimento Revolucionário de Trabalhadores

A Frente foi lançada no dia 8/10 com objetivo declarado de ser uma “Frente Nacional de Mobilização”. Mas seu limite imposto pelos petistas e lulistas ficou claro no manifesto: ao poupar Dilma e o PT que governam o país, são os principais agentes do ajuste e os que fortalecem a “ofensiva conservadora”, vão servir de ponto de apoio para a burocracia e seu governo. Na atividade parecia não haver lutas em curso, nem traições da burocracia sindical, nem necessidade de um plano de luta. Só um ato inofensivo domingueiro em 8/11. Seguimos nossa batalha por uma verdadeira alternativa, nem com o governo e nem com a oposição de direita, que só pode surgir ligado a uma resposta para a luta de classes e com uma alternativa política claramente enfrentada com o PT.

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O lançamento foi protocolar, com não mais do que 300 dirigentes do PT, PCdoB, PSOL, representados por seus dirigentes da CUT, CTB, UNE e outras entidades sindicais e estudantis, além de outras organizações políticas menores. É composta por movimentos populares, com o MTST à cabeça com Guilherme Boulos como grande articulador. Apesar das diversas assinaturas de personalidades no manifesto lançado na internet, poucos estiveram presentes e falaram apenas a cartunista Laerte, a professora Ermínia Maricato e Souto Maior da USP e Laymert Garcia dos Santos da Unicamp.

A data de lançamento, o manifesto e os discursos não escondem o caráter da Frente

A data de 8/10 foi um indicativo claro do caráter da frente: um dia depois do TCU rejeitar as contas no dia 7 e o TSE abriu uma investigação sobre as contas da campanha de Dilma e Temer no dia 6. Mostra que é o “povo sem medo.......de enfrentar o impeachment da Dilma”.

Neste tom foram os discursos e o manifesto que parecem estar em outro país que não o Brasil. Pouco se ouviu falar dos ataques concretos mais sentidos pelo povo, como o aumento da conta de luz, os cortes da educação, etc, mas somente contra os ajustes “em geral”. Se em cada canto do país o ódio dos trabalhadores e da juventude contra o PT aumenta cada vez mais, os que compõe essa Frente fingem não existir uma presidente no país que se chama Dilma, um ex-presidente Lula e um partido que se chama PT, responsáveis centrais da atual situação. Parece que só existe no país o Cunha e conservadores que estariam fazendo uma “ofensiva” da qual na verdade o PT e Dilma seriam vítima.

O PSOL, numa frente que supostamente “comporta as diferenças”, sequer apareceu com perfil claramente delimitado na crítica a Dilma e o PT. Índio, pela Intersindical e a Unidade Socialista do PSOL fez um discurso inteiramente contra Cunha, os ajustes e a ofensiva conservadora, igual a CUT. A representante da corrente Insurgência, Débora Cavalcante citou Dilma e PT como parte do ajuste mas exaltou que aquela diversidade era o que ia barrar os ajustes e “enfrentar os poderosos”. Luiz Araújo, presidente do PSOL, também não fugiu do tom. Luciana Genro, da corrente MES, fez um discurso que somente se diferenciou ao dizer cuidadosamente que “sabemos que há indignação com o governo” e que “a direita é alimentada pelo governo”. No entanto, seu discurso também terminou se somando ao tom de “a direita é pior”. E fez uma tentativa de colocar como se a Frente Povo Sem Medo fosse um “terceiro campo”, assim como o companheiro do Bloco de Resistência Socialista, mas ninguém ali acreditava. Nenhuma denúncia sequer do PSOL em relação a burocracia sindical.

Uma tentativa farsesca de apresentar uma “frente de movimentos” e não de partidos

A tentativa da Frente é ocultar que é composta por partidos políticos, o que é funcional a todas suas alas. Por isso, a frente foi lançada com toda uma “marca suprapartidária” com logo, adesivo, bandeiras e tudo mais.

Para o PT e PCdoB, é a melhor forma de controlar o desgaste de suas “entidades no movimento de massas” (CUT, CTB) pois nas bases o seu governo Dilma e o PT já não tem mais a mesma base de apoio, e assim, podem ao mesmo tempo seguir de mãos livres para, “como partido”, seguirem aprovando no parlamento todos os ataques do ajuste “para manter a governabilidade”.

Para o PSOL seria impossível tentar justificar que uma frente com o PT e PCdoB seria “uma frente para a ação a partir de pontos programáticos corretos”. Para isso, é necessário que apareça com “as direções do movimento de massas”: a CUT e a CTB.

Somente com essa “conciliação de interesses” era possível triunfar a linha do MTST de fazer manifestações de rua relativamente grandes e midiáticas com as grandes centrais que não mobilizam nada de trabalhadores mas bastante de aparato, somado ao espaço político superestrutural que o PSOL ocupa para pressionar o governo na liberação das verbas do Minha Casa Minha Vida. Desse objetivo de negociar concessões de Dilma e do PT deriva toda sua localização semi-governista, ao redor da qual unifica os governistas e o PSOL.

O ato de 8/11 convocado pela Frente é uma falsa “ação contra o ajuste”

Não está descartado que na mobilização convocada para o dia 8/11, tenha algumas dezenas de milhares e que seja uma demonstração de forças que dê sobrevida para essa frente. Pode ser que ganhe uma parcela da intelectualidade e dos artistas progressistas devido a campanha petista de que há uma “ofensiva conservadora” no país e que ela seria externa ao governo Dilma. Mais ainda sendo num domingo, o que dialoga com a classe média que está “brava” dizendo que os manifestantes de dia de semana são “vagabundos”. Mas quem vai estar “sem medo” neste dia vai ser o governo, a presidente Dilma, o PT, Lula, a patronal e a burocracia sindical, ou seja, os principais responsáveis pelo ajuste e pela tal “ofensiva conservadora” que a Frente diz combater.

Basta ver o curso da burocracia governista para ver que não vai enfrentar nenhum ajuste e que seu objetivo é defender o governo. Nas mobilizações de 15/4, a burocracia impediu paralisações maiores sendo que havia clima “por baixo”, principalmente contra o PL 4330. Seu objetivo era apenas mostrar certa força depois das mobilizações massivas da direita de 15/3, ainda que não conseguiram dar um tom governista nas manifestações porque o rechaço popular a este “ajuste” deu o tom nas manifestações.

Mas cada vez mais, e mais ainda nos atos de 20/8, se perdeu completamente o caráter de dias de “luta contra o ajuste” e viraram cada vez mais de defesa do governo. Tanto que a corrente MES do PSOL e outras não haviam participado porque chegaram a concordar que o 20/8 era governista, questão que agora “esqueceram”, pois em todos os pronunciamentos da Frente se reivindica as mobilizações de 20/8 como parte da construção dessa Frente Povo Sem Medo.

Foram se agudizando os ataques do ajuste e o desgaste do governo. A burocracia sindical passou a ser agente da implementação dos ajustes, negociadora de ataques “menos piores”, bloqueando, isolando ou dividindo as lutas. A CUT e outras centrais apoiam o PPE nas indústrias. Estão traindo diretamente as greves que se colocam contra os ajustes, como foi o caso da CUT na recente greve dos Correios (que combatia o “ajuste” do ataque ao convênio médico) ou na luta do funcionalismo do Rio Grande do Sul. A CTB controlou a greve dos correios e impediu sua radicalização ao não apostar na organização da base e uma verdadeira unificação nacional num comando de greve. Haveria muitos outros exemplos.

Portanto, este ato do dia 8/11, será o triunfo da política dos governistas e do MTST, que agora trouxe o conjunto do PSOL como partido para um ato que vai ser o mais inofensivo de todos pelo seu conteúdo e por ser num domingo, que sequer vai afetar em nada a produção e circulação de mercadorias. Essa Frente não apresentou nada mais que um ato de domingo daqui a um mês! Ou seja, nenhum plano de “luta contra os ajustes”.

Se o dia 8/11 fosse de fato uma ação concreta contra o ajuste e não de defesa do governo, como terminou sendo o 15/4 contra o PL 4330, nós do MRT estaríamos “golpeando juntos”, mas sempre “marchando separados”, guardando toda independência para mostrar o papel de Lula e Dilma em ampliar a terceirização e nos ataques em geral. Mas não tem nada a ver com isso.

Essa Frente não pode ter um papel efetivo para a luta de classes para “golpear juntos” sendo de caráter permanente e tendo à cabeça o PT e a burocracia sindical governista. Uma expressão disso é que seu funcionamento é “por consenso”. Essas direções nunca terão “consenso” em lutar contra um governo que garante seus privilégios. Só serão obrigadas a convocar mobilizações que efetivamente sejam “contra os ajustes” quando a pressão da esquerda e das bases for suficiente para que vejam que vão perder seus privilégios e afundar junto com o governo Dilma e o PT.

Essa Frente é um triunfo do PT na sua luta contra um “terceiro campo”

Muitas correntes da esquerda colocam a necessidade de um “terceiro campo” contra o governo e a direita. Luciana Genro até tentou manobrar no seu discurso e tentou apresentar como se essa Frente pudesse ser parte disso, mas é impossível, não é possível erguer uma alternativa contraposta aos interesses dos empresários sem atacar quem é o principal agente dos ataques que os empresários querem, o PT, via Dilma e Lula que defende os ajustes e nomeia ministros para “blindar” o governo para ajustar.

Ao contrário, a Frente Povo Sem Medo é um triunfo do PT e da burocracia sindical porque impede por hora o surgimento de um forte pólo que somasse força dos setores que estão na oposição pela esquerda ao governo para se colocar como um “terceiro campo”, nem com o governo nem com a direita, e ser um ponto de apoio para a luta de classes. O PSOL optou por evitar essa perspectiva e ser a “ala esquerda” dessa Frente de sustentação do governo.

Um marco do PSOL em sua adaptação ao PT e ao governismo

O PSOL vinha mostrando divisões em relação a como se posicionar frente a essa política do PT e dos governistas de tentar disciplinar a esquerda, como se expressou na negativa de setores em participar do 20/8. Mas essa Frente é um marco de adaptação ao petismo. Para isso, o PSOL entra no discurso petista de que há uma “indignação seletiva” com a corrupção do PT, funcional para "proteger" os petistas de medidas políticas como o impeachment de Dilma.

A maioria das pessoas enojadas com as leis reacionárias e a corrupção representadas por Eduardo Cunha gostaria de vê-lo cair. O PT nada faz contra ele para manter os acordos espúrios de Dilma e Lula com ele, mas precisa de "alguém de fora" para assumir a bandeira "Fora Cunha". Lula e alas do PT falam contra os ajustes e "culpam" o ministro Levy, como se não fossem responsáveis pelos planos econômicos. Já fizeram esse "jogo" com o ministro Palocci (PT). Lula prefere dar o controle da economia ao seu amigo e ex-ministro Henrique Meirelles. Mas Lula não pode gritar "Fora Levy", precisa de "alguém" para levantar a bandeira. Esse "alguém" melhor seria se não aparecesse como parte integrante do PT.

O PSOL, que é visto por muitos como o único partido não envolvido na corrupção, defensor de reivindicações democráticas e progressistas, e contra os ajustes, se apresenta para empunhar essas bandeiras que os lulistas-petistas não podem bancar sozinhos. Assim, a direção do PSOL espera ganhar a simpatia e votos dos que odeiam o que Cunha representa e não aceitam os ajustes econômicos. Porém, ao se aliar ao PT o PSOL também presta um enorme serviço a Lula, Dilma e à "governabilidade" buscada pelos lulistas-petistas para continuar aplicando os ajustes e os planos capitalistas antipopulares, antioperários e entreguistas.

O PSOL assume, assim, o papel de "aliado fundamental" da operação de sustentação do governo Dilma e do PT, e do "Volta Lula". Repete, como farsa, o apoio dado no segundo turno de 2014. Farsa porque já ninguém se engana, pelos ajustes e fisiologismo, com o discurso de "mal menor".

Uma esquerda impotente para a luta de classes

Os setores da esquerda que estão em oposição ao governo não tem a política de unir todos os sindicatos e oposições sindicais opositoras e classistas e a juventude combativa para cercar de solidariedade os processos da luta de classes que surgiram em resistência aos ataques e coordená-los para impulsionar um grande movimento nacional de luta contra os ajustes que possa atrair setores que estão na base da CUT e outras centrais sindicais governistas ou patronais. As bases para uma política desse tipo são os trabalhadores que tem feito duras greves contra os ataques, como os ecetistas, os docentes e nas montadoras, assim como também na adesão às jornadas nacionais de protesto que foram controladas pelas direções.

Se o PSOL vinha apresentando seus limites e não respondia às necesidades da luta de classes, agora dá um salto em sua adaptação ao PT. Por sua vez, o PSTU, apesar de denunciar Dilma e Lula e não integrar essa Frente com o PT, defende a derrubada de Dilma sem haver por hoje um sujeito para esse objetivo, o que pode levá-los a se ligar a setores anti-Dilma pela direita, como foi a CGTB, com os quais o PSTU dizia estar construindo um “terceiro campo” pra manifestação do último 18/9 e que na última hora rompeu. Além disso, o PSTU fala contra o PT, mas se adapta ao modo petista e cutista de militar que não encara a luta de classes como “escolas de guerra”. Sem ter exemplos claros de batalhas contra os ajustes não se construirá a força social necessária para barra-los, não serão com discursos que os trabalhadores reconquistarão a confiança em suas próprias forças. A manifestação do dia 18 foi importante por ter reunido milhares contra o governo e a direita, mas o PSTU não rompe com sua lógica de se limitar a organizar atos e encontros que também são inofensivos contra os ajustes e segue sem dar sequer um exemplo na luta de classes concreta. Não dirige nenhuma luta de forma exemplar nem presta solidariedade efetiva onde não dirige, que seria a forma de influenciar as bases da CUT e outras centrais.

Seguimos nossa luta por um pólo para a luta de classes

O MRT, como parte da CSP Conlutas, seguirá denunciando tanto o papel do PT como amortizador da luta de classes quanto a oposição de direita. Seguimos nossa luta por um pólo da esquerda combativa e classista que apoie e coordene as lutas em curso e busque influenciar as bases das grandes centrais, questões essenciais para um movimento que possa verdadeiramente barrar os ajustes.

Essa será nossa batalha participando das manifestações convocadas pelo Espaço de Unidade de Ação previstas para outubro, sempre na perspectiva de que sirvam efetivamente para a luta de classes para além de atos pontuais.

Seguimos nossa luta por uma alternativa política dos trabalhadores independente do PT

Uma das políticas que votamos em nosso Congresso do MRT pedindo nosso ingresso como tendência interna do PSOL sempre teve como centro a luta contra o PT, defendendo nosso direito a levantar nossas posições classistas e revolucionárias. Nos propusemos a entrar no PSOL para batalhar por uma orientação revolucionária neste partido que é o que estava melhor localizado politicamente, devido a projeção de suas figuras públicas, para evitar que a crise do PT seja capitalizada pela direita. Para nós, essa orientação passa por um combate contra essas posições pró petistas que estão primando dentro do PSOL, como expressa a Frente Povo Sem Medo.

Além disso, as rupturas do seu único senador, Randolfe Rodrigues, e do seu único prefeito de capital, Clécio, deveriam levar a conclusões contrárias ao ingresso de oportunistas, mas a abertura de espaço para parlamentares que vem diretamente dos partidos burgueses é expressão de que se negam a tirar essa conclusão. Já entraram no PSOL Brizola Neto que foi da direção nacional de um partido (PDT) que apoiou e apoia até hoje o governo Dilma. Também tem entrado políticos oriundos do PSB, como Glauber Braga (de Nova Friburgo – RJ) que foi presidente estadual deste partido que sustentou o lulismo por mais de uma década.

Essas são políticas que o MRT se propõe a combater dentro ou fora do PSOL, como questões indispensáveis para que surja uma verdadeira alternativa política com peso de massas frente a crise do PT, que não pode ser ao mesmo tempo seu ponto de apoio.

 
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